O Jogo

JOSÉ FERNANDO RIO

“Direção é incapaz de se reinventar” VISÃO Candidato da Lista C lamenta, em O JOGO, que o elenco de Pinto da Costa pouco tenha mudado. “Não estava iludido”, confessa

- BRUNO FILIPE MONTEIRO

Jurista de 51 anos questiona promessa de construção da “Cidade do FC Porto” feita pela Lista A, quando “nem uma simples academia conseguira­m”. Travar o endividame­nto é fundamenta­l, aponta

José Fernando Rio assume-se, nesta entrevista a O JOGO, como o candidato antissiste­ma, acusa os rivais de lhe copiarem as ideias, alerta para os problemas financeiro­s do clube, apresenta soluções e revela qual será a primeira medida que tomará se for eleito presidente no dia 7 de junho.

Qual é o seu maior adversário nestas eleições: Pinto da Costa ou a dívida de gratidão dos sócios de que fala na sua proposta?

—O meu grande adversário é Pinto da Costa. É o poder instalado e eu sou o candidato antissiste­ma. A minha primeira luta é pelo FC Porto, mas depois iniciarei outra pela melhoria do futebol português.

Após 38 anos de liderança de Pinto da Costa, teme que os associados possam sentir medo da mudança?

—Sim, isso pode acontecer e é natural. Mas os sócios têm de compreende­r que o FC Porto está num momento decisivo para o seu futuro. Tem contas muito negativas, um passivo acumulado gigantesco, já quase ingerível, e está em situação de falência técnica. Ao fim de 38 anos, infelizmen­te, é este o legado que Pinto da Costa deixa. É verdade que foi o presidente mais vitorioso de sempre do futebol português e mundial, mas a realidade é que o estado do clube e do futebol é pior do que há quatro anos e, se calhar, do que há 38 anos. Os sócios do FC Porto têm essa dívida de gratidão a Pinto da Costa, mas é o momento da mudança. Se estas pessoas, que estão lá há 38 anos, mas, particular­mente nos últimos quatro, não conseguira­m dar a volta à situação, não terão capacidade para dar nos próximos quatro.

As mexidas feitas por Pinto da Costa no elenco diretivo foram as que esperava?

—Confirmam as minhas piores expectativ­as. Não sendo uma desilusão, porque não estava iludido, verifica-se que a atual Direção e Pinto da Costa já não têm capacidade de se renovar e de se reinventar. Fezse passar a ideia de que haveria uma grande renovação, que nunca acreditei, mas temos pessoas que mudam de cargo ou de órgão, passando da SAD para a Direção ou do Conselho Superior para a Assembleia Geral. O círculo à volta desta Direção é cada vez mais pequeno, o clube está cada vez mais fechado sobre si e mantém os rostos que o trouxeram até à atual situação.

As três listas têm ideias semelhante­s. Por que deve ser o eleito dos sócios?

—É uma pergunta curiosa, porque fui o primeiro a apresentar o programa e vejo que todos os meus opositores se inspiraram nele. Eu quero o que a maior parte dos portistas quer: uma equipa de futebol competitiv­a, para ganhar todas as provas em que entra; um clube de contas equilibrad­as, porque sem elas não há possibilid­ade de fazer investimen­tos em infraestru­turas e na competitiv­idade das equipas; e uma aposta na formação, porque o futuro passa pelo aproveitam­ento dos talentos e, no futuro, obtenção demais valias coma sua venda. Mas, para isso, é necessário dar-lhes condições de serem os melhores. O FC Porto está atrás do Benfica, do Sporting, mesmo do Braga, que tem condições na sua academia muito superiores, e isso é impensável. O projeto da academia, que foi prometido há quatro anos, está na gaveta. Não basta dizer agora que se quer construir a Cidade do FC Porto, quando nem sequer se consegue construir uma simples academia. Os meus opositores fizeram

JOSÉ FERNANDO RIO “O estado do clube e do futebol é pior do que há quatro e, se calhar, há 38 anos”

bem o trabalho de casa, estudaram as ideias, mas copiá-las parece-me demais.

Face às dificuldad­es de tesouraria, como arranjará verbas para a construção das academias que propõe (futebol e modalidade­s)?

—O FC Porto passa por dificuldad­es, mas ainda não fechou portas. Portanto, tem de ter a capacidade de ir aos mercados, de ter ideias inovadoras que consigam dar a volta à situação e permitam ao clube continuar a investir. O clube não pode gastar zero, ou acabaria por desaparece­r. E há várias maneiras de financiar a academia de futebol. Pode ser com fundos próprios, através da criação de um fundo com percentage­ns de passes de atletas da formação e, quando eles forem vendidos, uma parte do passe servir para pagar a academia. É um projeto para o imediato, mas o seu pagamento pode ser ao longo de vários anos. Seria uma maneira de o

FC Porto, sem aumentar o seu endividame­nto, obter o dinheiro de que precisa.

Mas nas modalidade­s não há verbas tão avultadas…

—Pode utilizar parte da mesma ideia. Esta academia pode ter uma vertente mais social, tendo o apoio da autarquia da cidade ou das autarquias à volta do Porto. Pode ser estabeleci­da uma forte parceria através da cedência de terrenos ou outras vertentes. É por aí. Neste momento, o FC Porto tem apenas o Dragão Arena, que já não serve para todas as modalidade­s. Há equipas que treinam e jogam com a casa às costas e é fundamenta­l oferecerlh­es condições. O FC Porto não pode virar as costas aos adeptos e associados dizendo para irem praticar desporto para outro clube. O ecletismo é fundamenta­l para o FC Porto, que, hoje em dia, tem menos modalidade­s e infraestru­turas do que tinha antes de Pinto da Costa tomar posse.

“Não basta dizer agora que se quer construir a Cidade do FC Porto, quando nem se sequer se consegue construir um simples academia”

“Se estas pessoas, que estão lá há 38 anos, não deram a volta à situação, não terão capacidade para a dar nos próximos quatro”

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Rio foi o primeiro a assumir-se como concorrent­e de Pinto da Costa nesta eleição

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