O Jogo

Lembram-se da chegada de Vaná?

- Paulo Baldaia

Aguento mais facilmente a bazófia de Jesus, a dizer que vai arrasar, que ver partir os craques da formação azul e branca

No ano em que Sérgio Conceição chegou ao Futebol Clube do Porto como treinador, o clube estava limitado pelo fair-play financeiro da UEFA e a única contrataçã­o possível foi a de Vaná, por um milhão de euros. A equipa acabaria, no entanto, reforçada com o regresso de vários jogadores que estavam emprestado­s. Nessa mesma época, Jorge Jesus estava no terceiro ano como treinador do Sporting e, para além de já contar com jogadores como Rui Patrício, William Carvalho, Coates, Adrien Silva ou Bas Dost, ainda foi contratar Bruno Fernandes, Acuña, Wendel, Battaglia, Doumbia, Coentrão, Jérémy Mathieu, entre muitos outros. A história toda a gente a conhece, o FCP acabaria campeão nacional e o Sporting em terceiro lugar.

Trouxe Vaná ao título desta crónica e a época em que ele foi a única contrataçã­o do F CP paralembr arque nãoéo dinheiro que se gasta que faz campeões. Bem sabemos que taxa de bazófia sobe sempre a níveis nada aconselháv­eis entre os adeptos das equipas treinadas por Jorge Jesus, mais ainda quando a equipa é o Benfica. Nestas alturas, a esmagadora maioria do jornalismo e do comentaria­do desportivo entra em êxtase. A memória selectiva não lhes permite recordar que em nove anos à frente de equipas que lutam pelo título, Jesus venceu apenas três. Sem os mesmos recursos, com equipas que o mesmo comentaria­do considera fracas, Sérgio Conceição foi campeão duas vezes em três possíveis. Teria sido três em três, se tivesse havido verdade desportiva.

Voltamos a Vaná, jogador de bons presságios e que pode voltar a ser emprestado ou mesmo sair em definitivo do FCP, num plantel onde já estão Diogo Costa e Marchesín e onde pode chegar Cláudio Ramos, em mais uma época em que vai vigorar o fair-play financeiro. Não tendo conseguido cumprir tudo o que tinha acordado com a UEFA, muito por causa da Covid 19, mas não só, o FCP livrou-se de castigos mais severos, mas as restrições mantêm-se. Eé aqui que a porca torce o rabo, porque havendo necessidad­e de saldar com resultados muito positivos a compra e venda de direitos desportivo­s, o mais apetecível para o mercado é igualmente o mais apetecível para os adeptos. Dizem que estão muito perto de nos levar Diogo Leite e Fábio Silva por 60 milhões. Sei que é dinheiro que faz falta, mas até podiam ser 80 ou 100 milhões, começa a desfazerse o sonho que tinha de ser campeão nacional maioritari­amente com portistas que antes de chegarem à equipa principal souberam transcende­r-se e ganhar a Youth League.

Começo a sentir o meu coração de adepto a congelar. Invade-me uma certa tristeza ao confirmar o que parecia ser inevitável.

Aguento mais facilmente a bazófia de Jesus, a dizer que vai arrasar, que ver partir os craques da formação azul e branca. Bem sei que aqueles que chegaram, que vieram de outras paragens e de outras formações, mostraram esta época não ter menos ADN portista nas veias que todos os outros que nasceram para o futebol como jogadores e adeptos do FCP. Mas isso é agora, que temos Sérgio Conceição aos comandos, com o apoio total de Jorge Nuno Pinto da Costa, a mostrar minuto a minuto o que é ser portista.

Voltemos a cerrar fileiras. Juntos venceremos, mas parem lá, por favor, de vender os campeões europeus. Os grandes reforços para mais um ano em que, graças à UEFA, não podemos andar feitos malucos às compras, são estes jovens. A maioria deles até já sabe o que é ganhar uma dobradinha. Há uns quantos jogadores que gostavam de sair, estão no auge da sua carreira, anseiam por ganhar mais dinheiro e estão no seu direito. Deixá-los ir. Estamos muito agradecido­s por tudo o que fizeram. A mim, apeteceme sonhar. É um sonho repetido, já a parecer uma birra de adepto, acredito que podemos um dia voltar a ser campeões com a prata da casa.

Até lá, nunca é de mais agradecer: Obrigado ao Presidente, ao treinador, aos jogadores, a todo o staff. Esta foi a dobradinha mais saborosa que nos podiam oferecer.

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