Caso pode causar sobressalto no empréstimo
Marisa Silva Monteiro, especialista na área, admite que este “venha a ser revisto” e até “abortado”
A operação Cartão Vermelho, lançada pelo Ministério Público e que investiga Luís Filipe Vieira, atualmente em prisão domiciliária, levou a sobressaltos não só no clube, mas também na SAD, nomeadamente em face das notícias da alegada futura venda de 25% do capital social da empresa. A transação das ações da sociedade benfiquista chegou a ser suspensa na passada segunda-feira por parte da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), mas o clima de incerteza e dúvidas que se tem vivido no seio das águias pode continuar a provocar estragos. “A incerteza é o pior ‘inimigo’ dos mercados, porque origina ordens de venda irracionais”, sublinha a O JOGO Marisa Silva Monteiro, advogada especialista em matérias financeiras.
Admitindo que “a suspensão de mandato de Luís Filipe Vieira e a nomeação do novo presidente, em princípio, diminuirá a incerteza em torno dos destinos do Benfica e da SAD”, Marisa Silva Monteiro, coordenadora de Direito Financeiro da JPAB, ressalva que “os mercados reagem sempre muito mal a cenários de incerteza”. Por isso, entende que a suspensão da venda dos títulos da SAD benfiquista era “um cenário muito provável”. “Sempre que houver dúvidas, incertezas ou acontecimentos que possam provocar ‘pânico’ nos mercados, a CMVM tem poderes para decretar a suspensão da negociação das ações”, explica, sendo que após esse facto os títulos estão em retoma e ontem fecharam a subir, nos 3,03 euros – acima dos 2,91 do dia em que Vieira foi detido –, levando a que a perda de capitalização seja agora pouco superior a um milhão: dos 70,84 M€ para os 69,69 M€.
Classificando este caso como um “acontecimento perturbador, de impacto demolidor” no mercado, a especialista jurídica na área financeira antevê até possíveis consequências no empréstimo obrigacionista lançado na passada semana pela SAD encarnada, e ao qual a sociedade benfiquista já anunciou ir proceder a uma adenda, após a detenção de Vieira e a nomeação de Rui Costa para presidente interino do clube e da SAD. “É natural que o processo venha a ser revisto. Há um dever de informação ao mercado, através da CMVM, e a Benfica SAD já o fez, dando nota de uma adenda ao prospeto do empréstimo obrigacionista, um ponto quente, porque ainda está a correr. Isto pode alterar a situação, até no plano de pagamento, nas taxas de juro”, explica, admitindo que em último caso “a operação pode até ser abortada”. “Nesse caso, quem já subscreveu seria reembolsado e a operação cancelada. Houve casos semelhantes no início da pandemia”, refere.
“A incerteza é o pior ‘inimigo’ dos mercados. Este foi um acontecimento de impacto demolidor”
Marisa Silva Monteiro Advogada especialista em matérias financeiras