I-Voting, polígrafos e... afins
1A Direção do Sporting fez saber publicamente ter recebido as conclusões da Comissão criada para analisar a introdução do i-voting. De igual modo, foi publicado no “Sporting” um longo artigo sobre as virtualidades deste sistema, apontando-se exemplos da Estónia e de Ontário para justificar a introdução deste modelo de votação. Serei bem claro sobre este tema.
2Antes de mais, mandariam as regras de transparência e, diria mesmo respeito pelos sócios do clube, que os órgãos sociais – Direção e MAG – anunciassem a composição da dita Comissão e depois disponibilizassem aos sócios umacó piadas conclusões.O tema do i-vo tingsusci ta diversas reservas em termos de segurança e integridade dos sistemas, o que justifica a máxima transparência nos trabalhos que sustentam a proposta da sua introdução. Sem essa transparência, serão legítimas as críticas sobre falta de informação e sustentação técnica da proposta a formular por estes OS.
3Como será fácil de entender, o exemplo da Estónia não descansa ninguém, pois aquele EM da EU introduziu este sistema de votação em 2005, e passados 15 anos mais nenhum parceiro na União aderiu ao mesmo, nem se conhecem outros exemplos de adoção generalizada por entidades públicas (com exceção de alguns Estados nos EUA e Canadá). E a razão de ser de tal resistência – quando é evidente a vantagem da maior facilidade de acesso e democratização do processo eleitoral – reside precisamente na falta de garantias sobre a inviolabilidade e integridade do sistema de i-voting, o qual continua permeável a ataques externos e riscos de viciação. Afirmar sem mais, como se faz no jornal do clube, que o sistema será entregue a uma entidade externa independente a quem caberá assegurar a integridade do sistema é de uma enorme leviandade. Esta não é a forma de tratar de um assunto tão sensível e mostra (uma vez mais) como se trabalha (mal) em Alvalade.
4Chegados aqui, é legítimo interrogarnos os motivos de tanto afã na introdução do ivoting. Fala-se na democratização do clube e reforço da legitimidade das decisões adotadas pelos sócios. Mas não seria esse mesmo reforço de legitimidade que justificaria a introdução da segunda volta e exigência de maioria absoluta na eleição dos OS? De que tem medo Varandas? Estará apostado na divisão para vencer no meio dos destroços do clube? E será que não poderíamos por começar por introduzir o voto em urna descentralizado nos núcleos do clube? Núcleos, esses, que têm sido sucessivamente desprezados pelas direções dos clubes, sem voz e limitados a um jogo anual em Alvalade. E se a preocupação é a democraticidade do nosso clube, é hora de iniciar uma discussão serena sobre o número de votos a atribuir em função da antiguidade, reduzindo o gap existente.
5Não entendo este autismo que grassa em Alvalade. Num clube que não vence o campeonato há 18 anos, que ficou em 4º lugar no campeonato com um registo recorde de derrotas, como é possível que a energia esteja focada no i-voting? Que tal dar uma explicação séria aos sócios sobre o que correu mal e o que se pensa fazer para que uma época destas não volte a suceder? Já chega de falar em Alcochete, da herança e do COVID. Mais do que desculpas, exigimos soluções a quem se apresentou a escrutínio como profundo conhecedor do clube.
6André Bernardo veio falar do valor do plantel do clube. E mistura valores de balanço com valores de mercado. No meu último artigo reportei a diminuição do valor contabilístico do plantel, fruto da política desportiva seguida com os resultados que se sabem. Hoje temos um plantel desvalorizado, vendemos 150M em ativos e gastamos 70M, dos quais poucos atletas trarão efetivas mais-valias. Aliás, os jogadores mais vendáveis do plantel são alguns jovens, assim como Acuña e Wendel. André Bernardo pode falar do COVID, mas não foi o COVID que contratou Ilori, Eduardo, Doumbia, Renan ou Rosier. E é sobre essas escolhas – muitas delas para descartar por Ruben Amorim – que André Bernardo deveria dar explicações no seu polígrafo. Depois de Alcochete, depois da herança, agora temos o COVID. Só não temos é competência e transparência em Alvalade.