O Jogo

O triste país das medalhas

Os Jogos Olímpicos de Tóquio terminam hoje. Foi a melhor prestação de sempre. Quatro medalhas! Não é pouco?

- carlos.p.santos@ojogo.pt Carlos Pereira Santos

N a próxima quinta-feira faz 37 anos que me deitei um bocadinho mais tarde, eu e mais alguns milhões de portuguese­s, olhos esbugalhad­os no ecrã da minha moderna (então, moderna...) Philips. Carlos Lopes corria e vencia a maratona nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, deixava o mundo de boca aberta e Portugal a bocejar durante o dia, porque a noite tinha sido longa. Longa, mas feliz, como não havia memória. Hoje terminam os Jogos Olímpicos de Tóquio e Portugal conseguiu a melhor prestação de sempre. Ainda assim, estamos a falar de quatro medalhas e uns tantos diplomas. Sim, o país é pequenino, mas consegue fazer grandes coisas Vasco da Gama também era pequenino e olhem onde chegou. O problema será sempre fazermos uma festa com algo que devia ser natural, conquistar medalhas. Somos muito bons a condecorar os vencedores, a felicitá-los com mensagens de políticos bem falantes, a esperá-los no aeroporto, como merecem. Portugal tem um problema (se fosse só um...). Continua a tratar a educação física nas escolas como uma disciplina sem interesse, ao nível da educação musical, em que os miúdos são ensinados a tocar flauta, e mal, para martírio dos ouvidos dos pais, e também não devia ser assim. Os Estados Unidos são um país imenso e ganham muitas medalhas, mas a educação desportiva começa nas escolas e isso também é possível fazer num país pequenino, aliás, se calhar até é mais fácil. Mas também o que esperar de um país que em 10 séculos de existência não conseguiu ainda povoar todo o território, atirando para o esquecimen­to as zonas interiores - e isto é um facto que se deve à falta de inteligênc­ia, à falta de vontade política. Portugal é o litoral e o resto, quase todo o resto, faz parte de uma paisagem - bonita, é verdade, mas que não dá medalhas e, sejamos sinceros, dá poucos votos. Enfim, valha-nos as medalhas. E viva o Carlos Lopes!

Continuamo­s a tratar a educação física nas escolas como uma disciplina banal. Mas é em pequenino que se aprende a ser grande

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