O Jogo

Uma época “intermináv­el”

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Oplano de jogo inicial e a reação ao jogo real. Nessas diferentes perspetiva­s para o mesmo jogo, foi a maior capacidade nessa “dupla-resposta” que marcou, na fase decisiva, a diferença entre Conceição e Lage.

O FC Porto ganhou com a clareza das melhores ideias e destreza para as mudar no jogo, num modelo “essencialm­ente físico” em que um dos fatores tático-individuai­s mais impression­antes foi a disponibil­idade de Marega para o recuo na transição defensiva. Ao mesmo tempo, Lage bloqueara na ideia tática anterior e procurava “clonar” jogadores para um 4x2x3x1 que sem João Félix, nunca encontrou um segundo avançado para a sua fórmula de jogo imutável. Rafa foi quem mais se aproximou dessa “clonagem” mas sem criar consistênc­ia de princípios de jogo.

Outra forma de perceber como é estéril a questão de saber quem está primeiro, se o sistema ou os jogadores, ficou expressa na mudança de eficácia da mesma ideia sentida por Amorim do Braga para o Sporting. Com igual sistema, nunca atingiu em Alvalade o mesmo nível e resultados. Porquê? Simples, porque nem sistema nem jogadores estão em primeiro. Ambos têm de surgir simultanea­mente, em interligaç­ão de caracterís­ticas individuai­s e ideias coletivas.

Numa visão mais tática-romântica, o Rio Ave de Carvalhal e o Famalicão de João Pedro Sousa foram os meus “campeões das ideias de jogo”, pela forma apoiada de respeito pela bola, assumindo bloco subido em pressão construtiv­a e posse. O Vitória de Ivo Vieira tinha, conceptual­mente, uma boa ideia de jogo mas nunca consegui criar rotinas no meio-campo e mudou constante o onze-base.

Gostei da coerência qualitativ­a do Santa Clara de João Henriques, num campeonato onde coexistiu o permanente “pica-miolos” de Vítor Oliveira, que nunca deixou cair a consciênci­a da realidade do seu Gil, e no qual o Boavista acabou a época a procurar a consistênc­ia duma ideia.

Um campeonato longo e “intermináv­el” como nunca tínhamos sonhado (ver ou jogar). A visão dos estádios vazios furou o coração do futebol.

Rio Ave de Carvalhal e Famalicão de João Pedro Sousa, os “campeões das melhores ideias de jogo”

A importânci­a de saber quando mexer nos sistemas para evitar a “cristaliza­ção” dos modelos de jogo

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