Regresso dos talibãs trava sonho olímpico
Zakia Khudadadi e Hosain Rouali tinham recebido um wildcard do Comité Paralímpico Internacional para participarem nas provas de taekwondo, mas a situação caótica no país deixou-os em terra
O caos gerado pelo regresso dos talibãs ao poder no Afeganistão representou uma machadada na participação do país nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, que se iniciam no próximo dia 24. Após a invasão da pista do aeroporto de Cabul por parte de milhares de pessoas, que resultou na morte de, pelo menos, cinco indivíduos que se ag ar raramàfu selagem de aviões da ForçaÁerea norte-americana numa tentativa desesperada de fuga do país, os voos desde o país da Ásia Central foram suspensos indefinidamente e a comitiva formada por dois atletas foi obrigada a ficar em terra.
A confirmação do final do sonho olímpico de Zakia Khudadadi e de Hossain Rouali, que iriam ambos competir nas provas de taekwondo, foi anunciada pelo Comité Paralímpico Internacional (CPI). “Lamentavelmente, o Comité Paralímpico do Afeganistão já não vai participar nos Jogos de Tóquio. Todos os aeroportos do país estão encerrados devido à complicada situação política que se vive e não há maneira de garantir a viagem dos atletas até ao Japão. Esperemos que a equipa se mantenha segura durante estes tempos difíceis”, pode ler-se no comunicado partilhado pelo CPI.
A ausência de Khudadadi gerou uma onda de comoção pelo mundo inteiro, pois estava prestes a tornar-se a primeira mulher a representar o Afeganistão na Paraolimpíada. Nascida em 1998, a atleta tinha apenas três anos quando os Estados Unidos da América deram início à intervenção no país na sequência dos ataques do 11 de setembro e cresceu na modalidade num ambiente ainda muito marcado pelo desrespeito do regime talibã em relação aos direitos das mulheres na sociedade e no desporto. Rompendo esse estigma, Khudadadi saltou para a fama aos 18 anos quando venceu o Campeonato Africano de Para-Taekwondo de 2016 e tinha-se mostrado bastante entusiasmada com a histórica missão que se preparava para desempenhar.
“Emocionei-me quando recebi a notícia que tinha recebido um wildcard para competir nos Jogos. Estou muito feliz por ser a primeira atleta feminina a representar o Afeganistão nos Jogos Paralímpicos”, afirmou a atleta em entrevista concedida ao portal do CPI no passado dia 10, revelando que a sua grande inspiração foi o compatriota Rohullah Nikpai, que conquistou medalhas de bronze nos Jogos Olímpicos de Pequim (2008) e de Londres (2012), no taekwondo. “Recordo-me de o ver a ganhar medalhas. Isso inspirou-me a dedicar-me a este desporto e, por sorte, contei com o apoio da minha família. Agora só quero estar no Japão na companhia dos melhores atletas do mundo e dar o melhor de mim. É uma oportunidade para demonstrar a minha capacidade.”
Tal como Khudadadi, Hossain Rouali, que perdeu o braço esquerdo na explosão de uma mina, também iria participar na competição à boleia de um wildcard, pois o Comité Paralímpico afegão não conseguiu colocar os seus atletas em provas de qualificação face ao clima de insegurança no país, à falta de fundos e à ausência de um plano de combate à covid-19.
“Os aeroportos estão encerrados e não há maneira de garantir as viagens dos atletas até ao Japão” “Esperemos que a equipa se mantenha segura durante estes tempos difíceis”
Comunicado do Comité Paralímpico Internacional