O EXCLUSIVO MUNDO DA FÓRMULA
As velocidades são altas, mas também os custos dos carros, os salários e os preços dos bilhetes. Desde 1996, ano da última visita ao Estoril, muito mudou e nem sempre para melhor
S erão na mesma 20 carros e há uma equipa dominadora – em 1996 era a Williams, agora é a Mercedes –, mas a Fórmula 1 que regressa esta semana a Portugal transformou-se num mundo ainda mais caro e exclusivo. A corrida do próximo domingo, que poderá lançar ainda mais Lewis Hamilton e a Mercedes para históricos sete títulos mundiais, poderá ser, por sinal, uma das últimas oportunidades para ver o topo do desporto automóvel num dos seus últimos anos de despesismo, pois a pandemia, se por um lado possibilitou estreias como a do Autódromo do Algarve, por outro também pressionou as equipas para a entrada numa nova era. Os orçamentos, que atualmente atingem os 400 milhões em equipas como a campeã, a Ferrari e a Red Bull, vão, já em 2021, passar a ter um teto de 124 milhões de euros.
Os gastos das maiores equipas de Fórmula 1, que se multiplicaram por 10 nos últimos 30 anos, são de tal forma que especialistas como os do Autosport internacional escrevem que opreçodeumcarroé“aquiloqueuma equipa pode gastar nele”. O cálculo por peças apresentado nesta página, que estima o custo de um Fórmula 1 em 10,5 milhões de euros – mesmo assim, partir uma asa dianteira, acidente comum numa corrida, é praticamente o valor de um pequeno apartamento (128 mil euros)! –, não contabiliza o que se investe em desenvolvimento.
A atual Fórmula 1, que se tornou tão exclusiva que equipas do fundo da tabela, como Haas e Williams,têmorçamentospróximos dos 150 milhões, está condenada a adaptar-se a uma nova realidade, mas a mudança irá ser gradual. Os atuais carros vão manter-se em 2021, outra solução de resposta à crise gerada pela pandemia e que permitirá uma adaptação. Em 2022 os orçamentos passarão a um máximo de 120 milhões e no ano seguinte descerão para 115, valor que ficará como referência futura.
“Quando decidimos criar um teto orçamental, foi a pensar na forma de lidar com uma crise”, explicou Ross Brawn, diretor desportivo da F1, sobre medidas que se aplicam sobretudo ao desenvolvimento dos carros. Fora do limite ficam os gastos em marketing, nos salários dos pilotos, nos três outros ordenados mais altos e custos com baixas ou seguros de saúde. Mesmo assim, haverá certamente despedimentos em equipas que já estavam perto dos 1000 funcionários, e os primeiros sinais foram dados com a compra da Williams pela Dorilton Capital ou a colocação da sede da McLaren à venda. Onde não se mexerá muito será no salário dos pilotos – com exceção de Sebastian Vettel, que mudará da Ferrari para a futura Aston Martin –, embora já se tenha percebido que Lewis Hamilton, a negociararenovaçãocomaMercedes,vai ter de baixar as exigências e ficar, no máximo, pelos quase 50 milhões anuais que já recebe.