ESCALDANTE
PRIMEIRO CLÁSSICO DA TEMPORADA TEVE DOMÍNIO REPARTIDO, GOLOS, REVIRAVOLTAS E… POLÉMICA
Leões marcaram primeiro, dragões deram a volta antes do intervalo e o empate chegou em cima do fim
Tribunal unânime: grande Pote bem revertida penalidade sobre
Treinador do Sporting foi expulso por protestos contra Luís Godinho
// Frederico Varandas: “Este penálti nunca seria anulado no Dragão ou na Luz” // Rúben Amorim: “Claro que a arbitragem teve influência no resultado” // Sérgio Conceição: “Há jogadores que têm de perceber que é preciso jogar no limite”
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Hoje irei dedicar algum tempo a um tema, em regra, pouco abordado no futebol português, por um lado, a gestão da relação com os adeptos (Fan Relationship Management – FRM) e a progressiva digitalização da indústria do desporto e do futebol em particular. A disrupção resultante da digitalização da economia já era um tema estruturante para todos os setores económicos, mas a atual pandemia e o consequente afastamento dos adeptos dos estádios e pavilhões veio acelerar este processo na indústria do futebol.
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Os clubes de futebol são o sonho de qualquer bom diretor de marketing e gestor de marca, pois são das poucas indústrias em que contam com uma legião indefetível de fans e fieis consumidores. Os adeptos de um clube só consomem os produtos que o seu clube lhe coloca à disposição, a começar pelos espetáculos desportivos – e a sua performance influencia naturalmente a sua propensão para o consumo – bem como todo o merchandising e demais serviços e experiências que lhe sejam disponibilizados pelo clube. Esta realidade exige aos clubes a implementação de políticas comerciais e de marketing – aqui a escolha do fornecedor de equipamentos não é inócua, devendo obedecer a criteriosa seleção tendo em conta a dimensão da marca e a capacidade de distribuição – mas exige, acima de tudo, a capacidade de implementação de políticas de relacionamento e gestão dos adeptos (política de FRM). Estas políticas assentam em estratégias de comunicação, marketing, branding, comerciais e exigem um forte investimento dos clubes em ferramentas e sistemas informáticos de forma a implementar uma política de CRM. A existência de uma política de customer data permitirá a definição dos perfis económicos, sociológicos e fatores emocionais que influenciam o comportamento e a relação dos adeptos com o seu clube. E permitirá afinar a política de comunicação, as interações com os adeptos e a própria política comercial. Num momento em que a ligação dos adeptos ao clube se opera maioritariamente à distância, a implementação destas políticas tornou-se essencial para manter a ligação emotiva acesa e minimizar as perdas de receita de bilheteira e merchandising. O tempo em que os clubes se limitavam a vender bilhetes e camisolas aos seus adeptos morreu.
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A agência digital Mailman/Seven Sports publicou, muito recentemente, um documento sobre a terceira era do desporto (pode ser consultado em https://www.sportindustry.biz/tv/mailmanseven-league-says-sporthas-moved-third-age). Em termos resumidos, conclui aquela agência que depois da generalização da atividade desportiva e da sua profissionalização e industrialização (segunda era), estamos a assistir à progressiva digitalização do setor, com o surgimento de novas plataformas, perfis de consumidores e modelos de negócio. Os direitos televisivos como os conhecemos irão alterar-se, pelo que a discussão em Portugal sobre a centralização já vem tarde. Novos conteúdos, novos perfis de audiências e novos produtos irão surgir na era da conectividade potenciada pelo 5G. Os fans – sobretudo os das novas gerações – esperarão experiências distintas e sobretudo maior proximidade e customização. Outros produtos e serviços rivalizarão com o desporto na conquista de audiências e novos adeptos. Esta realidade exigirá uma nova dinâmica nas relações entre os atletas, clubes e adeptos, com reflexos contratuais e modelos de negócio. A gestão dos direitos individuais dos atletas e das diversas plataformas de streaming será uma nova realidade em breve. Os clubes terão de mudar seus modelos de negócio e sobretudo ajustar suas políticas em matéria de governação e transparência. O antigo dirigismo vigente em Portugal morreu, falta marcar a data do seu funeral.
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Os temas acima enunciados serão críticos para o futuro do Sporting CP e para recuperarmos o atraso estrutural que temos para nossos rivais. E mostra o quão desfasadas da realidade se mostram boa parte das discussões atuais em torno do clube. E para além das discussões em torno da capacidade de investimento no futebol (e da política desportiva), teremos de dotar o clube de infraestruturas físicas e informáticas capazes de lidar com este novo mundo. Tudo assente num projeto claro, numa visão ambiciosa, novos modelos de gestão e governação e gente capaz de o executar. E devemos aproveitar o tempo que nos medeia até ao próximo ato eleitoral para reduzir as nossas diferenças internas e lançar as bases para um clube moderno, transparente e líder na transformação do desporto em Portugal. Este é o nosso desafio coletivo.
Devemos aproveitar o tempo até ao próximo ato eleitoral para reduzir as nossas diferenças internas e lançar as bases para um clube moderno