“Fui o primeiro, dei umas cabeçadas”
FÓRMULA 1 Portuense fez a época de 1991, a única com 34 carros, e nunca se conseguiu qualificar. Ainda tentou entrar na Jordan quando Schumacher saiu. A sua experiência foi lição para os seguintes
Nicha Cabral foi o primeiro, entre 1959 e 1964, mas foi com Matos Chaves que os portugueses se estrearam na chamada Fórmula 1 moderna. Foi uma experiência triste, numa carreira recheada de êxitos
Pedro Matos Chaves tem 55 anos e espera dentro de dias ir ao Grande Prémio de Portugal. Foi ele que, em 1991, marcou a entrada dos portugueses na era moderna da Fórmula 1, embora tenha feito 13 GP sem chegar a correr, incluindo o do Estoril. Era o ano das pré-qualificações e a sua equipa, a italiana Coloni, estava há cinco épocas sem resultados.
Existindo 34 carros, a época de 1991 foi das mais difíceis para estar na F1?
—Eram tempos muito diferentes. Havia imensos pilotos. Desde aqueles que já lá batiam o pé há muitos anos, como Patrese, Boutsen e Mansell, até novos como o Hakkinen...
Há ainda esse aspeto: havia Senna, Mansell, Prost, Piquet e até Michael Schumacher em estreia...
—É verdade, estreou-se esse ano, em agosto ou setembro. O Eddie Jordan deu-lhe uma oportunidade quando o Bertrand Gachot foi preso, em Londres, por agredir um taxista numa discussão de trânsito. Curiosamente, o Schumacher mudou logo a seguir para a Benetton e ainda existiu uma hipótese de eu fazer o GP de Portugal com a Jordan, pois nessa altura já andava às cabeçadas com o Coloni. Quem acabou essa época na Jordan foi o Alex Zanardi...
A Coloni era a pior equipa?
—Não diria tanto. Foi o único ano em que havia 34 carros na F1. Dos 34, só 26 podiam fazer a grelha de partida e o Bernie Ecclestone lembrou-se de fazer uma pré-qualificação para oito. Daí passavam quatro aos treinos, onde se reduziam a 26 para a corrida. A solução dele foi colocar as piores equipas do ano anterior e as novas nessa pré-qualificação. A Coloni era daspioresdoanoanterior,mas as novas não eram más.
Foi esse o problema?
—Ainda fomos falar com ele, porque havia alguns diretamenteapuradosqueandavam menos que o Coloni, como os dois AGS, do Tarquini e do Johansson, ou os Porsche da Footwork, com o Alboreto e o Alex Caffi – os motores deles estavam sempre a partir... –, enquanto nós tínhamos de discutir com a Dallara, do Pirro e do JJ Lehto, e a Jordan, do De Cesaris e do Gachot. Eram estreantes, mas muitas vezes ficavam nos dez primeiros. Era uma injustiça ter de fazer pré-qualificações com eles... nós e a Lamborghini ficávamos sempre de fora. E o nosso tempo ainda chegou a valer o 22.º da geral...
Pode pelo menos dizer que esteve lá...
—Posso,masquandocheguei, deparei-mecompolíticacomo nunca tinha visto no desporto. Até lá, todas as corridas, nos karts, Fórmula Ford inglesa e Fórmula 3000, eram decididas entre pilotos. Na F1, aqueles que tinham dedinho e ganhavam tudo, como era o meu caso, apanhavam a tecnologia a decidir. Quem estava habituado a carros parecidos, encontrava uma McLaren a gastar na altura 44 milhões de dólares, enquanto a Coloni tinha um milhão.
Essa diferença marcava...
—Mas também havia muito lóbi. Eu fui o primeiro e dei umas cabeçadas, mas depois o
Pedro Lamy já teve o caminho umpoucomaisabertoealgum conhecimento do que me tinha acontecido, e, a seguir, o Tiago Monteiro também teve essa experiência.
Depois deles não houve mais. Porquê?
—Os últimos a dar excelentes indicações, mostrando qualidade para entrar na F1, foram o Filipe Albuquerque e o António Félix da Costa. Dois jovensmuitorápidos,comtodas as condições para lá estar, mas a F1 é muito restrita, é um mundo demasiado exclusivo. A eles não falta talento, mas ser português conta muito pouco naquele mundo.
“A Jordan chamou o Schumacher para substituir o Gachot, que tinha sido preso, e ele saiu logo a seguir para a Benetton. Ainda tentei fazer o GP Portugal pela Jordan...” “Os que tinham dedinho e antes ganhavam tudo, como eu, encontravam a tecnologia. A McLaren gastava 44 milhões, a Coloni tinha um” “Ser português conta muito pouco naquele mundo”