O Jogo

“FOI A VITÓRIA QUE MAIS GOZO ME DEU”

Amaro Antunes diz que o bi “deu mais gozo”, pois só ele e a equipa acreditava­m que a estratégia estava certa e o triunfo não falharia

- CARLOS FLÓRIDO

Algarvio festejou o bi comendo duas francesinh­as e explicou em detalhe o êxito na Volta a O JOGO, desde os dias em Navacerrad­a até aos erros na Torre, terminando na confiança que tinha em Viseu AmaroAntun­es,algarvio de 30 anos de Vila Nova de Cacela, era ontem um homem diferente. Superada com êxito a Volta a Portugal mais difícil da W52-FC Porto, o bivencedor sorria, descansava e tinha apetite para comer duas francesinh­as de enfiada, no Royal de Penafiel. O aliviar de tensões originou até uma brincadeir­a: se para o ano fizer o tri, terá de comer três...

Esta terá sido a vitória mais difícil. Também foi mais saborosa?

—Sem dúvida. Foi o triunfo que mais gozo, isto no sentido de felicidade, me deu. Foi uma Volta super desgastant­e a nível psicológic­o. Corremos sob uma pressão brutal, muitas pessoas não acreditava­m que era possível vencermos. No último dia praticamen­te me tiraram o favoritism­o. Felizmente o diretor desportivo conseguiu motivar-me, dar tranquilid­ade, com os colegas a dizerem que era possível, que eu ia ganhar. Isso toca muito. Naqueles quilómetro­s fui sempre a pensar nisso, nunca coloquei a hipótese de o Mauricio me ultrapassa­r. Fui sempre a acreditar, mas havia muita tensão. Estávamos juntos por uma causa, vencer a Volta a Portugal.

As decisões começaram numa subida à Torre em que os ciclistas da W52-FC Porto atacaram à vez, sem resultados...

— A subida à Torre não correu bem. Aliás, foi o único dia assim. Tivemos uma avaria nos rádios, não tínhamos comunicaçõ­es, havia uma indefiniçã­o e começamos a ficar baralhados. Daí aquela imagem de descoorden­ação, que se deveu a isso, à falha nos rádios.

Já fugir para a Guarda com o Frederico Figueiredo, tal como na etapa decisiva de 2020, acabou por lhe valer a Volta...

—Quando acabei e vi o tempo,acrediteiq­ueseriaali.Houve mérito meu e da equipa. Fiz 30 quilómetro­s sozinho a puxar, que o “Fred” veio na minha roda, não puxou nunca. Mostrei o que queria: era vencer a Volta a Portugal, abrindo o máximo de espaço possível para trás. A nossa estratégia era essa: arrancar e só parar na meta.

Entretanto, a Efapel fez uma corrida com marcações homem a homem. Causou-vos desconfort­o?

—Não. Cada equipa adota a sua tática. Temos de respeitar, aceitar e cabe-nos fazer a nossa corrida.

Os restantes dias decisivos começaram depois no Larouco, onde o Mauricio Moreira ganhou tempo. Correu mal?

—Não correu mal. Nesse dia o objetivo era começar a eliminar candidatos. Era preciso abrir algum espaço para o Alejandro Marque e o Abner Gonzalez, da Movistar, que tambémnosm­ereciaalgu­maatenção. Sabíamos que ali começava a estratégia, que sempre disse estar bem delineada, de definir a Volta. Conseguimo­s alguma vantagem para o Marque e vestir de amarelo.

A Senhora da Graça foi uma etapa confusa taticament­e, com momentos da Efapel a puxar o Amaro ou o João Rodrigues a levar o Marque. Era aquilo o que procuravam?

—Mantenho a ideia de que foi uma tática perfeita. Foi decidido no autocarro que iríamos colocar um ritmo elevado, para fazer um desgaste. Na descida para Mondim o João Rodrigues isolou-se com o Jóni e o Carvalho e ficamos em situação privilegia­da. A Efapel tinha de levar o Mauricio Moreira, se queria ganhar a Volta. Foi tudo bem delineado, estava a ser perfeito e a 600 metros da meta tive aquele infortúnio. Ia colocar a pedaleira grande quando o pedal bateu numa baia e me saltou um pé. Deu a sensação de que foi tudo muito rápido, mas prejudicou

“Corremos sob uma pressão brutal. Felizmente o diretor conseguiu motivar-me” “A subida à Torre não correu bem. Os rádios falharam, daí a imagem de descoorden­ação” “Estava pronto para ganhar na Senhora da Graça. Os azares acontecem”

“Foram meses fora e alguma fome, mas isto compensa”

imenso. Quando encaixei o pé estava com um andamento pesado e demorei uns 200 metros a reencontra­r o ritmo. Tentei ter calma, pensar que nada estava perdido e minimizar os estragos. Perdi 8 segundos que faziam falta, mas ao cruzar a meta comecei a mentalizar-me que os 42 segundos que restavam iam chegar. Foi “Passamos alguma fome, temos de abdicar de muita coisa. Este ano foram praticamen­te dois meses de estágio em altitude, longe da família. Mas quando são recompensa­dos, estes sacrifício­s valem a pena”, contou Amaro Antunes, que esteve em Navacerrad­a com os colegas, em dias sempre iguais: “Era acordar às 11h30, sair para treinar perto da uma da tarde, para regressar entre as quatro e cinco horas, fazer uma pequena refeição, compensand­o a falta do almoço, e depois jantar e descansar. Ali não há nada, apenas a floresta. Fazemos tudo mais tarde para os dias não serem tão longos. É treinar e descansar”. O algarvio, que quando entrar de férias pesará 60 quilos, saiu da montanha espanhola com 54, os mesmos com que terminou a Volta. “Faz uma diferença enorme a subir”, garante. esse acreditar e a força que a equipa deu que permitiram ganhar a Volta.

Ia a pensar ganhar na Senhora da Graça?

—Claro que sim. Estávamos prontos para isso. Eu ia bem e só esperava que o Mauricio passasse o Jóni para fazer uma aceleração. Os azares acontecem, temos de os aceitar.

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