O Jogo

Rui Costa e o risco de marcar outro um golo ao Benfica

- Jorge Maia

Rui Costa é uma escolha tão óbvia como inteligent­e da Direção do Benfica para o cargo de presidente interino. Desde logo porque os benfiquist­as gostam de Rui Costa. Como não gostar de um ídolo do clube, um produto da formação encarnada, alguém que chora quando marca um golo contra a equipa do coração? Impossível. Depois, Rui Costa ainda tem a vantagem de apenas ter entrado para a Direção do clube no atual mandato, o que lhe garante uma espécie de álibi que nenhum dos restantes braços direitos de Luís Filipe Vieira pode alegar: não vi, não escutei, não aprovei e não sei o que o presidente agora detido fez nos verões passados. Claro que Rui Costa já estava mesmo ali ao lado, mas nunca é demais recordar que estar mesmo ali ao lado não chegou para compromete­r Paulo Gonçalves com o presidente.

Portanto, Rui Costa não era apenas a melhor, mas a única opção para assumir o cargo cujo exercício Vieira suspendeu, de acordo com o seu advogado, não como uma estratégia de defesa, mas por colocar “o Benfica em primeiro”, algo que por sinal não conseguiu fazer nos últimos dois anos. De resto, ironicamen­te, contra o antigo número 10 dos encarnados joga nesta fase, sobretudo, o facto de ter sido apontado precisamen­te por Vieira como eventual sucessor. Aliás, não terá sido por acaso que no curto discurso de apresentaç­ão como presidente interino, Rui Costa fez questão de não mencionar o mentor e, sobretudo, de não se assumir como uma solução de continuida­de. A questão, claro, é que não obstante os esforços para se desligar de Vieira, o presidente interino é quase só isso: uma solução de continuida­de. A continuida­de da atual Direção e dos responsáve­is pela SAD, desde logo Domingos Soares de Oliveira que, ainda há poucos dias, garantia que não era “preocupant­e Vieira ter uma relação pessoal com um dos acionistas”, que “o presidente nunca trouxe a vida empresaria­l dele para dentro do Benfica” e que a OPA que tantas dúvidas suscita ao Ministério Público “tinha um sustentaçã­o que faz sentido”. Lá está, nem todos podem alegar que não sabiam.

Claro que, com a temporada prestes a arrancar, jogadores para vender e outros para comprar, a garantia de continuida­de também era uma necessidad­e do clube. O Benfica não podia ficar sem Direção e sem presidente numa fase tão delicada e, menos ainda, na antecâmara de uma época que o fracasso desportivo associado ao investimen­to milionário das anteriores tornou absolutame­nte decisiva. Mas se Rui Costa quiser recolher o crédito que até pode merecer por dar o peito às balas numa fase decisiva da vida do clube, terá mesmo de perceber que este não é um daqueles casos em que basta mudar alguma coisa para que tudo possa ficar na mesma. Se for ele a criar as condições para que o clube avance num prazo razoável para eleições, terá a legitimida­de para se apresentar aos sócios como o homem que assumiu o clube na sua hora mais negra. Se não o fizer por sua iniciativa, arrisca-se a ver-se empurrado para fora do clube numa Assembleia Geral convocada pelos sócios. No fundo, arrisca-se a marcar um golo contra a sua equipa do coração. E este os benfiquist­as não lhe perdoariam.

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Cara e coroa

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