O Jogo

I-Voting, polígrafos e... afins

- Samuel Almeida

1A Direção do Sporting fez saber publicamen­te ter recebido as conclusões da Comissão criada para analisar a introdução do i-voting. De igual modo, foi publicado no “Sporting” um longo artigo sobre as virtualida­des deste sistema, apontando-se exemplos da Estónia e de Ontário para justificar a introdução deste modelo de votação. Serei bem claro sobre este tema.

2Antes de mais, mandariam as regras de transparên­cia e, diria mesmo respeito pelos sócios do clube, que os órgãos sociais – Direção e MAG – anunciasse­m a composição da dita Comissão e depois disponibil­izassem aos sócios umacó piadas conclusões.O tema do i-vo tingsusci ta diversas reservas em termos de segurança e integridad­e dos sistemas, o que justifica a máxima transparên­cia nos trabalhos que sustentam a proposta da sua introdução. Sem essa transparên­cia, serão legítimas as críticas sobre falta de informação e sustentaçã­o técnica da proposta a formular por estes OS.

3Como será fácil de entender, o exemplo da Estónia não descansa ninguém, pois aquele EM da EU introduziu este sistema de votação em 2005, e passados 15 anos mais nenhum parceiro na União aderiu ao mesmo, nem se conhecem outros exemplos de adoção generaliza­da por entidades públicas (com exceção de alguns Estados nos EUA e Canadá). E a razão de ser de tal resistênci­a – quando é evidente a vantagem da maior facilidade de acesso e democratiz­ação do processo eleitoral – reside precisamen­te na falta de garantias sobre a inviolabil­idade e integridad­e do sistema de i-voting, o qual continua permeável a ataques externos e riscos de viciação. Afirmar sem mais, como se faz no jornal do clube, que o sistema será entregue a uma entidade externa independen­te a quem caberá assegurar a integridad­e do sistema é de uma enorme leviandade. Esta não é a forma de tratar de um assunto tão sensível e mostra (uma vez mais) como se trabalha (mal) em Alvalade.

4Chegados aqui, é legítimo interrogar­nos os motivos de tanto afã na introdução do ivoting. Fala-se na democratiz­ação do clube e reforço da legitimida­de das decisões adotadas pelos sócios. Mas não seria esse mesmo reforço de legitimida­de que justificar­ia a introdução da segunda volta e exigência de maioria absoluta na eleição dos OS? De que tem medo Varandas? Estará apostado na divisão para vencer no meio dos destroços do clube? E será que não poderíamos por começar por introduzir o voto em urna descentral­izado nos núcleos do clube? Núcleos, esses, que têm sido sucessivam­ente desprezado­s pelas direções dos clubes, sem voz e limitados a um jogo anual em Alvalade. E se a preocupaçã­o é a democratic­idade do nosso clube, é hora de iniciar uma discussão serena sobre o número de votos a atribuir em função da antiguidad­e, reduzindo o gap existente.

5Não entendo este autismo que grassa em Alvalade. Num clube que não vence o campeonato há 18 anos, que ficou em 4º lugar no campeonato com um registo recorde de derrotas, como é possível que a energia esteja focada no i-voting? Que tal dar uma explicação séria aos sócios sobre o que correu mal e o que se pensa fazer para que uma época destas não volte a suceder? Já chega de falar em Alcochete, da herança e do COVID. Mais do que desculpas, exigimos soluções a quem se apresentou a escrutínio como profundo conhecedor do clube.

6André Bernardo veio falar do valor do plantel do clube. E mistura valores de balanço com valores de mercado. No meu último artigo reportei a diminuição do valor contabilís­tico do plantel, fruto da política desportiva seguida com os resultados que se sabem. Hoje temos um plantel desvaloriz­ado, vendemos 150M em ativos e gastamos 70M, dos quais poucos atletas trarão efetivas mais-valias. Aliás, os jogadores mais vendáveis do plantel são alguns jovens, assim como Acuña e Wendel. André Bernardo pode falar do COVID, mas não foi o COVID que contratou Ilori, Eduardo, Doumbia, Renan ou Rosier. E é sobre essas escolhas – muitas delas para descartar por Ruben Amorim – que André Bernardo deveria dar explicaçõe­s no seu polígrafo. Depois de Alcochete, depois da herança, agora temos o COVID. Só não temos é competênci­a e transparên­cia em Alvalade.

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