O Jogo

A difícil arte de bem decidir e melhor comunicar

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T er responsabi­lidades é ter que tomar decisões. No caso dos dirigentes desportivo­s, são decisões sujeitas a um grau de escrutínio só comparável a muito poucos outros decisores. Por outro lado, decidir é desagradar. Haverá sempre quem não concorde com os rumos tomados. É e será sempre assim. Quando se anunciou que o próximo campeonato voltaria a ter público nas bancadas, mas que, pelo menos num primeiro momento, o acesso seria rateado, o Vitória viu-se confrontad­o com uma decisão a tomar. E isto é assim, desde logo porque estamos a falar de um clube em que os seus adeptos fazem mesmo questão de marcar presença nos jogos, coisa infelizmen­te rara no nosso país. A hipótese de venda de lugares anuais estava, à partida, afastada, uma vez que pura e simplesmen­te não há lugares que cheguem para todos. Perante essa impossibil­idade, o clube decidiu cobrar bilhetes jogo a jogo. Esta opção contempla alguns problemas. O primeiro é a questão da equidade. É que chegamos a este momento depois de muitos adeptos terem pagou um lugar anual (em 2019/2020) que não puderam fruir até ao fim. E depois de uma outra época em que se continuou a pagar as quotas sem se poder aceder ao D. Afonso Henriques. Em cima disto, temos uma situação social degradada, a qual leva a que, para muitas famílias, mais sacrifício­s se revelem muito difíceis de suportar. Aqui chegados, importa dizer o seguinte: é evidente que os clubes precisam das receitas da venda de lugares anuais, sendo certo que quem gere tem de ter a responsabi­lidade de não abdicar de réditos que possam fazer perigar o orçamento do clube. É bom que todos tenhamos isto em conta. Não era, por isso, uma decisão fácil. O preço dos bilhetes foi comunicado aos associados esta semana. E se acima referimos a dificuldad­e que se coloca nos ombros de quem decide, aqui importa deixar claro que tão importante como a decisão em si é a forma como a mesma é comunicada. Uma boa medida mal comunicada pode tornar-se uma má media. Ora, o que se assistiu esta semana foi o anúncio do preçário e logo de seguida, em face das reações, um ajuste/ esclarecim­ento ao mesmo. Ora, das duas uma. Ou o segundo anúncio constitui um recuo face ao que estava previsto; ou já estava pensado mas não tinha sido anunciado. Na primeira hipótese teríamos uma primeira má decisão e na segunda um caso de má comunicaçã­o.

A ideia de descontar na cadeira de 2022/2023 o valor que os adeptos paguem agora a mais (relativame­nte ao custo do lugar anual) até pode ser uma atenuante, mas talvez houvesse outras soluções menos pesadas para os associados e que não retirassem já receita a uma época que ainda vem longe. Dir-me-ão que falar é fácil para quem não tem de tomar este tipo de decisões, o que é verdade. Mas, até por isso, em matéria tão sensível, era muito importante uma melhor explicação para todos.

A ideia de descontar na cadeira de 2022/23 o valor que os adeptos paguem agora a mais até pode ser uma atenuante, mas talvez houvesse outras soluções menos pesadas para os sócios

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Pontapé para a clínica José João Torrinha

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