A ingrata missão dos procuradores
C
t om o foco nos alegados crimes financeiros praticados por Luís Filipe Vieira, assim como pelos impactos que a situação provocou em vários setores, estou agora convicto de algo que sempre considerei: que ser procurador da República deve ser das mais difíceis profissões. Nos dias que correm, os cidadãos assemelham-se aos antigos romanos, cuja sede de vingança se saciava, apenas, com sangue de cristãos ou, mais civilizadamente – para a época – com a morte de profissionais do gládio e do pilo. Armando Vara foi ontem condenado a dois anos de prisão efetiva, mas, quem se desse ao trabalho de ler os comentários nas redes sociais, perceberia que o ex-político e ex-gestor ficou por degolar, de ser estropiado a céu aberto ou enrolado nas suas próprias vísceras e oferecido a pasto de um qualquer monstro carnívoro. Digo, de novo, ser procurador da República deve ser a mais ingrata das profissões do momento. Primeiro, porque é difícil arranjar prova até poder acusar alguém com muito poder, seja de que crime for. É um trabalho imenso e as malhas da Lei são mais enrodilhadas que uma cortina de fios retirada de um programa de lavagem de duas horas. Um trabalho imenso e – garantem-me! – muito mal pago para a tecnicidade e qualidade que deve ter o resultado final de cada investigação.
A verdade é que, contas feitas, os últimos andamentos da via de crucificação de Vieira sintetizam-se assim: 1 - Para reduzir danos na crise institucional, a direção do Benfica anunciou eleições antes do final do ano. Até lá, como se entenderão os pró-eleições com os pró-entronização de Rui Costa, estando os pró-eternidade de Vieira a fazerem-se de mortos?; 2 - O Banco de Fomento - prioridade do País falhou a primeira jornada, por alegada impossibilidade de inscrição do seu indigitado presidente do conselho de administração, Vítor Fernandes, alvo de buscas no âmbito do “Cartão Vermelho”; 3 - A Bolsa mostrou o enésimo cartão amarelo à SAD benfiquista, embora, neste caso, seja admoestação estilo-Palhinha, cuja acumulação de amarelos ultrapassa os limites da lógica e da regra. Revela o jornal Público que os gestores do Novo Banco sabiam, desde 2015, que a empresa do presidente suspenso do Benfica tinha património muito valioso associado, mas, apesar disso, vendeu ao desbarato a dívida de Vieira, que ascendia a mais de 54 milhões de euros. Agora imaginem-se no papel dos procuradores para provar o delito lesapátria...
Anunciadas eleições até final do ano, como se entenderão os pró-eleições com os pró-entronização de Rui Costa?