O Jogo

UMA SESTA DE 45 MINUTOS FAZ MILAGRES

Onze do Benfica mudou sete peças entre o PSV e o Tondela, com mau resultado, mas Rafa, Weigl e Gilberto vieram a tempo de ajudar João Mário

- Textos JOSÉ MANUEL RIBEIRO

O primeiro golo de Gilberto na I Liga, a dois minutos dos noventa, trouxe alguma verdade a um jogo que o Benfica começou vagaroso, previsível e medíocre – e acabou avassalado­r

O Benfica volta a experiment­ar o primeiro lugar isolado quase um campeonato inteiro depois da última vez. Em 2020-21, perdeu-o à sexta jornada com uma derrota no Bessa (3-0) e um jogo calamitoso. O termo não se aplica à pior metade do confronto de ontem com o Tondela. Foram só 45 minutos pastosos, com um regresso ao 4x4x2 e demasiadas mudanças no onze que resgatara a Liga dos Campeões em Eindhoven. Entre elas, as duas mais substancia­is eram Weigl e o jogador-tática de todos os Benficas das últimas quatro ou cinco épocas: Rafa. Regresso dos titulares ao intervalo destruiu a arrumação do Tondela e selou a quarta vitória em quatro jornadas.

Por partes. Jesus abdicou dos três centrais, o Tondela optou por eles. A simples aglomeraçã­o de defesas no último terço do campo esterilizo­u o adversário, sem iniciativa individual, nem um verdadeiro incendiári­o no onze, porque Everton continua a pensar três vezes antes de arriscar um drible ou correr três metros com a bola. Esclarecid­o havia apenas João Mário, que tinha de se dividir entre a gestão do latifúndio que o esquema de dois médios deixava à disposição do Tondela e o papel de criativo, vinte metros mais à frente. O único bom remate do Benfica na primeira parte foi dele.

Quanto ao Tondela, o espaço para contra-atacar, a partir das clareiras no meio-campo, era bem visível e os movimentos estavam treinados, mas Lucas Veríssimo, Vertonghen e um André Almeida acanhado iam bastando, sem sustos. Até que não. No primeiro remate (22’), o Tondela marcou, por Salvador Agra. A magia do contraataq­ue é essa: basta um, porque não é o mesmo ter seis jogadores entre nós e o guarda-redes ou aparecermo­s diante dele livres de obstáculos. Com aquele Benfica, até poderia ter bastado.

Ao intervalo, o carro dos bombeiros trouxe Weigl, Gilberto e Rafa para resolver três problemas: o alemão para libertar João Mário de metade das tarefas (a parte da construção inicial, coisa que Meité não conseguia); Gilberto para dar um lateral direito à equipa (André Almeida fora só defesa) e Rafa, bem, Rafa para ser o homemtátic­a do costume, que desfaz com os seus arranques a ordem adversária que o coletivo do Benfica é incapaz de corromper. Colocado naquele corredor intermédio entre a ala e o meio –campo, que lhe permite ocupar um médio adversário sem deixar de perturbar o lateral, acabou com a arrumação do Tondela em dois minutos. A partir daí, rebentou a carnificin­a, também porque os beirões não foram capazes de serenar o pânico, senão já muito tarde, com a entrada de Rafael Barbosa para segurar uma ou outra bola no meiocampo do Benfica.

A vitória do Benfica tornou-se inevitável. Para além do novo armamento, quem dirigia as operações, já sem medo de deixar 70 metros de campo lá atrás só para Weigl, Vertoghen e Lucas Veríssimo, eram os pés serenos de João Mário. O massacre fazia-se com segurança e método. Os golos demoraram porque o Tondela teve na baliza um Babacar Niasse supremo, apenas isso, mas um guarda-redes não chega para tudo. Um pontapé de canto (de João Mário, claro), em que Weigl interveio para fazer a bola sobrevoar Niasse até ao segundo poste, onde Rafa apareceria, resolveu esse detalhe (71’) e depois o jogo entrou em modo de fatalismo, com muitas pernas e ressaltos na área – ainda que o segundo golo, assinado pelo mais improvável dos heróis (nunca tinha marcado nenhum na Liga), tenha chegado quando o Tondela até conseguia furar o cerco e sair uma vez ou outra para respirar. Gilberto (88’) coincidiu com o ressalto certo no momento certo para materializ­ar a vontade de João Mário, mais uma vez na jogada definitiva. Pelo meio, estrearams­e Rodrigo Pinho e Seferovic, mas foram quase sempre indistingu­íveis da multidão que esteve acampada na área do Tondela nos segundos 45 minutos.

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Weigl pegou na missão de construção a partir de trás
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