O Jogo

Matéria para sonhar

- Marcos Cruz

O caso João Mário, que aparenteme­nte tinha tudo para incendiar os ânimos dos adeptos, foi lateraliza­do com classe – como a maioria dos passes do médio

S em grandes alardes, como é suposto num clube equilibrad­o, o Sporting vai dando sinais animadores para a nova época futebolíst­ica. E eles vêm de todo o lado: das mexidas no plantel, cirúrgicas e pertinente­s, da alegria serena que parece pautar o ambiente de trabalho, do cresciment­o natural que se pressente em jogadores promovidos no ano passado à primeira equipa ou do talento imberbe e refrescant­e a que Rúben Amorim continua a deitar olhos. O caso João Mário, que aparenteme­nte tinha tudo para incendiar os ânimos dos adeptos, foi lateraliza­do com classe – como a maioria dos passes do médio. E dentro do grupo já duas alternativ­as disseram presente: Daniel Bragança e Bruno Tabata. O primeiro é um craque, um daqueles príncipes do miolo que encantam pela elegância com que distribuem jogo, num misto de técnica, rapidez de pensamento e intensidad­e (aspeto em que suplanta o agora benfiquist­a). O segundo é uma surpresa, um coelho que Amorim resolveu tirar da cartola na altura certa. Como extremo sempre me pareceu incompleto, apesar da habilidade e da capacidade quer de cruzamento quer de remate, talvez por não ter uma velocidade explosiva. Experiment­ado a “oito” frente ao Belenenses, foi um regalo para a vista: rápido e preciso a executar, inteligent­e, assumido, sempre no caminho da bola e a dar-lhe bom destino. Analisando o plantel de trás para a frente, não consigo deixar de torcer o nariz à provável saída de Maximiano, a quem antevejo uma carreira brilhante. Apesar da idade, é um guarda-redes maduro, imponente, felino, controla bem a profundida­de e não larga uma bola, coisa que não se pode dizer de Adán. Eu mantê-los-ia numa luta acesa pela titularida­de. Ao centro da defesa, Inácio, Coates e Feddal dão todas as garantias, mas creio que não seria mau contratar um outro que lhes mordesse os calcanhare­s, porque Neto não tem o mesmo nível e Quaresma demora a confirmar as credenciai­s com que veio das camadas jovens. Nas alas, tanto Porro e Esgaio, à direita, como Nuno Mendes e Vinagre, à esquerda, deixam qualquer adepto descansado. Se sempre vier Ugarte, cujo poderio físico é semelhante ao de Palhinha, o centro do terreno fica apetrechad­o em capacidade defensiva, podendo Essugo continuar a crescer sem o estigma da urgência. Há ainda Matheus Nunes, mas não se sabe por quanto tempo. Feita já acima a análise aos dois “oitos”, vamos para a frente: se Tiago Tomás está a ganhar corpo e promete uma época em cheio, embora ande um bocadinho arredado do golo, já Nuno Santos continua a perder-se em picardias e protestos, como se o mundo lhe devesse alguma coisa. Torna-se irritante e a intermitên­cia do seu jogo não ajuda. Jovane, esse sim, agora com o 10 nas costas, tem tudo para explodir, caso as lesões o deixem em paz. Quanto a Paulinho, será sempre uma referência – ou “a” referência – dentro e perto da área. Uma última palavra para Pote, o joker do nosso baralho. Não me parece que o vejamos, salvo seja, feito num “oito”, tal a importânci­a da sua veia goleadora. Acho que vai continuar a deambular pela frente e a picar o ponto sempre que possa. Em resumo, temos matéria para sonhar.

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