“É mais difícil ser treinador”
Olhando para o presente, Daniel Ramos lamenta que se troque tão facilmente de comando
Treinador subiu a pulso na carreira, mas respeita quem chega depressa a um clube grande sem ter trabalho feito. “Uma oportunidade dessas é sempre de agarrar. Também gostava”
Começou como treinador adjunto, por acidente, na III Divisão e bem se pode dizer que subiu a pulso, passando por todas as divisões. “Era futebolista, lesionei-me e fui estudar, fiz o curso de Gestão de Desporto no ISMAI. Apaixonei-me pelo treino e foramme dando oportunidades. Comecei a gostar cada vez mais disto. Nada me foi dado de mão beijada e tenho orgulho porque fui conquistando o meu espaço.”
Daniel Ramos começou nesta vida com 31 anos, depois do Vilanovense treinou Dragões Sandinenses, Chaves, Trofense, Naval, Moreirense, U. Madeira, Vizela, Famalicão (três épocas), Santa Clara, Marítimo, Rio Ave, Boavista. “Fui evoluindo, já cheguei à Liga
Europa, agora quero chegar à Liga dos Campeões, hei de lá chegar um dia. Nunca pisei ninguém pelo caminho”.
Hoje, chega-se à I Liga mais depressa. E a clubes grandes, como Rúben Amorim, por exemplo. Daniel Ramos comenta: “Não tenho nada contra. Acaba por ser o sistema. Há uns anos não acontecia isto, e se calhar gostava de ter essa oportunidade como alguns têm. E quem a tem só tem mesmo de a agarrar.”
Daniel Ramos deixa bem claro que a qualidade de quem tem essas oportunidades “não está em causa, mas para quem fez um percurso degrau a degrau, fica estranho”. “Estão a aparecer treinadores sem grandes trabalhos por trás, mas que demonstraram mérito como jogadores ou nas equipas de formação. Respeito isso.”
O treinador conta que fez uminvestimentonelepróprio ao longo dos anos, “no conhecimento do futebol, do treino. Levei umas pauladas pelo caminho,maslevantei-mesempre. Há cerca de 20 anos que sou treinador e consegui sempre levantar-me”.
Há outra coisa que o orgulha: “Deixei portas abertas em todos os clubes por onde passei. Hoje, há pouca paciência com os treinadores. O futebol está a mudar, sabemos que hoje acontecem mudanças de treinadores com uma facilidade desagradável. Tem a ver com investidores e com uma mudança de paradigma no futebol-indústria.”
Ao cabo deste tempo, Daniel Ramos tira uma conclusão: “Está mais difícil ser treinador em Portugal, porque não há paciência.”
“Já cheguei à Liga Europa, agora quero chegar à Liga dos Campeões, hei de lá chegar”