“O Vitória era entusiasma nte a jogar”
IVO VIEIRA Sem sacudir a água do capote, o ex-técnico do V. Guimarães aborda os temas quentes da época, divide responsabilidades e diz que quem fica à frente é melhor
A aposta no futebol de ataque teve consequências e o V. Guimarães acabou em sétimo, fora dos lugares europeus. Ivo Vieira acreditava na continuidade depois de ter contribuído para valorizar vários atletas A aposta no futebol de ataque teve consequências, o V. Guimarães acabou em sétimo, mas Ivo Vieira acreditava na continuidade.
Considera positiva esta sua passagem pelo Vitória de Guimarães?
—Acabou por ser uma época boa pela valorização do clube a nível europeu, com uma visibilidade muito grande pelo mundo fora. Foi a primeira vez que o Vitória, numa fase a eliminar, chegou a uma fase de grupos. Foi prematura a saída da Taça de Portugal e no campeonato ficámos aquém do nosso objetivo. Porém, neste momento, o Vitória é um clube que oferece saúde financeira até pela maior vend ades empre,oTap sob a, por 18 milhões, e na valorização de outros atletas, como Marcus Edwards, Pepê e João Carlos Teixeira, que valerão mais uns quantos milhões.
A intenção de ter a equipa a jogar um futebol ofensivo teve o reverso da medalha?
—Temos de perceber o que compensa no campeonato português. Se queremos pessoas no estádio, se queremos ser competitivos a nível europeu, temos de ter e mostrar qualidade nos jogos. Em Portugal somos muito resulta distas. Todos queremosganhar, mas defendo que a qualidade de jogo, aquilo que vai fazer os jogadores crescerem, é que deve ser a prioridade enquanto estratégia para o futebol português. Pelos atletas que mencionei, o Vitória sai muito mais valorizado e tem condições para na próxima época fazer um campeonato acima das expectativas.
Faltou-lhe continuidade?
—Acreditava que a minha continuidade, durante mais dois ou três anos, ia fazer com que o Vitória entrasse na luta com os outros três grandes. Teria de ser um trabalho a dois ou três anos e não numa época em que me lembro que na fase a eliminar na Liga Europa, tive de recorrer a atletas da equipa B, o que não é normal num clube desta dimensão. De qualquer forma, eu ouvia na cidade que já há muitos anos que não viam o Vitória jogar assim, que era entusiasmante.Aliás, o Vitória foi a equipa que mais cantos teve na liga portuguesa e isso é sinal de uma equipa que atacou muito. E este tipo de futebol que praticámos levava as pessoas ao estádio e agarrava as pessoas à televisão.
Considera que mostrou qualidade e trabalho para merecer a renovação e continuidade no clube?
—A minha vontade era continuar e sentia que merecia desenvolver um trabalho a dois/ três anos em que pudéssemos atingir sucesso desportivo, com crescimento e valorização dos ativos do clube. No entanto, eu fui contratado por uma Direção e posteriormente trabalhei com outra. Eu respeito que não vissem em mim a pessoa certa para o projeto que queriam implementar. Apercebi-me muito rápido que eu não era o treinador para esse projeto. Sinto-me muito orgulhoso de ter conseguido iniciar a época no Vitória e terminá-la porque quando falamos do treinador português que está muito valorizado e tem muita qualidade e no nosso campeonato fazerem-se 20 mudanças, acabara temporada num clube é histórico.
Foi um fracasso não chegar a
“O facto de não ser uma equipa habituada a estar na Europa, apesar de ter condições para tal, causa oscilações” “Foi frustrante não conseguir alcançar um lugar entre os cinco primeiros” “Em janeiro, trouxemos quatro jovens e nenhum deles se afirmou. Aí, falhámos redondamente”
um lugar europeu numa época histórica do Braga?
—Foi frustrante não conseguir um lugar nos cinco primeiros. Quem esteve na luta foi mais competente do que nós. Também costumo dizer que aqueles que vãoàf rentes ã o os melhores e neste campeonato seis equipas foram melhores do que nós.
Olhando para Braga, Rio Ave e Famalicão, o que fez realmente a diferença? Competência, investimento, melhor organização?
—É fácil sacudir a água do capote, mas nunca irei fazê-lo. Tudo aquilo que foi o processo inicial do Vitória ofereceu-nos grandes dificuldades. O Vitória teve uma Direção que iniciou todo o processo, que sabia estar de saída, e na preparação da época só conseguimos, retardadamente, a contratação de alguns atletas. Depois, houve a mudança da
Direção e não chegámos a tempo às melhores escolhas para a composição do plantel. Chegámos a determinada altura com excesso enorme de atletas, que fez com que o processo não fluísse na plenitude. Depois, naquilo que eram os resultados e o trabalho de campo, eu tenho grande responsabilidade, mas aquilo que era o nosso jogo, foi mais do que suficiente para conseguimos mais pontos.
A equipa fez 52 jogos. Faltoulhe um plantel mais valioso para enfrentar este volume?
—Tínhamos excesso de jogadores e no meio-campo chegámos a ter 12 elementos para jogarem três. A nível de quantidade, tinha matéria-prima suficiente. E tínhamos qualidade. Faltou consistência em relação ao hábito de competir a esse nível e com esse número de jogos. Os três grande se o Braga estão sempre nas provas europeia se, por isso, estão mais apetrechados a nível estrutural e financeiro. O facto de o Vitória não ser uma equipa habituada a estar na Europa, embora tenha condições para tal, causa essas oscilações.
Em janeiro, quando perdeu Tapsoba, pediu reforços?
—Quando se vende aquele que éo nosso maior ativo, que se faz o maior encaixe da história do clube e perde-se o nosso melhor marcador, sendo ele central, nota-se diferença. Eu defendia que deveria ter vindo um jogador com um custo inferior, mas com qualidade que nos desse mais estabilidade defensiva. Depois, poderiam ter sido feitos dois ou três reajustes em relação às nossas grandes necessidades. Em janeiro, trouxemos quatro jovens e nenhum deles se afirmou como titular. Aí, falhámos redondamente, deveríamos ter sido mais competentes na altura em que percebi que iria sair.