O Jogo

QUANDO A RAÇA TROCA DE LADOS

TÊMPERA Um teve Palhinha, o outro não teve Danilo. Na hora certa, um leão apostado em mostrar fibra fez por justificar o empate num jogo errático e de escaramuça­s

- Textos JOSÉ MANUEL RIBEIRO

O Sporting perdeu os primeiros pontos da época e o FC Porto corre o risco de ver o Benfica fugir para os cinco de vantagem. O jogo foi o esperado num início de época bombardead­o por inconvenie­ntes

O Sporting-FC Porto não teve duas partes distintas: teve uma parte distinta e outra quase extinta. A primeira talvez tenha sido a mais verdadeira. Os onzes já explicavam mais ou menos ao que cada treinador ia. Conceição manteve o seu esquema, limitando-se a substituir Alex Telles por Zaidu e Danilo por Uribe (não é assim tão simples, mas já lá vamos). Rúben Amorim deu o passo atrás que nos clássicos é naturalíss­imo, sentando Vietto e dando a vaga a Palhinha, que talvez tenha sido o jogador fundamenta­l nas dificuldad­es que o FC Porto encontrou.

Mas não começou assim. O arranque foi portista e a primeira defesa também, porque fazia parte dos planos do Sporting precaver-se contra Marega – mais uma vez sozinho, para esvaziar a lógica dos três centrais sportingui­stas -, mas também porque a ideia era utilizar as constantes penetraçõe­sdosmédios,sobretudo Pedro Gonçalves, para ferir o adversário. Por isso é que a segunda defesa foi de Marchesín. Esses eram, digamos, os focos secundário­s do Sporting. A prioridade seria ganhar os famosos duelos que costumam ser terreno exclusivo do FC Porto e partir daí para o que o jogo desse.

Nos melhores momentos do campeão,omeio-camposport­inguista foi sendo ultrapassa­do apenas para que a jogada acabasse engarrafad­a numa área sobrepovoa­da de adversário­s. Por regra houve pouco espaço até à linha de fundo para a habitual demolição de Coates por Marega, o que reduziu o jogo a tentativas de tabelas e muito drible de cabina telefónica, por Luis Díaz e Corona. Nessa altura, o FC Porto ganhou em oportunida­des e o Sporting em oportunida­des flagrantes, por aparecer na baliza, obviamente, com mais espaço. Ainda assim, o resultado foi aberto com um cruzamento para uma área sem ponta de lança, onde Pepe, Mbemba e Manafá esqueceram o letal Nuno Santos, que os portistas deviam conhecer bem. Ou seja, tudo ao contrário, porque o empate também foi conseguind­o pela erupção de um médio do FC Porto (Uribe), a intrometer-se num cruzamento de Zaidu. Pelo menos na última época, essa não era uma das principais especialid­ades do FC Porto. Antes do intervalo, Luis Díaz e Corona gingaram pelo terço esquerdo da área do Sporting para pôr o FC Porto na frente. Faturou o mexicano, dos poucos portistas que fizeram um jogo acima da média.

Um penálti marcado e reavaliado, com uma expulsão (de Zaidu) a acompanhar, logo no minuto seguinte ao 1-2, terá ajudado a esquentar a noite, porque a segunda parte trouxe um Sporting ainda mais empenhado em ganhar na raça ao FC Porto e um FC Porto sem tanta raça no meio-campo como era costume. Mais do que o recuo portista, admitido por Sérgio Conceição, valeu que durante uns 35 minutos nemoSporti­ngtirouqua­lquer partido da iniciativa que lhe era dada, nem o FC Porto conseguiu dar utilidade ao crescente desinvesti­mento do adversário na sua defesa. Não apareceram os ataques de um lado, nem os contra-ataques do outro. Tirando um passe errado para Adán que Corona ia aproveitan­do, até um remate de Pedro Porro, aos 75’, o jogo consistia numa sequência de escaramuça­s, faltas e cortes demasiado à pele.

Sem Danilo, nem qualquer outro mastim no lado portista, era o FC Porto que saía a perder dessa guerra, ao contrário do habitual. O Sporting tinha um Palhinha, essencial para os clássicos, e Conceição um Sérgio Oliveira sem verdadeira vocação para a faca nos dentes. Mesmo com os portistas recuados, não foi difícil aos sportingui­stas criarem novos espaços para Pedro Gonçalves, agora na arena frontal à baliza, de onde tirou dois remates intercetad­os pelos centrais. Ainda assim, sentia-se que o FC Porto controlava o jogo sem controlar a bola. O Sporting vivia de uma posse horizontal e Pepe chegava bem para Vietto, que lá substituiu o “ponta de lança” Jovane, mas Amorim foi rodando o botão do volume. Já tinha desfeito os três centrais, com a saída de Luís Neto, Tiago Tomás já corria no Campo e, aos 77’, entrou também Sporar para se juntar a Vietto. Enquanto Conceição hesitava, talvez crente ainda numa saída decente para o contra-ataque, a faca nos dentes traiu-o. A macieza do reforço Felipe Anderson e a juventude do lateral-esquerdo Zaidu (não esteve mal) ajudaram, mas contou mais a têmpera de Palhinha, numa recuperaçã­o, aos 87’, que desfez o castelo de cartas portista e permitiu dar, finalmente, uso aos dois avançados que o Sporting tinha na área. Descompens­ada, a defesa do FC Porto ruiu finalmente e não se pode dizer que o resultado não faça sentido. Conceição tem mais uma equipa para fazer. E o Sporting tem sempre.

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