O presidente “a mim não engana”
Jorge Fonseca pôs o nome dele e o de Portugal no medalheiro dos Jogos, com um bronze que o próprio reconheceu ficar aquém do esperado, num dia em que o público conheceu o Rui Costa presidencial
1 O bronze de Jorge Fonseca no judo foi o tiro de partida no foguetório que é o desporto preferido dos nossos políticos nesta era em que não comunicar é não existir: a corrida pelas felicitações. A primeira medalha lusa em Tóquio foi, antes de tudo, o prémio para o talento e empenho do atleta, que reconheceu alguma mágoa porque ambicionava o ouro - objetivo legítimo para um bicampeão mundial e respetivos fãs. O discurso descomplexado e o jeito brincalhão, aliados aos excelentes resultados, fizeram dele uma das principais figuras do desporto nacional, até por se perceber ser genuíno e não serem palavras vãs a promessa de ir atrás do ouro em 2024. Só tive pena que o protagonismo (merecido) de Jorge Fonseca tivesse ofuscado uma reflexão com tanto de “soundbyte” como de autópsia do desporto português deixada pelo presidente da federação de remo: “Temos um presidente [da República] que diz que somos os melhores do mundo. A mim não engana. Enquanto pensarmos assim, não vamos trabalhar realmente para o sermos”. Jorge Fonseca sabe que é bom e nós sabemos que trabalha!
2 Rui Costa surgiu bem preparado na primeira entrevista como presidente do Benfica. E, dado o passado do diretor de comunicação das águias, Pedro Pinto, na TVI, dá vontade de fazer uma comparação jocosa com os observadores de adversários... A atitude de “estadista” alternou com a de apaixonado pelo clube, onde emula craques como Beckenbauer, Facchetti ou Rummenigge, também presidentes do emblema do coração, e evocando o Rui Costa que chorou na Luz após marcar pela Fiorentina. O “fantasista” negou ter como horizonte as eleições, caso contrário teria sido um grande momento.