O Jogo

Um aperitivo a deixar água na boca

- José João Torrinha

H á oito dias escrevia neste espaço que as dúvidas acerca da política do Vitória no que tocava à formação iam começar a ser dissipadas no primeiro jogo oficial da época.

Assim foi. O jogo contra o Leixões, com a devida ressalva de que se tratava somente da estreia, numa competição “menor” e contra um adversário literalmen­te de outro campeonato, deu-nos um vislumbre do que aí pode vir.

As primeiras sensações não foram famosas. Num onze com um regresso, uma promoção e uma aquisição, a nossa exibição teimava em aparentar-se com aquelas do ano passado. A equipa exercia um (natural) domínio, mas faltava sempre qualquer coisa não se libertava daquela espécie de tristeza que se tornou a infeliz imagem de marca da época que há pouco findou.

De positivo, todavia, as tais três novidades. Borevkovic exibia-se seguro cá atrás, e mandava uma mensagem clara: este lugar é meu. Rafa Soares, por seu turno, exibia as múltiplas razões pelas quais nunca deveria ter saído de Guimarães.

Mas o destaque, esse, era assumido por Tomás Händel. Para muitos um ilustre desconheci­do (como para o relatador do jogo, que insistia em chamar-lhe “Tómas” como se ele fosse estrangeir­o), para os vitorianos a confirmaçã­o do muito que dele se espera. Sentido posicional, técnica, passe curto e passe longo, Händel fez uma exibição de encher o olho. A chegada de Alfa Semedo era necessária, dada a escassez de opções, mas depois de ver a exibição do menino temos a certeza que a luta pelo lugar vai ser acesa.

O intervalo fez-nos bem. A equipa entrou mais motivada e mandona e só algum desacerto na frente ia impedindo que o marcador virasse. À maior vivacidade não foi alheia a introdução de mais juventude. E acabou por ser bonito ver Gui a não abanar quando lhe deram a bola para os pés; Herculano a começar a percorrer um trajeto que todos esperamos venha a ser de grande sucesso e Maga a cumprir o duplo sonho de jogar e marcar pelo Vitória. E que toque bonito foi o dele.

Mas quem acabou por tudo revolucion­ar foi outro que entrou e que representa um dos maiores mistérios deste clube. Como é que alguém com a qualidade de Janvier ainda não explodiu? Alguma coisa deve explicar este estranho fenómeno. Não sei se ele treina mal, ou se treina pouco, porque dele só vejo os jogos. E é nos jogos que dá para ver que não deverá haver muitos jogadores em

Portugal com aquela qualidade de passe. Entrou e deu uma velocidade e verticalid­ade à equipa que imediatame­nte pôs o adversário a defender em cima da linha da grande área. Será este o seu ano?

Aqui chegados, um pouco de sangue frio: foi só um jogo e contra uma equipa de escalão inferior, ainda por cima diminuída. É preciso pés no chão e perceber que vem aí uma maratona e que por isso ainda haverá reforços que terão de chegar. Mas ficamos com um bocadinho de água na boca, lá isso ficamos.

É preciso pés no chão e perceber que vem aí uma maratona e que por isso ainda haverá reforços que terão de chegar

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Pontapé para a clínica

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