O Jogo

Por favor, não vendam o Matheus Nunes

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Depois de uma temporada inesquecív­el, com um orçamento muito inferior ao dos principais rivais, é quase herético um sportingui­sta não acreditar em Rúben Amorim. O treinador tem feito crescer toda a gente e não há razões para duvidar de que essa tendência se mantenha ao longo da época. Ainda assim, e como nenhum ser humano é omniscient­e, permito-me discordar dele em duas ideias que defende: a de que Adán dá mais garantias na baliza do que Maximiano e a de que o plantel não precisa de contratar outro ponta-delança. A primeira parte do jogo contra o Vizela fez-me reforçar a convicção de que o guarda-redes espanhol não encaixa as bolas com a segurança do seu concorrent­e e treme em demasia quando o adversário aposta na pressão alta e a equipa recorre a ele para poder sair a jogar. Lá na frente, e embora tenha acabado por marcar um golo e fazer uma assistênci­a, Paulinho demora a provar que não foi um jogador caro. Com o Vizela já esgotado, encostou para o terceiro, mas enquanto a equipa nortenha teve fôlego, e convém assinalar que ele se bateu contra dois centrais improvisad­os, limitou-se a uma série de passes mal medidos e duas oportunida­des falhadas: um cabeceamen­to fraco e um remate que deu em penálti – por causa das estúpidas leis que hoje vigoram – quando poderia e talvez devesse ter dado em golo. A primeira metade da partida foi, na verdade, dececionan­te para quem viu a final da Supertaça contra o Braga. Atrapalhaç­ão defensiva, que só não redundou em golo madrugador do Vizela por causa do VAR, incapacida­de de romper a malha atrevida da equipa minhota, perda de grande parte das disputas de bola a meio-campo e desacerto na finalizaçã­o. Se já aí se provava a razão que assistira a Rúben Amorim para, antes da partida, advertir os seus jogadores de que teriam de deixar tudo em campo, sob pena de apanharem uma surpresa, melhor ainda deve ter estado o técnico ao intervalo, pois a equipa que reentrou não parecia de todo a mesma, embora fosse. Parte desse cresciment­o até se pode entender pela tendência que o Sporting tem revelado de estudar primeiro e se adaptar depois, mas guardar o rigor e a criativida­de para a fase decisiva do jogo – onde até, valha a verdade, poderia ter construído um resultado mais volumoso – talvez seja confiar demasiado na sorte, embora Rúben Amorim se declare dela muito íntimo. Pote, então, foi do oito ao oitenta: ausente na metade inicial, brilhante na final. Houve desempenho­s interessan­tes, como os de

“Temos o melhor meio-campo do país, há que seguir assim. Matheus Nunes tem classe e assume preponderâ­ncia”

Vinagre, Palhinha e Inácio (cada vez mais desenvolto com bola), mas a escolha de melhor em campo, para mim, não fossem os dois golos do nosso bombardeir­o, só poderia recair num jogador: Matheus Nunes. Que classe tem ele, que preponderâ­ncia assume no miolo. Digo-o hoje sem dúvidas, e estou convicto de que Rúben Amorim me acompanha nisto: vendê-lo agora é das maiores asneiras que podemos fazer. Temos o melhor meio-campo do país, há que seguir assim. E, enquanto equipa, que me desculpe o treinador, talvez não nos fizesse mal, doravante, ir com um bocadinho mais de sede ao Pote.

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Marcos Cruz Dente de leão

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