“FOI A VITÓRIA QUE MAIS GOZO ME DEU”
Amaro Antunes diz que o bi “deu mais gozo”, pois só ele e a equipa acreditavam que a estratégia estava certa e o triunfo não falharia
Algarvio festejou o bi comendo duas francesinhas e explicou em detalhe o êxito na Volta a O JOGO, desde os dias em Navacerrada até aos erros na Torre, terminando na confiança que tinha em Viseu AmaroAntunes,algarvio de 30 anos de Vila Nova de Cacela, era ontem um homem diferente. Superada com êxito a Volta a Portugal mais difícil da W52-FC Porto, o bivencedor sorria, descansava e tinha apetite para comer duas francesinhas de enfiada, no Royal de Penafiel. O aliviar de tensões originou até uma brincadeira: se para o ano fizer o tri, terá de comer três...
Esta terá sido a vitória mais difícil. Também foi mais saborosa?
—Sem dúvida. Foi o triunfo que mais gozo, isto no sentido de felicidade, me deu. Foi uma Volta super desgastante a nível psicológico. Corremos sob uma pressão brutal, muitas pessoas não acreditavam que era possível vencermos. No último dia praticamente me tiraram o favoritismo. Felizmente o diretor desportivo conseguiu motivar-me, dar tranquilidade, com os colegas a dizerem que era possível, que eu ia ganhar. Isso toca muito. Naqueles quilómetros fui sempre a pensar nisso, nunca coloquei a hipótese de o Mauricio me ultrapassar. Fui sempre a acreditar, mas havia muita tensão. Estávamos juntos por uma causa, vencer a Volta a Portugal.
As decisões começaram numa subida à Torre em que os ciclistas da W52-FC Porto atacaram à vez, sem resultados...
— A subida à Torre não correu bem. Aliás, foi o único dia assim. Tivemos uma avaria nos rádios, não tínhamos comunicações, havia uma indefinição e começamos a ficar baralhados. Daí aquela imagem de descoordenação, que se deveu a isso, à falha nos rádios.
Já fugir para a Guarda com o Frederico Figueiredo, tal como na etapa decisiva de 2020, acabou por lhe valer a Volta...
—Quando acabei e vi o tempo,acrediteiqueseriaali.Houve mérito meu e da equipa. Fiz 30 quilómetros sozinho a puxar, que o “Fred” veio na minha roda, não puxou nunca. Mostrei o que queria: era vencer a Volta a Portugal, abrindo o máximo de espaço possível para trás. A nossa estratégia era essa: arrancar e só parar na meta.
Entretanto, a Efapel fez uma corrida com marcações homem a homem. Causou-vos desconforto?
—Não. Cada equipa adota a sua tática. Temos de respeitar, aceitar e cabe-nos fazer a nossa corrida.
Os restantes dias decisivos começaram depois no Larouco, onde o Mauricio Moreira ganhou tempo. Correu mal?
—Não correu mal. Nesse dia o objetivo era começar a eliminar candidatos. Era preciso abrir algum espaço para o Alejandro Marque e o Abner Gonzalez, da Movistar, que tambémnosmereciaalgumaatenção. Sabíamos que ali começava a estratégia, que sempre disse estar bem delineada, de definir a Volta. Conseguimos alguma vantagem para o Marque e vestir de amarelo.
A Senhora da Graça foi uma etapa confusa taticamente, com momentos da Efapel a puxar o Amaro ou o João Rodrigues a levar o Marque. Era aquilo o que procuravam?
—Mantenho a ideia de que foi uma tática perfeita. Foi decidido no autocarro que iríamos colocar um ritmo elevado, para fazer um desgaste. Na descida para Mondim o João Rodrigues isolou-se com o Jóni e o Carvalho e ficamos em situação privilegiada. A Efapel tinha de levar o Mauricio Moreira, se queria ganhar a Volta. Foi tudo bem delineado, estava a ser perfeito e a 600 metros da meta tive aquele infortúnio. Ia colocar a pedaleira grande quando o pedal bateu numa baia e me saltou um pé. Deu a sensação de que foi tudo muito rápido, mas prejudicou
“Corremos sob uma pressão brutal. Felizmente o diretor conseguiu motivar-me” “A subida à Torre não correu bem. Os rádios falharam, daí a imagem de descoordenação” “Estava pronto para ganhar na Senhora da Graça. Os azares acontecem”
“Foram meses fora e alguma fome, mas isto compensa”
imenso. Quando encaixei o pé estava com um andamento pesado e demorei uns 200 metros a reencontrar o ritmo. Tentei ter calma, pensar que nada estava perdido e minimizar os estragos. Perdi 8 segundos que faziam falta, mas ao cruzar a meta comecei a mentalizar-me que os 42 segundos que restavam iam chegar. Foi “Passamos alguma fome, temos de abdicar de muita coisa. Este ano foram praticamente dois meses de estágio em altitude, longe da família. Mas quando são recompensados, estes sacrifícios valem a pena”, contou Amaro Antunes, que esteve em Navacerrada com os colegas, em dias sempre iguais: “Era acordar às 11h30, sair para treinar perto da uma da tarde, para regressar entre as quatro e cinco horas, fazer uma pequena refeição, compensando a falta do almoço, e depois jantar e descansar. Ali não há nada, apenas a floresta. Fazemos tudo mais tarde para os dias não serem tão longos. É treinar e descansar”. O algarvio, que quando entrar de férias pesará 60 quilos, saiu da montanha espanhola com 54, os mesmos com que terminou a Volta. “Faz uma diferença enorme a subir”, garante. esse acreditar e a força que a equipa deu que permitiram ganhar a Volta.
Ia a pensar ganhar na Senhora da Graça?
—Claro que sim. Estávamos prontos para isso. Eu ia bem e só esperava que o Mauricio passasse o Jóni para fazer uma aceleração. Os azares acontecem, temos de os aceitar.