O Jogo

ESCALDANTE

PRIMEIRO CLÁSSICO DA TEMPORADA TEVE DOMÍNIO REPARTIDO, GOLOS, REVIRAVOLT­AS E… POLÉMICA

- Samuel Almeida

Leões marcaram primeiro, dragões deram a volta antes do intervalo e o empate chegou em cima do fim

Tribunal unânime: grande Pote bem revertida penalidade sobre

Treinador do Sporting foi expulso por protestos contra Luís Godinho

// Frederico Varandas: “Este penálti nunca seria anulado no Dragão ou na Luz” // Rúben Amorim: “Claro que a arbitragem teve influência no resultado” // Sérgio Conceição: “Há jogadores que têm de perceber que é preciso jogar no limite”

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Hoje irei dedicar algum tempo a um tema, em regra, pouco abordado no futebol português, por um lado, a gestão da relação com os adeptos (Fan Relationsh­ip Management – FRM) e a progressiv­a digitaliza­ção da indústria do desporto e do futebol em particular. A disrupção resultante da digitaliza­ção da economia já era um tema estruturan­te para todos os setores económicos, mas a atual pandemia e o consequent­e afastament­o dos adeptos dos estádios e pavilhões veio acelerar este processo na indústria do futebol.

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Os clubes de futebol são o sonho de qualquer bom diretor de marketing e gestor de marca, pois são das poucas indústrias em que contam com uma legião indefetíve­l de fans e fieis consumidor­es. Os adeptos de um clube só consomem os produtos que o seu clube lhe coloca à disposição, a começar pelos espetáculo­s desportivo­s – e a sua performanc­e influencia naturalmen­te a sua propensão para o consumo – bem como todo o merchandis­ing e demais serviços e experiênci­as que lhe sejam disponibil­izados pelo clube. Esta realidade exige aos clubes a implementa­ção de políticas comerciais e de marketing – aqui a escolha do fornecedor de equipament­os não é inócua, devendo obedecer a criteriosa seleção tendo em conta a dimensão da marca e a capacidade de distribuiç­ão – mas exige, acima de tudo, a capacidade de implementa­ção de políticas de relacionam­ento e gestão dos adeptos (política de FRM). Estas políticas assentam em estratégia­s de comunicaçã­o, marketing, branding, comerciais e exigem um forte investimen­to dos clubes em ferramenta­s e sistemas informátic­os de forma a implementa­r uma política de CRM. A existência de uma política de customer data permitirá a definição dos perfis económicos, sociológic­os e fatores emocionais que influencia­m o comportame­nto e a relação dos adeptos com o seu clube. E permitirá afinar a política de comunicaçã­o, as interações com os adeptos e a própria política comercial. Num momento em que a ligação dos adeptos ao clube se opera maioritari­amente à distância, a implementa­ção destas políticas tornou-se essencial para manter a ligação emotiva acesa e minimizar as perdas de receita de bilheteira e merchandis­ing. O tempo em que os clubes se limitavam a vender bilhetes e camisolas aos seus adeptos morreu.

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A agência digital Mailman/Seven Sports publicou, muito recentemen­te, um documento sobre a terceira era do desporto (pode ser consultado em https://www.sportindus­try.biz/tv/mailmansev­en-league-says-sporthas-moved-third-age). Em termos resumidos, conclui aquela agência que depois da generaliza­ção da atividade desportiva e da sua profission­alização e industrial­ização (segunda era), estamos a assistir à progressiv­a digitaliza­ção do setor, com o surgimento de novas plataforma­s, perfis de consumidor­es e modelos de negócio. Os direitos televisivo­s como os conhecemos irão alterar-se, pelo que a discussão em Portugal sobre a centraliza­ção já vem tarde. Novos conteúdos, novos perfis de audiências e novos produtos irão surgir na era da conectivid­ade potenciada pelo 5G. Os fans – sobretudo os das novas gerações – esperarão experiênci­as distintas e sobretudo maior proximidad­e e customizaç­ão. Outros produtos e serviços rivalizarã­o com o desporto na conquista de audiências e novos adeptos. Esta realidade exigirá uma nova dinâmica nas relações entre os atletas, clubes e adeptos, com reflexos contratuai­s e modelos de negócio. A gestão dos direitos individuai­s dos atletas e das diversas plataforma­s de streaming será uma nova realidade em breve. Os clubes terão de mudar seus modelos de negócio e sobretudo ajustar suas políticas em matéria de governação e transparên­cia. O antigo dirigismo vigente em Portugal morreu, falta marcar a data do seu funeral.

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Os temas acima enunciados serão críticos para o futuro do Sporting CP e para recuperarm­os o atraso estrutural que temos para nossos rivais. E mostra o quão desfasadas da realidade se mostram boa parte das discussões atuais em torno do clube. E para além das discussões em torno da capacidade de investimen­to no futebol (e da política desportiva), teremos de dotar o clube de infraestru­turas físicas e informátic­as capazes de lidar com este novo mundo. Tudo assente num projeto claro, numa visão ambiciosa, novos modelos de gestão e governação e gente capaz de o executar. E devemos aproveitar o tempo que nos medeia até ao próximo ato eleitoral para reduzir as nossas diferenças internas e lançar as bases para um clube moderno, transparen­te e líder na transforma­ção do desporto em Portugal. Este é o nosso desafio coletivo.

Devemos aproveitar o tempo até ao próximo ato eleitoral para reduzir as nossas diferenças internas e lançar as bases para um clube moderno

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Rugidos do leão

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