“Quero trazer transparência”
Rui Costa abordou momento conturbado e rejeitou estar a pensar nas eleições “Não daria autorização [à gravação de Pinto da Costa na Luz]” “Não renego amizade com Vieira” “Vitória não vai ganhar a Jesus”
Garantindo que o ato eleitoral será realizado e abrindo a porta à revisão de estatutos, mas não agora, admite o “abalo completo” sentido no clube pela investigação (e detenção) ao antigo líder
Na primeira entrevista como presidente do Benfica, cargo que ocupa após a detenção, no âmbito do caso “Cartão Vermelho”, e consequente renúncia de Luís Filipe Vieira, Rui Costa abordou o momento atribulado do clube, frisou não ser “ingrato” para com o antigo líder e deixou evidentes os seus objetivos. A começar pela “transparência”. “Não temos nada a esconder. O Benfica tem de ser falado pelas boas razões e não pelas más. Tudo no Benfica tem de ser feito com a máxima transparência. É isso que quero trazer, é a minha primeira premissa enquanto presidente. Não vou abdicar da transparência máxima nas minhas ações”, assegurou, à TVI, deixando um tabu quanto à sua candidatura. “Todos os que trabalham comigo estão proibidos de falar em eleições. Tenho tempo para pensar nisso”, atirou, garantido que estas serão realizadas “até ao final do ano”.
Frisando que “podia levar o mandato até ao fim sem eleições”, Rui Costa realçou contudo que “jamais aceitaria ser príncipe herdeiro”. “Se for um dia presidente, serei única e exclusivamente por vontade dos sócios”, atirou, admitindo “rever estatutos, mas não neste período”. “Temos de adaptar os estatutos às novas realidades e aos desejos dos sócios. Mas tudo a seu tempo”, defendeu, “orgulhoso de todo o apoio” recebido da parte “da Direção e da administração da SAD”.
Explicando que falou “pela última vez” com Luís Filipe
RUI COSTA
Vieira “na véspera” de este ser detido, ou seja, a 6 de julho, assumiu o choque pela situação. “Fiquei perplexo, como qualquer pessoa que lidasse com ele ou qualquer benfiquista. Jamais poderia esperar, adivinhar ou sonhar que aquele dia acabasse como acabou e que o presidente Luís Filipe Vieira acabasse por ser detido. Foi dramático”, confessou, admitindo ter pensado, fruto “das várias buscas e processos” de que “infelizmente o Benfica” tem sido alvo “nos últimos tempos, sem qualquer incriminação”, que a operação em causa “fosse relativa a processos já em curso”. “Não vou esconder que, de jogadores a funcionários, foi um abalo completo”, confidenciou.
Rui Costa reconheceu que a situação “parecia irreal e um filme à distância, à qual não queria assistir”, mas acredita na inocência de Vieira. “Até hoje não é acusado. Temos a esperança que o processo não passe disto, quer para ele enquanto cidadão quer como presidente do Benfica. Significava que o Benfica não estava envolvido em nada”, apontou, referindo até que no Benfica Campus “o desagrado pelo que estava a acontecer era enorme”. “Foi um choque e um dia dramático para todos.”
Perante o sucedido, Rui Costa tornou-se presidente do Benfica. Declarando que “não houve tempo para pensar”, explicou: “Não podia fugir a esta responsabilidade. Era o número 2 da Direção. Comecei o dia como diretordesportivo e acabei como presidente. Não era o que agradava naquele dia, mas ao mesmo tempo não podia tomar outra opção.” Na tomada de posse, não proferiu o nome de Luís Filipe Vieira, mas o dirigente garantiu que “não foi uma exclusão” de Vieira. “Isso nunca será feito.
A obra que fez no Benfica nunca será apagada por ninguém. A história dará a Luís Filipe Vieira os méritos pelo que fez no Benfica”, disse, explicando a ideia do seu discurso: “Pretendeu-se unicamente defender o Benfica de forma intransigente. Estávamos no decorrer do empréstimo obrigacionista e em negociações com vários jogadores e clubes para entradas e saídas. O facto de não referir Luís Filipe Vieira foi a pensar unicamente no presente e no futuro do Benfica, para mostrar que não havia um vazio entre presidências. Não esqueço Luís Filipe Vieira, até pela ligação humana que tenho com ele.”
“Pouco importava o Rui Costa ou o Luís Filipe Vieira. Tenho a certeza que ele faria o mesmo comigo. Nenhum de nós está acima do clube, que precisava de ser defendido”, reforçou, considerando que “seria uma cobardia não
assumir” o cargo. Mostrando “compreensão” pela reação de Vieira, contada pelo seu advogado Magalhães e Silva, a propósito da sua tomada de posse – “Não é uma posição fácil, já não se ver como presidente”, analisou –, ressalvou: “Ele sabe que eu não sou ingrato. Não vivo com esse trauma, tenho a consciência tranquila. Não vou renegar a amizade que tenho com ele.”
Deixando “um abraço de muita força e coragem” ao antigo líder , explicou, a propósito da investigação às assinaturas nos documentos, não ter tido “dúvidas” quanto a essas questões. “Podem ser assinados por qualquer um dos administradores que naquele momento estejam na SAD e disponíveis para assinar. Eu muitas vezes estou no Seixal e os contratos são assinados na Luz. Em nenhuma circunstância posso pensar que estou a assinar um documento que não seja verdadeiro. Faz parte da vida de um clube, há contratos para assinar todos os dias, com muito dinheiro. Jamais posso pensar que estou a assinar uma coisa que não seja legal”, afirmou, ele que se congratulou com o empréstimo obrigacionista – “Tememos, pela conjuntura, que não se conseguisse o resultado”, disse – e reforçando ser “inoportuno, até por como nasceu o processo”, falar com John Textor, investidor que quer comprar 25% da SAD.
“Contratos? Não posso pensar que estou a assinar um documento que não seja verdadeiro”
“Podia levar o mandato até ao fim sem eleições, mas jamais aceitaria ser príncipe herdeiro”
“Fiquei perplexo. Parecia irreal e um filme. Temos a esperança que o processo não passe disto. A obra de Luís Filipe Vieira não será apagada por ninguém”