O Jogo

A ingrata missão dos procurador­es

- António Barroso

C

t om o foco nos alegados crimes financeiro­s praticados por Luís Filipe Vieira, assim como pelos impactos que a situação provocou em vários setores, estou agora convicto de algo que sempre considerei: que ser procurador da República deve ser das mais difíceis profissões. Nos dias que correm, os cidadãos assemelham-se aos antigos romanos, cuja sede de vingança se saciava, apenas, com sangue de cristãos ou, mais civilizada­mente – para a época – com a morte de profission­ais do gládio e do pilo. Armando Vara foi ontem condenado a dois anos de prisão efetiva, mas, quem se desse ao trabalho de ler os comentário­s nas redes sociais, perceberia que o ex-político e ex-gestor ficou por degolar, de ser estropiado a céu aberto ou enrolado nas suas próprias vísceras e oferecido a pasto de um qualquer monstro carnívoro. Digo, de novo, ser procurador da República deve ser a mais ingrata das profissões do momento. Primeiro, porque é difícil arranjar prova até poder acusar alguém com muito poder, seja de que crime for. É um trabalho imenso e as malhas da Lei são mais enrodilhad­as que uma cortina de fios retirada de um programa de lavagem de duas horas. Um trabalho imenso e – garantem-me! – muito mal pago para a tecnicidad­e e qualidade que deve ter o resultado final de cada investigaç­ão.

A verdade é que, contas feitas, os últimos andamentos da via de crucificaç­ão de Vieira sintetizam-se assim: 1 - Para reduzir danos na crise institucio­nal, a direção do Benfica anunciou eleições antes do final do ano. Até lá, como se entenderão os pró-eleições com os pró-entronizaç­ão de Rui Costa, estando os pró-eternidade de Vieira a fazerem-se de mortos?; 2 - O Banco de Fomento - prioridade do País falhou a primeira jornada, por alegada impossibil­idade de inscrição do seu indigitado presidente do conselho de administra­ção, Vítor Fernandes, alvo de buscas no âmbito do “Cartão Vermelho”; 3 - A Bolsa mostrou o enésimo cartão amarelo à SAD benfiquist­a, embora, neste caso, seja admoestaçã­o estilo-Palhinha, cuja acumulação de amarelos ultrapassa os limites da lógica e da regra. Revela o jornal Público que os gestores do Novo Banco sabiam, desde 2015, que a empresa do presidente suspenso do Benfica tinha património muito valioso associado, mas, apesar disso, vendeu ao desbarato a dívida de Vieira, que ascendia a mais de 54 milhões de euros. Agora imaginem-se no papel dos procurador­es para provar o delito lesapátria...

Anunciadas eleições até final do ano, como se entenderão os pró-eleições com os pró-entronizaç­ão de Rui Costa?

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal