Os adeptos são tóxicos
O mal nos programas da SIC e da TVI não são os adeptos, são os escroques. Mas serão os adeptos a ser silenciados
Nos últimos anos, tornaram-se comuns os escroques com tempo de antena. Com mágica facilidade, chegaram aos noticiários figuras do submundo do futebol, vindas da obscuridade das comissões de transferências ou das notícias falsas, algumas já condenadas por crimes elegantes como o proxenetismo, outras suspeitas de viciarem resultados. Foram elas de quem me lembrei quando li as notícias de que a SIC e (alegadamente) a TVI vão acabar com os programas de tertúlia futebolística, para os entregar (no primeiro caso) a “jornalistas e comentadores”. Imagino que as audiências já não compensassem as dúvidas que esses programas criavam no público a respeito do jornalismo que se pratica nas duas estações. Mas a conclusão fria e racional é que, no futebol, até os escroques têm mais voz do que os adeptos. E que os adeptos também podem ser escroques, naturalmente, porque houve escroques envolvidos no processo de deterioração do modelo ao longo, talvez, dos últimos dez anos. A SIC fala em níveis de “toxicidade”, mas o termo é complexo. Haverá alguma forma de dar voz ao coração dos adeptos que não seja tóxica? E a alternativa justa será calá-los? Os adeptos genuínos não eram o problema nestes programas. Os problemas eram a falta de moderação adequada (dentro e fora) e as administrações dos clubes, que subtraíram aquele espaço aos adeptos, abusando da paixão de alguns para os convencer de que deviam ser soldados dos presidentes (não do clube, lamento desfazer a ilusão). Outros foram simplesmente lá colocados como tumores para espalhar pus e doença, ou então para seguirem evidentíssimas agendas pessoais. As estações não os afastaram porque não quiseram. E os tumores encontrarão outros caminhos. Os adeptos não.