“Medalha punha-me ao lado de Rui e Sérgio”
CICLISMO Nelson Oliveira é um dos melhores contrarrelogistas portugueses de sempre e ainda quer ser feliz num Mundial ou nos Jogos
O bairradino de 31 anos, que está há cinco épocas na Movistar, detalha a O JOGO uma década de World Tour e revela o sonho de ainda surpreender os mais desatentos nas maiores clássicas de pavê
Tendo 31 anos, Nelson Oliveira corre há 11 em equipas de topo. Na espanhola Movistar é considerado um dos principais trabalhadores, mas também o mais forte contrarrelogista. A O JOGO, um dos melhores ciclistas nacionais da década falou da sua carreira.
Lançou-se pelos contrarrelógios e neles tem feito carreira. Achou que seria a sua maior valia?
—EmPortugalganhavaoscontrarrelógios. Não sabia como seria mundialmente, mas sentia que estava bem entre especialistas. Saltei para a Xacobeo Galicia em 2010 porque em 2009 fui prata no Mundial de sub-23.
De 2011 a 2013 esteve na Radioshack. Melhorou aí os contrarrelógios?
—Não, sinceramente. Fui quarto numa etapa da Volta à
Suíça, mas nem o Fabio Cancellara me via como um ajudante à séria. Fiz uma Volta a Itália a trabalhar para o Frank Schleck e nessa passagem foram fundamentais os portugueses da equipa, como José Azevedo, Sérgio Paulinho e Tiago Machado.
Estreou-se no ParisRoubaix em 2011 e a partir de 2015 tornou-se assíduo. Porquê?
—Em 2015 pedi para não ir ao País Basco. Queria ir às corridas de pavê. Tive mais voz depois de ganhar o Nacional de estrada. Não tínhamos ciclistas indicados e a equipa aceitou. Fiz 20.º na Volta a Flandres, a minha primeira,eatrabalharparaoPozzato. Gosto daquelas subidas, adaptam-seamimeseiqueacolocação é chave, por ser uma corrida de eliminação. Nessa alturasonheicomumtop10num desses dois Monumentos.
E nesse ano conseguiu a vitória mais emblemática da carreira, a etapa na Volta a Espanha...
—Fiz o Tour e levei o Rui Costa nas montanhas. E depois ganhei a etapa na Vuelta. Custou-me entrar na fuga, formou-se um grupo grande e numa montanha curta ataquei. Não foi só por ganhar que foi bonito, mas por ter feito 30 quilómetros sozinho. Foi o contrarrelógio da minha vida! Essa etapa não mudou o futuro, pois já tinha mais ou menos acertado com a Movistar. Ainda assim, será talvez a mais emblemática, podendo também referir aquela dupla conquista nos Nacionais de 2014, que foi histórica na altura.
Nos Mundiais de 2017 ficou a sete segundos do bronze de Froome no contrarrelógio. Foi a maior dor da carreira não ter conseguido a medalha?
—Posso dizer que quebrar uma clavícula em Roubaix, quando me sentia forte, foi dos piores momentos. Ainda assim, esse dia mostrou que prefiro os contrarrelógios mais longos, como esse de Bergen, daí o quarto lugar.Éumsonhomeuconseguir uma medalha num Mundial.
E o que lhe falta ganhar?
—Gostava de ganhar um Monumento. Ficaria satisfeito para sempre, pois sou apaixonado pelo Paris-Roubaix, onde desisti três vezes seguidas. Fui 18.º na Volta a Flandres de 2017 e depois estive a trabalhar para o Valverde, mas a equipa não tem, habitualmente, um líder para essas clássicas. Isso abreme a possibilidade. Agora, claro, ser campeão do mundo é um sonho.
Além de ser o mais conhecido cidadão de Anadia, pensa que será recordado como um dos grandes do ciclismo português?
—Nem sei se sou o mais famoso de Anadia [risos]. Sou discreto. Espero, sim, que quando falarem de contrarrelógios se lembrem do Nelson. É por aí que serei conhecido. O Joaquim Agostinho está num outro patamar, mas sinto que tenho sido um dos melhores. Uma medalha num Mundial ou nos Jogos Olímpicos colocava-me ao lado do Rui Costa ou do Sérgio Paulinho.
O percurso dos próximos Jogos Olímpicos, em Tóquio, favorece-o?
—Ainda há a questão de se colar ao Tour’2021, porque são corridas que quero sempre fazer, tal como a equipa. Isso terá de ser resolvido , mas esse contrarrelógio adapta-se às minhas características. A humidade vai afetar e a prova de estrada será dura.
Nelson Oliveira aguarda pela decisão da UCI em relação aos Mundiais. O percurso ondulante da Suíça beneficiaria o corredor de Anadia. Se mudar para o Catar, uma solução já apontada, dará más memórias: teve em 2016 o pior resultado (20.º)
“Esse dia mostrou que prefiro os contrarrelógios mais longos, como esse no Mundial de Bergen [2017], daí o quarto lugar. É um sonho meu conseguir uma medalha num Mundial”
“Nem sei se sou o mais famoso de Anadia! Sou discreto. Espero, sim, que quando falarem de contrarrelógios se lembrem do Nelson. O Joaquim Agostinho está num outro patamar, mas sinto que tenho sido um dos melhores”
“Gostava de ganhar um Monumento. Ficaria satisfeito para sempre, pois sou apaixonado pelo ParisRoubaix”
Nelson Oliveira
Movistar