Rui Costa e o risco de marcar outro um golo ao Benfica
Rui Costa é uma escolha tão óbvia como inteligente da Direção do Benfica para o cargo de presidente interino. Desde logo porque os benfiquistas gostam de Rui Costa. Como não gostar de um ídolo do clube, um produto da formação encarnada, alguém que chora quando marca um golo contra a equipa do coração? Impossível. Depois, Rui Costa ainda tem a vantagem de apenas ter entrado para a Direção do clube no atual mandato, o que lhe garante uma espécie de álibi que nenhum dos restantes braços direitos de Luís Filipe Vieira pode alegar: não vi, não escutei, não aprovei e não sei o que o presidente agora detido fez nos verões passados. Claro que Rui Costa já estava mesmo ali ao lado, mas nunca é demais recordar que estar mesmo ali ao lado não chegou para comprometer Paulo Gonçalves com o presidente.
Portanto, Rui Costa não era apenas a melhor, mas a única opção para assumir o cargo cujo exercício Vieira suspendeu, de acordo com o seu advogado, não como uma estratégia de defesa, mas por colocar “o Benfica em primeiro”, algo que por sinal não conseguiu fazer nos últimos dois anos. De resto, ironicamente, contra o antigo número 10 dos encarnados joga nesta fase, sobretudo, o facto de ter sido apontado precisamente por Vieira como eventual sucessor. Aliás, não terá sido por acaso que no curto discurso de apresentação como presidente interino, Rui Costa fez questão de não mencionar o mentor e, sobretudo, de não se assumir como uma solução de continuidade. A questão, claro, é que não obstante os esforços para se desligar de Vieira, o presidente interino é quase só isso: uma solução de continuidade. A continuidade da atual Direção e dos responsáveis pela SAD, desde logo Domingos Soares de Oliveira que, ainda há poucos dias, garantia que não era “preocupante Vieira ter uma relação pessoal com um dos acionistas”, que “o presidente nunca trouxe a vida empresarial dele para dentro do Benfica” e que a OPA que tantas dúvidas suscita ao Ministério Público “tinha um sustentação que faz sentido”. Lá está, nem todos podem alegar que não sabiam.
Claro que, com a temporada prestes a arrancar, jogadores para vender e outros para comprar, a garantia de continuidade também era uma necessidade do clube. O Benfica não podia ficar sem Direção e sem presidente numa fase tão delicada e, menos ainda, na antecâmara de uma época que o fracasso desportivo associado ao investimento milionário das anteriores tornou absolutamente decisiva. Mas se Rui Costa quiser recolher o crédito que até pode merecer por dar o peito às balas numa fase decisiva da vida do clube, terá mesmo de perceber que este não é um daqueles casos em que basta mudar alguma coisa para que tudo possa ficar na mesma. Se for ele a criar as condições para que o clube avance num prazo razoável para eleições, terá a legitimidade para se apresentar aos sócios como o homem que assumiu o clube na sua hora mais negra. Se não o fizer por sua iniciativa, arrisca-se a ver-se empurrado para fora do clube numa Assembleia Geral convocada pelos sócios. No fundo, arrisca-se a marcar um golo contra a sua equipa do coração. E este os benfiquistas não lhe perdoariam.