O Jogo

Leirós propõe que Força Aérea transporte árbitros

Jorge Coroado e Fortunato Azevedo recordam viagens de avião com equipas

- MÓNICA SANTOS HUGO SOUSA

Especialis­tas do Tribunal O JOGO, outrora árbitros, contam que os voos com equipas podem ser tensos no regresso. Garantir que não fossem regra foi uma luta, mas também se fizeram amigos

Uma das regras estabeleci­das para a retoma da I Liga, a partir de 3 de junho, obriga as equipas que defrontam o Marítimo, nos Barreiros, a viajar em voo especial no qual seguirão, também, as equipas de arbitragem. Vitória de Setúbal, Gil Vicente, Benfica, Rio Ave e Famalicão, por esta ordem, partilharã­o a cabine com aqueles de cujas decisões poderão depender os objetivos da temporada, num campeonato que teima em estenderse para lá das quatro linhas, em desafios com orquestraç­ão mediática de teorias da conspiraçã­o com os árbitros como protagonis­tas ou meros alvos. Ex-árbitros, Jorge Coroado, Fortunato Azevedo e José Leirós coincidem na ideia de que esta prática não é a ideal, embora a aceitem à luz destes tempos atípicos devido à pandemia de covid-19. Não discutem a norma da Direção-Geral da Saúde, e o último atira uma alternativ­a: ser “a Força Aérea” a assegurar o transporte, “sabendo-se que já há estes serviços a nível médico, em emergência, transporte de órgãos”.Leirósacre­ditaque“não haverá problemas”. “Os jogos serão muito apoiados pelo VAR, sem grande pressão a nível de espectador­es, têm tudo para correr bem às equipas de arbitragem, para que a verdade desportiva saia vencedora. Mas, evitava-se este falatório”. É essa turbulênci­a exterior às viagens propriamen­te ditas que antecipa. De resto, dos voos para as ilhas em que coincidiu com equipas que ia apitar não guarda episódios marcantes. Já da experiênci­a de “aterrar no cockpit” tem excelentes memórias.“Naprimeira viagem a Porto Santo, era uma avioneta ao nível do mar; eu, o Paraty [já falecido] e o Paulo Costa aterrámos de pé, no cockpit, a tirar fotografia­s”.

Fortunato Azevedo deixa bem claro que não vê esta solução como ideal, mas não por causa dos protagonis­tas. Despreza, isso sim, os motores da turbulênci­a. De resto, é com uma voz alegre que, a caminho de uma jornada de fados, partilha um encontro marcante nas alturas: “Estava nomeado para um MarítimoSp­orting e houve seis ou sete horas de atraso, o que nos obrigou a viajar do Porto para a Madeira. Tive o prazer de conhecer o presidente do Sporting, Sousa Cintra, e foi um privilégio conhecer um grande homem, grande desportist­a, e até sentir o sofrimento de ser dirigente de futebol. Nunca o esquecerei”. A afinidade não começou aí, faz questão de lembrar: “Para que não haja dúvida: sou de Braga e sou o sócio 187 242 do Sporting. Nunca o escondi. Fui o primeiro árbitro a dizer publicamen­te qual era o meu clube: Braga, Braga, Braga, e depois o Sporting”.

Jorge Coroado subiu à primeira categoria em 1986. “Que me recorde, viajei para a

O custo de um charter ronda os 40 mil euros. Clubes ainda têm esperança de viajar em voos regulares. Falta convencer a DGS

Madeira no meu segundo ano com a equipa que ia arbitrar, mas,comoaindae­ranovo,eles nem sabiam quem ia ali”.

Nos voos de regresso, “bocas houve sempre”, quando “havia situações críticas” de jogo frescas na memória, mas tudo “de forma civilizada”. “Pior era na sala de embarque, atendendo aos adeptos que acompanhav­am as equipas”, ressalva o ex-árbitro lisboeta, cuja geração tratou de “pugnar” para que os árbitros viajassem “preferenci­almente de forma autónoma e em horários decentes”.

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