O Jogo

Os adeptos são tóxicos

O mal nos programas da SIC e da TVI não são os adeptos, são os escroques. Mas serão os adeptos a ser silenciado­s

- José Manuel Ribeiro jm.ribeiro@ojogo.pt

Nos últimos anos, tornaram-se comuns os escroques com tempo de antena. Com mágica facilidade, chegaram aos noticiário­s figuras do submundo do futebol, vindas da obscuridad­e das comissões de transferên­cias ou das notícias falsas, algumas já condenadas por crimes elegantes como o proxenetis­mo, outras suspeitas de viciarem resultados. Foram elas de quem me lembrei quando li as notícias de que a SIC e (alegadamen­te) a TVI vão acabar com os programas de tertúlia futebolíst­ica, para os entregar (no primeiro caso) a “jornalista­s e comentador­es”. Imagino que as audiências já não compensass­em as dúvidas que esses programas criavam no público a respeito do jornalismo que se pratica nas duas estações. Mas a conclusão fria e racional é que, no futebol, até os escroques têm mais voz do que os adeptos. E que os adeptos também podem ser escroques, naturalmen­te, porque houve escroques envolvidos no processo de deterioraç­ão do modelo ao longo, talvez, dos últimos dez anos. A SIC fala em níveis de “toxicidade”, mas o termo é complexo. Haverá alguma forma de dar voz ao coração dos adeptos que não seja tóxica? E a alternativ­a justa será calá-los? Os adeptos genuínos não eram o problema nestes programas. Os problemas eram a falta de moderação adequada (dentro e fora) e as administra­ções dos clubes, que subtraíram aquele espaço aos adeptos, abusando da paixão de alguns para os convencer de que deviam ser soldados dos presidente­s (não do clube, lamento desfazer a ilusão). Outros foram simplesmen­te lá colocados como tumores para espalhar pus e doença, ou então para seguirem evidentíss­imas agendas pessoais. As estações não os afastaram porque não quiseram. E os tumores encontrarã­o outros caminhos. Os adeptos não.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal