O Jogo

Rei, há só um

- Jacinto Lucas Pires

Se há coisa que o Portugal-Suécia tornou clara, foi que o futuro do futebol português não é para amanhã, não é para daqui a três ou quatro anos — é já hoje. Os miúdos já aí estão a jogar um futebol de gente grande, sem medos nem verduras. O mundo inteiro viu, na quarta-feira. E, no entanto – a julgar pelas vendas, empréstimo­s e empréstimo­s-que-afinalsão-vendas de tanta joia da formação –, parece que a atual Direção do Benfica ainda não registou esse facto simples. Perdoem-me se vos maço com isto, caros leitores, não se trata de nenhum achado genial, bem sei, nenhuma descoberta do outro mundo, mas, por estes dias, é importante sublinhar o óbvio: as goleadas do presente fazem-se com esses craques do futuro. Não quero dizer fazer uma equipa só com miúdos, claro. Mas, como é que podemos construir uma “identidade”, uma “cultura” de jogo, se aqueles que se formam cá estão na verdade a treinar para emigrar? Como é que podemos trair dessa maneira o sonho de tantos miúdos talentosos? É que assim, na prática, estamos a dizer a qualquer miúdo que sonhe jogar no Benfica: sim, se tiveres jeitinho e quiseres trabalhar, podes vir para aqui aprender, mas, mal chegue o momento com que sonhaste (jogar na equipa principal, ganhar títulos com o manto sagrado no escalão A, ser campeão nacional, ser campeão europeu), despachamo­s-te para quem pagar mais…

A propósito: leio nos jornais que a opção de compra no empréstimo de Tiago Dantas ao Bayern de Munique é de 7,5 milhões de euros. Será possível? Estará certa a notícia, não terá nenhuma gralha? Afinal, Dantas é emprestado ou oferecido? No linguajar atual, parece que já não há mentiras, há “factos alternativ­os”; que já não há vergonha, há “danos reputacion­ais”; que já não há limites, há “perspetiva­s diferentes” – por isso, confesso, nem sei que palavras usar para dizer aqui o que isto é. É uma tristeza, é o que é…

A propósito: por meio de entrevista, Luís Filipe Vieira veio informar sócios e adeptos que quer tratar da sua sucessão longe das eleições. Depois veio esclarecer que continuará a haver eleições (ah, muito obrigado), mas que precisa de garantir a “continuida­de” do que tem andado a fazer. Ainda assim, nada de malentendi­dos, os sócios que não se apoquentem. Após Vieira ter escolhido o seu sucessor, serão todos convidados para o plebiscito. Não, é demais, é demais, caramba. É possível haver algum coração benquista por aí que não ache isto perfeitame­nte inaceitáve­l, absolutame­nte inconcebív­el, desesperad­amente vergonhoso? Alguém se importa de dizer ao presidente do Benfica que ponha a mão na consciênci­a e saia já pelo seu pé? Rei, há só um: o Eusébio e mais nenhum.

Os sócios que não se apoquentem. Após Vieira ter escolhido o seu sucessor, serão todos convidados para o plebiscito. É demais, demais

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