“Falta-me ser campeãpelo Braga”
DOLORES SILVA
Em Portugal, soma cinco campeonatos pelo 1.º Dezembro e agora pretende repetir o feito no Braga. Para Dolores, os bracarenses são a “equipa mais forte no que toca a dar condições” às atletas
●●● Desde jogar em equipas mistas até ao estádio com 61 000 pessoas, no jogo entre Atlético Madrid e Barcelona, a médio tem corrido atrás do sonho do futebol, mas é no jornalismo que projeta o futuro.
O Real Massamá foi o clube onde deu os primeiros passos no futebol. Em que altura surgiu esta paixão?
— Para ser sincera, desde que me lembro andava sempre com uma bola atrás e a jogar com os meus amigos na rua. O meu pai também gostava muito de futebol e íamos juntos ver os jogos. Entretanto, surgiu a oportunidade de fazer captações no Real Massamá e acabei por ficar lá. Joguei com os rapazes até ter idade para jogar com as raparigas.
Encara a oportunidade de jogar com rapazes como uma mais-valia para o crescimento?
—Muito daquilo que sou enquanto jogadora foi fruto do que aprendi com eles, sim.
Nessa altura, sentiu algum tipo de descriminação?
— A nível dos meus colegas, nunca senti desrespeito. Sempre me apoiaram muito. Dentro de campo, sempre me deram muita confiança, acreditavam em mim e nas minhas capacidades. Às vezes, ouvíamos comentários menos agradáveis das bancadas, e eles sempre me defenderam.
E em que fase surgiu a mudança para o feminino?
— Com 13 anos, integrei os sub-19 do 1.º Dezembro. Fiz o meu primeiro ano de sénior com 15 anos. Não havia escalões de formação e acabávamos por chegar às equipas seniores com uma idade prematura. No entanto, acho que correu tudo muito bem, até melhor do que estava à espera. Lembro-me de ficar sempre muito nervosa inicialmente por estar a integrar a melhor equipa a nível nacional.
Depois dessa passagem surgiu a primeira experiência no estrangeiro...
— Sim. Terminei o 12.º ano e, nessa altura, a minha prioridade - como não podia ser profissional em Portugal -, foi procurar outras soluções no estrangeiro. E foi assim que surgiu a proposta para a Alemanha.
O que foi mais complicado nessa mudança?
— Inicialmente, foi a língua, mas depois foi o facto de ter chegado lá, estar tudo a correr bem e, de repente, lesionarme gravemente no cruzado anterior do joelho esquerdo. Foi o mais difícil na adaptação, mas senti-me sempre acarinhada pela equipa. Parei a época toda, mas senti a confiança do clube, que quis que ficasse lá, mesmo com este problema. Foi uma experiência gratificante que me tornou naquilo que sou hoje, como pessoa e jogadora.
Internacionalmente, ainda teve a passagem pelo Atlético de Madrid...
— Sim, um ano. Podia ter sido ainda mais longa, porque ainda tinha mais um ano de contrato, mas acabei por querer voltar. Independentemente disso, adorei a experiência. Joguei numa equipa referência em Espanha. Tivemos o jogo com o Barcelona, onde estavam 61 000 pessoas. Fui muito feliz a nível desportivo durante esse ano, mas depois surgiu a oportunidade de regressar a casa, ao Braga.
Não é do norte, mas o Braga faz com que se sinta em casa?
— Sim, nasci em Lisboa e fui criada em Queluz, mas já não
“Fiz o meu primeiro ano de sénior com 15 anos. Lembro-me de ficar nervosa por estar a integrar a melhor equipa nacional”
“Sinto o Braga como uma casa. As pessoas aqui são como uma família. Adoro a cidade, o norte, as pessoas do norte, a comida... tudo!
“Quem está aqui tem de se considerar uma privilegiada, porque o Braga dá-nos todas as condições necessárias”
“[Em Espanha], tivemos um jogo com o Barcelona onde estavam 61 000 pessoas. Fui muito feliz a nível desportivo, mas quis regressar”
me vejo a viver lá. Sinto-me acarinhada aqui. Sinto Braga como uma casa. As pessoas aqui são como uma família. Adoro a cidade, os arredores, o norte, as pessoas do norte, a comida... tudo!
Que balanço faz desta experiência?
— O Braga é a equipa mais forte nas condições que dá as atletas. Quem está aqui tem de se considerar privilegiada, porque o Braga dá-nos todas as condições.
Acredita que o Braga estará em todas as decisões?
— O Braga joga sempre para estar presente em todas as decisões. É um clube grande, que ambiciona títulos. É um clube que faz a sua aposta e que trabalha para que haja condições para que os seus atletas possam concretizar esses objetivos. O nosso pensamento é sempre jogo a jogo, e dar sempre o melhor para alcançar as vitórias.
O que lhe falta na carreira?
— Falta-me ser campeã pelo Braga. Quero muito esse título e depois, a nível de Seleção, é participar novamente numa fase final de uma grande competição, neste caso, o próximo é o Mundial.
Se a Dolores não fosse futebolista, o que seria?
— Jornalista [risos]. Sim, neste momento acho que estou mais virada para a parte da comunicação. O objetivo passa pela vertente desportiva e acompanhar o futebol feminino, fazer com que isto possa continuar a crescer.