Ligue já e amanhã vai jogar o triplo
Jesus e o Benfica de Vieira, juntos, são o melhor programa de televendas desde a invenção do tupperware
Os dotes de vendedor são o grande talento por reconhecer em Jorge Jesus e, também, a arma mais potente do Benfica de Luís Filipe Vieira. Somados, constituem o melhor programa de televendas desde a invenção do tupperware. O Benfica vendeu ontem o treinador como jamais se vira acontecer neste país (até por muito bons motivos) e Jesus pôs a rolar a onda imparável do futebol a triplicar que fará a sua equipa jogar inequivocamente bem mesmo quando jogar inequivocamente mal. Se tivessem aproveitado a deixa para pôr um número de telefone no ecrã e vender uns grelhadores George Foreman, fariam uma fortuna. Estou a dar gás à ironia, mas não no sentido em que alguns pensarão: a grande força deste Benfica é a capacidade implantada para vender a sua imagem e a dos adversários. Por exemplo, graças a “fontes” citadas por vários canais de televisão e à constituição dos painéis de analistas (ajuda que sejam todos isentos para o mesmo lado, claro), a imagem que sobressaiu do FC Porto, no fim de semana, foi mais a de um grupo de zaragateiros do que a de um vencedor total. Não escapou ninguém. Dois dias depois de perder, contra dez, a oitava competição interna das nove que jogou em três anos, o Benfica tem de volta o prestígio, não só intacto como ampliado à escala continental. E Jesus convence. A aura de um treinador já é meio caminho andado e ele, que a tinha deixado desvanecer no Sporting, multiplicou-a por dez no Flamengo. A equipa do Benfica caminhará, literalmente, descalça sobre carvão em brasa se ele disser que funciona. E quando a bola estorvar (porque convém lembrar que o “futebol a dobrar” de 2009/10 ganhou o campeonato ao Braga no limite) Jesus acionará a sua inabalável convicção para nos mostrar que aquele jogo duvidoso foi, afinal, ainda mais extraordinário do que os anteriores. Sérgio Conceição não é capaz disso.