O Jogo

UMA BICICLETA ATRAVESSAD­A NA GARGANTA

O belíssimo golo de Taremi talvez tenha sido a pior coisa que aconteceu ao FC Porto, porque reforçou a ideia de que um dragão mais ambicioso podia ter passado

- Textos HUGO SOUSA

A aposta em Grujic garantiu um FC Porto equilibrad­o, a saber manter-se na eliminatór­ia, mas terá faltado golpe de asa para virar a estratégia e arriscar tudo um pouco mais cedo

Há uma estranha sensação que resume esta eliminatór­ia e que é, ao mesmo tempo, um elogio e uma crítica ao FC Porto: o Chelsea nunca foi avassalado­r em nenhum dos dois jogos, esteve até em vários momentos bem amarrado, e por isso fica a ideia de que estaria ao alcance de um dragão mais ambicioso. Não é uma certeza científica, mas também não é uma ilusão, e o extraordin­ário golo de Taremi, a fechar, em vez de atenuar a frustração do adeus, lança uma pergunta óbvia: terá faltado ousadia a Sérgio Conceição?

A resposta não é fácil, nem sequer será consensual. Ele tinha avisado que não queria uma equipa a avançar com muita sede ao pote e assim, mesmo a precisar de golos para virar a desvantage­m, sacrificou um ponta de lança para montar um puzzle estratégic­o que lhe garantisse equilíbrio­s. Sobretudo isso. Grujic foi a chave dessa estratégia que, de alguma forma, pretendia dar asas a um quarteto, porque, com as costas guardadas pelo sérvio, era suposto, ainda que não em simultâneo, que Uribe, Sérgio Oliveira e até Corona ou Otávio ganhassem maior liberdade de movimentos numa frente dinâmica. E não se pode dizer que tenha corrido mal, de início. A pressionar alto e a trocar bem a bola, também porque era quem precisava de procurar o resultado, o FC Porto conseguiu galgar terreno com firmeza, entrinchei­rando um Chelsea que se via confortáve­l num papel mais passivo, sem deixar de mandar avisos em contra-ataques rápidos.

Estava um belíssimo jogo de xadrez, sem dúvida. Mas havia um problema: golos, nem vê-los. Na verdade, nem sequer grandes esboços disso, porque da razoável posse de bola dos dragões (53% ao intervalo) não resultavam verdadeiro­s sustos para Mendy. Aliás, o maior de todos, na primeira parte, surgiu após deslize do guarda-redes numa troca de bola com Rudiger, que Corona não conseguiu aproveitar. O mesmo Corona, servido mais tarde por um passe longo de Manafá, voltou a pecar na finalizaçã­o. E esse era um pecado a que o FC Porto não se podia dar ao luxo.

O intervalo deveria - ou pelo menos podia - ter sido o barómetro para o técnico portista repensar o plano. Perdido por um, que no caso até eram dois, perdido por mil. Mas não. Taremi continuou no banco e o jogo manteve-se naquele labirinto que não ia dar a lado nenhum, por mais romântica que possa parecer a glória de manter o Chelsea numa teia.

Taremi lá saltou para o relvado com meia hora para se jogar (pelo menos...) e, ironicamen­te, com ele em campo surgiu o primeiro verdadeiro remate portista enquadrado com a baliza, quando o iraniano fez cócegas de cabeça a um cruzamento de Corona. Sem ser grande coisa, era alguma coisa. Tuchel, esse, não se deu ao trabalho de mexer, nem quando da cartola portista saltaram Nanu, Luis Díaz ou Evanilson (o super moralizado Toni Martínez, desta vez, não...). Aliás, voltando à tal ideia do xadrez, o jogo de final sem xeque-mate parecia inevitável, até Taremi pintar uma obra de arte que só não vale os 12 milhões de euros da passagem às meias-finais...

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Pulisic e Grujic na luta pela bola
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