Cashball: três acusados de corrupção
Ministério Público concluiu despacho que imputa aos arguidos 14 crimes de corrupção ativa
Paulo Silva, João Gonçalves e Gonçalo Rodrigues agiram para benefício do Sporting, concretamente no andebol. André Geraldes, Sporting e muitos dos alvos ficaram fora do processo, sendo ilibados
Paulo Silva – que se identificou como vendedor de automóveis –, João Gonçalves, empresário de futebol, e Gonçalo Rodrigues, antigo funcionário do Sporting, estão acusados a 14 crimes de corrupção ativa no âmbito do caso“Cashball”.Odespachode acusação do Ministério Público foi conhecido ontem por parte dos visados.
O caso remota a factos referentes à época 2016/17 no que ao andebol diz respeito. Paulo Silva apresentou uma denúncia no Departamento de Investigação de Ação Penal do Porto, onde disse ter sido contactado por João Gonçalves para que procurasse, alegadamente a mando do Sporting – com intervenção de Gonçalo Rodrigues, que estava ligado ao gabinete de apoio ao atleta, e André Geraldes, diretor geral da SAD –, favorecer os interesses do clube nos jogos em que interviesse. Paulo Silva, segundo a acusação a que O JOGO teve acesso, terá aceite por 350 euros, mais despesas de deslocação, aliciar árbitros da modalidade em causa. Por exemplo, um jogo entre o Sporting e FC Porto valia dois mil euros ou um entre o FC Porto e o Benfica, em que os encarnados, vencendo, beneficiariam o Sporting, podia render ao árbitro em causa três mil euros. Mensagens de whatsapp, audios e mensagens de emails foram entregues à equipa de investigação, entre outras provas. Jogos como Madeira SAD-FC Porto, ABC-Sporting, SportingÁguas Santas ou FC PortoSporting, todos na mesma época, estavam entre os 12 mencionados como tendo sido alvo de ações ilegais. A Federação de Andebol de Portugal, contactada por O JOGO, preferiu não se pronunciar.
Mas a verdade é que, além das questões relacionadas com o andebol, também o futebol foi objeto de denúncia e investigação. Paulo Silva afirmou que João Gonçalves, novamente intermediando um pedido leonino, lhe pediu para abordar jogadores que beneficiassem o clube nos jogos Chaves-Sporting (a 14 e 17 de janeiro de 2017, para a Liga e Taça de Portugal); no caso, o jogador visado foi Freire.E ainda Pedro Trigueira, no Sporting-V. Setúbal, João Aurélio no V. Guimarães-Sporting, Bruno Nascimento no Feirense-Sporting e Rúben Lima no Moreirense-Sporting. Porém, depois de várias diligências efetuadas, André Geraldes, o Sporting, enquanto clube e a SAD, os árbitros visados e abordados no andebol ou os jogadores em causa em termos de futebol, todos ficaram fora da acusação do Ministério Público, tendo sido apresentados alguns argumentos. “Sobressai um vazio probatório quantoà hetero determinação do comportamento que se imputará ao arguido Gonçalo Esteves Rodrigues, fora do acordo estabelecido com os arguidos João Mira Gonçalves e Paulo Farto da Silva, concretamente o envolvimento de responsáveis de direito ou de facto da Sporting
SAD. Desse vazio probatório há que chegar à conclusão da insuficiência de indícios que conduzam à imputação ao Sporting ou à SAD de crimes de corrupção ativa, cometidos no seu interesse. Porque se existem indícios suficientes de que a atuação concertada dos arguidos foi realizada no interesse daquelas pessoas coletivas, já não ocorre consistência probatória que, nos termos legais, possa dizer que o foi em nome daquelas pessoas coletivas e em decorrência da vontade delas”, lê-se no despacho.
Em declarações a O JOGO, André Geraldes, atualmente presidente do Estrela da Amadora, mostrou-se satisfeito com o despacho do Ministério Público. “Aguardava serenamente o dia em que a justiça fizesse justiça. Tenho pena que se tenha escrito tanto e falado tanto sem saberem efetivamente que se tratou de um circo, que não se percebe porque foi montado”, disse, sublinhando o que este desfecho representa: “Foi uma vitória para mim, para a minha família, para os meus, que sofreram comigo, mas sobretudo para a democracia portuguesa, que prova que a justiça funciona.” Refira-se que o Sporting também ficou fora do processo que envolve corrupção de agentes ligados ao andebol e futebol profissional.