Bons prenúncios
D esde sempre me habituei a ouvir a máxima que explica que “não há uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão”. Rui Costa levou-a tão a peito que, sujeitando-se na TVI ao interrogatório de um jornalista consagrado em vez de falar para a BTV e para o diretor de comunicação do clube, causou mais do que uma boa, causou uma ótima impressão: sereno e tranquilo, não fugiu a uma única questão e foi direto e convincente nas respostas.
Aproveitou para arrumar de vez com um assunto que fazia as delícias dos que pagam para ver o Benfica em especulativos apuros – o dos silêncios e das supostas infidelidades em relação a Luís Filipe Vieira. Falou muito e falou bem sobre o ex-presidente, foi justo e reconhecido para com a sua obra, explicou como têm que ser defendidos os interesses do clube nesta difícil fase da época.
Fez mais uma demonstração de genuíno benfiquismo e acrescentou-lhe espírito de missão. Com isto impediu um indesejável vazio de poder e garantiu o regular funcionamento do clube e da SAD. Advertiu que o Benfica está sempre acima de quem quer que seja e, por fim, confirmou de viva-voz o que já tinha sido anunciado através de comunicados oficiais: uma auditoria de gestão e eleições antecipadas.
Aqui chegados, cabe a pergunta: pode um eterno número dois transformar-se num líder de mão cheia? A resposta terá que ser dada mais por atos do que por palavras, pelo que só com o tempo chegará a desejada confirmação.
O resultado do empréstimo obrigacionista foi outra boa notícia da semana: a procura ultrapassou, é certo que tangencialmente, mas ultrapassou, a oferta. Para os que têm memória seletivamente curta, convém lembrar que já a operação corria quando Vieira foi detido para interrogatório e mais o que se seguiu.
Houve, porém, quem muito se tivesse incomodado com este inegável sucesso. Basta teclar rewind nos comandos das boxes e testemunhar a azia de comentadores portistas e sportinguistas, que logo explicaram que a procura tinha era que ter sido duas ou três vezes superior à oferta ou que o número de subscritores fora muito baixo! De caminho, convenientemente ignoraram que o FC Porto entrou no ano passado em default (€35 milhões) e vive há muito debaixo do fair play financeiro da UEFA, e que o Sporting beneficiou de um escandaloso perdão bancário (70% de uma dívida de €135 milhões!), que em maio de 2018 teve também o seu default (€30 milhões), e, depois, no final desse mesmo ano, não teve procura suficiente para cobrir o empréstimo obrigacionista que colocou no mercado (de montante inferior e juros superiores ao do Benfica).
Isto posto, falta o mais importante: a equipa apresentar-se ao melhor nível quarta-feira, em Moscovo, e, seis dias depois, na Luz. Têm a palavra Jorge Jesus, a quem se pede que seja tão assertivo quanto Rui Costa, e os jogadores, que se espera superem, mesmo que tangencialmente, o Spartak – nenhum benfiquista lhes exige, ainda que deseje, que o façam por dois ou três.
PS – Mesmo não sendo conhecido pelos seus dotes de comunicador, escusava o presidente do Sporting de meter no mesmo saco os processos Apito Dourado e Cartão Vermelho. O Apito Dourado teve a ver com a verdade desportiva e o FC Porto como único beneficiário; o Cartão Vermelho com alegados danos financeiros causados por Luís Filipe Vieira a terceiros, entre eles o próprio Benfica, que será, pois, um dos prejudicados. Compreendemos que interesse a Varandas baralhar tudo, contudo, para ser um pouco coerente consigo próprio, não podia ter deixado de referir também os processos Cashball e Cardinal.