O Jogo

DANIEL RAMOS “Acho que ganhei o de safio”

MUDANÇA Saída do Boavista foi algo estranha, faltou uma conversa que estava prometida pelo presidente, mas o caminho agora é outro. Trata-se de um regresso aos Açores, onde é muito querido

- CARLOS PEREIRA SANTOS

Aos 49 anos, Daniel Ramos volta aos Açores, para um novo projeto na I liga. Para trás, deixou o Boavista e um trabalho muito meritório. Subiu a pulso na carreira e quer chegar muito longe

Daniel Ramos, ou melhor dr. Daniel Ramos, porque o novo treinador do Santa Clara é formado em Gestão do Desporto, acaba de fazer um percurso no Boavista que lhe permitiu realizar um campeonato tranquilo. Saiu com a certeza do dever cumprido, mas deixa escapar algumas palavras que refletem estranheza pelo facto de não lhe terem dito que não ia continuar e até por terem começado a falar na sua substituiç­ão quando a permanênci­a nem estava garantida. Esperamos que seja um prazer para o leitor ler esta longa conversa que O JOGO teve com o vila-condense.

O Boavista alguma vez jogou segundo aquilo que você idealiza para uma equipa de futebol?

Aconteceup­rincipalme­ntedepois da retoma, em alguns jogos. A equipa revelou um enorme cresciment­o, transfigur­ámo-nos para muito melhor. Aproveitám­os bem a paragem. Naparteini­cial,quandocheg­ámos, não conseguimo­s fazer o que queríamos, os resultados não ajudaram e perdeu-se a confiança. Na paragem, trabalhámo­s a parte mental muito bem. Os resultados tiveram de ser a prioridade. —

Para si e para o grupo, a paragem acabou por ser muito boa...

— Foi mau, claro, porque estamos a falar de uma tragédia mundial, mas para o nosso trabalho acabou por ser positivo. Permitiu-nos uma pré-época, um assimilar de ideias, a equipa respondeu muito bem e foi possível mudarmos para muito melhor. Nas dez jornadas que faltavam fizemos bons jogos, com alguma intermitên­cia, mas a maioria deles com qualidade. Não foi na plenitude o futebol com que me identifico, porque ainda havia muito para crescer... A equipa teve uma grande evolução, embora

sem chegar onde queria.

Sim, fizeram grandes jogos, como com o Moreirense, e que até perderam...

—Sim, nesse jogo até dei os parabéns aos jogadores no final, porque foi daqueles jogos em que vamos para casa e chegamos à conclusão que fizemos tudo bem.

E conseguiu limpar aquela imagem que o Boavista tem para algumas pessoas, de ser uma equipa de caceteiros...

—O Boavista não pode nunca

perder o facto de ser uma equipa de raça, há muitas pessoas que conectam o Boavista com algo diferente disso. Isso é que não é bom. O Boavista não pode perder o seu ADN, mas pode aliar a isso uma qualidade de jogo que pode ser melhorada. Aliás, esse foi o caminho que imaginei quando fui para o Boavista, manter o ADN e montar uma equipa organizada e com qualidade. Ter um jogo ofensivo atraente. Sabia que era um desafio difícil, porque ia romper com muito do que estava interioriz­ado pelo grupo. Havia uma grande diferença entre a ideia de jogo que eu tinha e a que existia. Acho que ganhei o desafio.

Pensa que os adeptos ficaram contentes consigo

e com o seu trabalho?

—Nem sempre os resultados ajudaram e os adeptos, em todos os clubes, olham muito para os resultados, é por aí que classifica­m um bom ou um mau treinador, um bom ou mau jogador. Mas acho que eles perceberam que com poucos ovos conseguimo­s fazer boas omeletes e de qualidade. Acho que olharam para isso. E nunca me ouviram a queixar; foi aquilo que me foi dado, foi aquilo que o Boavista podia dar. Julgo que os adeptos perceberam isso. Passámos por adversidad­es, as pessoas do piso 1, que era o que ocupávamos, estão bem no alto. Não havia nenhum eu, era sempre nós. A estrutura deu-nos todo o apoio possível.

“Foi estranho o que aconteceu. Um dia vou falar com o presidente para tentar perceber o que se passou” “Procurei manter o ADN do Boavista e montar uma equipa organizada” “A equipa, depois da retoma, teve uma grande evolução, embora sem chegar onde eu queria” “Os adeptos do Boavista perceberam que com poucos ovos conseguimo­s fazer boas omeletes e de boa qualidade” “Não sei de onde saíram as notícias do novo treinador. Para mim foi um grande mistério”

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