Um imenso detalhe
A coisa parecia que tinha animado, o meu coração de adepto já estava pronto para acreditar com as fichas todas e afinal… Com os deslizes do Sporting, a diferença pontual não ficara propriamente pequena, mas estava, vá lá, um tudo-nada menos enevoada. Ainda havia alguma margem para uma “remontada” pontual. E não é que, em vez de agradecer aos deuses e atacar o momento com tudo o que tem, o Benfica entra a jogar com o Gil Vicente em modo sonolento? Quarenta e cinco minutos de reticências, para quê? Para jogarmos a segunda parte a sofrer cada passe falhado, cada cabeçada tímida, cada remate perdido, como o fim do mundo?
Não sei o que o técnico anda a dizer aos jogadores, mas a equipa joga sem velocidade, sem prazer e no registo previsível de quem só tem um plano: bola para um lado, bola para o outro, bola numa das laterais, centro. De vez em quando, Taarabt tenta inventar uma surpresa que faça descambar o adversário — mas logo o sistema volta a impor-se: bola para um lado, bola para o outro, etc… Uma coisa é adormecer as defesas para, de repente, conseguirmos surpreendê-las. Outra é deixarmo-nos embalar com a nossa própria lentidão e adormecer no processo. Parece que, quando começamos a “contar a história”, a defesa já sabe como é que ela vai acabar. E não é passar de 3x5x2 para 4x4x2 que resolve isso. Não é um problema de arrumação, é um problema de inspiração.
Terá sido também questão de macaquinhos no sótão, psicologia pesada, chuteiras com a nervoseira? É possível. “Isto vai-se resolver nos detalhes”, diz a frase batida das conferências de imprensa. Só que, para um Benfica em terceiro lugar, os detalhes são, claro, ainda mais valiosos — isto é, mais arriscados. Sim, talvez isso tenha pesado. Neste estado de coisas, um jogador pode sentir que tem um relógio no lugar do coração… Mas não há alguém que puxe pelo ânimo, pelo orgulho do plantel? A honra de vestir o manto sagrado vale mais que todos os “mental coaches” do mundo, caramba. E, no entanto, sejamos honestos, a derrota com o Gil Vicente nem foi questão de detalhes. Ou então foi um amontoado de detalhes que dava para encher os Jerónimos. Todo o raio do jogo foi uma espécie de imenso Detalhe… E depois — perdoemme o desabafo, caros leitores — há certas coisas realmente inexplicáveis. Estamos a perder e tiramos Adel Taarabt, o nosso melhor jogador?! Estamos a precisar de marcar e pomos em campo Darwin Nuñez e Everton Cebolinha, que, para lá de qualquer discussão sobre a sua qualidade futebolística, estão a atravessar uma óbvia crise de confiança? E Gonçalo Ramos não deveria ter entrado? O desastre deste Benfica é mau demais. Mas o pior é vermos que não se aprende com os erros.
Há certas coisas realmente inexplicáveis. O desastre deste Benfica é mau demais. O pior é vermos que não se aprende com os erros