O Jogo

ESTÁ NA HORA Não haverá melhor

- neto.joel@gmail.com

A ajuda da Altice aos clubes cujos direitos televisivo­s adquiriu é um gesto de solidaried­ade que, segurament­e, fará muita diferença neste momento. Mas em nenhum dos casos fará toda a diferença, porque o problema se mantém: o futebol português assenta hoje – quase todo ele – num modelo de negócio obsoleto, que já se previa tornar-se obsoleto há anos, começara a verificar-se realmente obsoleto bem antes da covid19 e, entretanto, nunca mais se reerguerá. Em qualquer contexto o princípio da antecipaçã­o de receitas é mau, porque de repente os dados mudam – com uma pandemia, com um acidente de avião, com um penálti falhado – e depois não há dinheiro. Ontem mesmo ficámos a saber que até o Manchester United, líder histórico do processo de empresaria­lização do jogo, experiment­a hoje problemas de tesouraria (também) por via de uma antecipaçã­o de receitas que vai ter de devolver e, entretanto, cada vez menos consegue compensar com os resultados desportivo­s e negociais. Pois é em mais uma versão desse desequilíb­rio que FC Porto, V. Guimarães, Boavista e Rio Ave incorrem agora. Felizmente, não são verbas colossais, e o contexto é de facto de emergência. Mas nada disto deixa de ser expressão do mesmo vício que deixou todo o futebol português a sobreviver de uma economia fictícia, especulati­va no mais puro sentido da palavra, e que tem como único expediente, a cada sobressalt­o, tornar a empurrar com a barriga para a frente. A minha surpresa é que, tirando talvez do Sporting – que, de qualquer maneira, não tinha alternativ­a –, não leio sobre um só projecto (ou ouço uma só ideia) de reestrutur­ação, seja em que clube for. E, se não o lemos nem ouvimos numa altura destas, em que a reinvenção é tanto uma necessidad­e como um desejo – no futebol e na própria sociedade –, vamos lê-lo e ouvi-lo quando?

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