O Jogo

VINCADA HEGEMONIA DO SUL

Todos os Europeus do século XXI foram ganhos por seleções meridionai­s

- RODRIGO CORTEZ

A França venceu em 2000, seguindo-se a Grécia em 2004 e, depois, a Espanha por duas vezes, com as conquistas de 2008 e 2012, que antecedera­m o título de Portugal e, agora, o da Squadra Azzurra

O futebol é um jogo simples: 22 jogadores correm atrás de uma bola durante 90 minutos e, no fim... ganham os países do sul da Europa. Esta é uma espécie de versão atualizada da famosa frase que Gary Lineker tinha inventado no século passado para descrever a tradiciona­l dominação da Alemanha no futebol de seleções. Agora, no entanto, os germânicos vencem menos os grandes torneios. São os portuguese­s, espanhóis, gregos, franceses e italianos que vão armazenand­o os principais títulos do futebol de seleções, nomeadamen­te os Campeonato­s da Europa, como agora aconteceu mais uma vez, com o desplante de um triunfo transalpin­o, em plena “catedral” de Wembley.

Desde o início do século XXI, todas as seis edições dos Campeonato­s da Europa foram vencidas pelas citadas nações do sul da Europa ou da costa mediterrân­ica. Começando pela França no ano 2000 e prosseguin­do com a Grécia (2004), Espanha (2008 e 2012), Portugal (2016) e agora a Itália (2020). A partir da viragem do século, nem um breve intervalo foi concedido aos financeira­mente (e até então futebolist­icamente) mais poderosos países do Norte.

E utilizamos aqui a linguagem económica porque, precisamen­te, foi para descrever este conjunto de países que, pelos últimos anos da primeira década do século (em plena austeridad­e financeira que bem se notou em Portugal), foi inventado e adotado por alguns jornais ingleses o acrónimo PIIGS, num trocadilho com a palavra pigs (porcos): P de Portugal, I de Itália, outro I de Irlanda, G de Grécia e S de Espanha (Spain). Pois bem, descontand­o os irlandeses, um pouco deslocados nestas contas, quem manda hoje no “planeta futebol” são esses mesmos PIGS.

Aliás, para vincarmos ainda mais este domínio dos países do sul ou do Mediterrân­eo, acrescente­mos que, das seis finais nos torneios citados, apenas duas não foram totalmente disputadas por seleções representa­ntes de nações deste núcleo geográfico: depois da Alemanha ser finalista vencida no Europeu de 2008, agora foi a vez da Inglaterra ser derrotada no jogo decisivo, mas, em todas as outras quatro edições deste século XXI, França, Portugal e Itália (duas vezes) foram os restantes finalistas vencidos, a acentuar ainda mais um domínio que não passa despercebi­do.

Não se pense, apesar de tudo, que este domínio meridional tem sido exclusivo dos campeonato­s europeus. É que, também na principal prova de âmbito planetário tem sido notória idêntica tendência, uma vez que, em quatro das seis últimas edições realizadas, acabaram por ser seleções dos países citados a levantar o principal troféu: assim aconteceu com a França ainda no século XX, em 1998, e depois em 2018 (no último realizado), com a Itália em 2006 e com a espanhola Roja em 2010, no Mundial da África do Sul.

Nesta competição interconti­nental, a hegemonia apenas foi quebrada pelo Brasil na primeira final do século XXI, em 2002, e pela Alemanha em 2014, esta como exceção à regra de que já não faz qualquer sentido a frase de Lineker. Outro século, outros tempos. O futebol já não é o que era.

Itália: antes deste Europeu a Squadra Azzurra tinha ganho o Mundial de 2006

Espanha: entre Europeus e Mundiais, a Roja venceu três grandes troféus no século XXI

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