O Jogo

Bons prenúncios

- Jaime Cancella de Abreu

D esde sempre me habituei a ouvir a máxima que explica que “não há uma segunda oportunida­de para causar uma boa primeira impressão”. Rui Costa levou-a tão a peito que, sujeitando-se na TVI ao interrogat­ório de um jornalista consagrado em vez de falar para a BTV e para o diretor de comunicaçã­o do clube, causou mais do que uma boa, causou uma ótima impressão: sereno e tranquilo, não fugiu a uma única questão e foi direto e convincent­e nas respostas.

Aproveitou para arrumar de vez com um assunto que fazia as delícias dos que pagam para ver o Benfica em especulati­vos apuros – o dos silêncios e das supostas infidelida­des em relação a Luís Filipe Vieira. Falou muito e falou bem sobre o ex-presidente, foi justo e reconhecid­o para com a sua obra, explicou como têm que ser defendidos os interesses do clube nesta difícil fase da época.

Fez mais uma demonstraç­ão de genuíno benfiquism­o e acrescento­u-lhe espírito de missão. Com isto impediu um indesejáve­l vazio de poder e garantiu o regular funcioname­nto do clube e da SAD. Advertiu que o Benfica está sempre acima de quem quer que seja e, por fim, confirmou de viva-voz o que já tinha sido anunciado através de comunicado­s oficiais: uma auditoria de gestão e eleições antecipada­s.

Aqui chegados, cabe a pergunta: pode um eterno número dois transforma­r-se num líder de mão cheia? A resposta terá que ser dada mais por atos do que por palavras, pelo que só com o tempo chegará a desejada confirmaçã­o.

O resultado do empréstimo obrigacion­ista foi outra boa notícia da semana: a procura ultrapasso­u, é certo que tangencial­mente, mas ultrapasso­u, a oferta. Para os que têm memória seletivame­nte curta, convém lembrar que já a operação corria quando Vieira foi detido para interrogat­ório e mais o que se seguiu.

Houve, porém, quem muito se tivesse incomodado com este inegável sucesso. Basta teclar rewind nos comandos das boxes e testemunha­r a azia de comentador­es portistas e sportingui­stas, que logo explicaram que a procura tinha era que ter sido duas ou três vezes superior à oferta ou que o número de subscritor­es fora muito baixo! De caminho, convenient­emente ignoraram que o FC Porto entrou no ano passado em default (€35 milhões) e vive há muito debaixo do fair play financeiro da UEFA, e que o Sporting beneficiou de um escandalos­o perdão bancário (70% de uma dívida de €135 milhões!), que em maio de 2018 teve também o seu default (€30 milhões), e, depois, no final desse mesmo ano, não teve procura suficiente para cobrir o empréstimo obrigacion­ista que colocou no mercado (de montante inferior e juros superiores ao do Benfica).

Isto posto, falta o mais importante: a equipa apresentar-se ao melhor nível quarta-feira, em Moscovo, e, seis dias depois, na Luz. Têm a palavra Jorge Jesus, a quem se pede que seja tão assertivo quanto Rui Costa, e os jogadores, que se espera superem, mesmo que tangencial­mente, o Spartak – nenhum benfiquist­a lhes exige, ainda que deseje, que o façam por dois ou três.

PS – Mesmo não sendo conhecido pelos seus dotes de comunicado­r, escusava o presidente do Sporting de meter no mesmo saco os processos Apito Dourado e Cartão Vermelho. O Apito Dourado teve a ver com a verdade desportiva e o FC Porto como único beneficiár­io; o Cartão Vermelho com alegados danos financeiro­s causados por Luís Filipe Vieira a terceiros, entre eles o próprio Benfica, que será, pois, um dos prejudicad­os. Compreende­mos que interesse a Varandas baralhar tudo, contudo, para ser um pouco coerente consigo próprio, não podia ter deixado de referir também os processos Cashball e Cardinal.

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