O Jogo

“Falta-me ser campeãpelo Braga”

DOLORES SILVA

- FILIPA MESQUITA

Em Portugal, soma cinco campeonato­s pelo 1.º Dezembro e agora pretende repetir o feito no Braga. Para Dolores, os bracarense­s são a “equipa mais forte no que toca a dar condições” às atletas

●●● Desde jogar em equipas mistas até ao estádio com 61 000 pessoas, no jogo entre Atlético Madrid e Barcelona, a médio tem corrido atrás do sonho do futebol, mas é no jornalismo que projeta o futuro.

O Real Massamá foi o clube onde deu os primeiros passos no futebol. Em que altura surgiu esta paixão?

— Para ser sincera, desde que me lembro andava sempre com uma bola atrás e a jogar com os meus amigos na rua. O meu pai também gostava muito de futebol e íamos juntos ver os jogos. Entretanto, surgiu a oportunida­de de fazer captações no Real Massamá e acabei por ficar lá. Joguei com os rapazes até ter idade para jogar com as raparigas.

Encara a oportunida­de de jogar com rapazes como uma mais-valia para o cresciment­o?

—Muito daquilo que sou enquanto jogadora foi fruto do que aprendi com eles, sim.

Nessa altura, sentiu algum tipo de descrimina­ção?

— A nível dos meus colegas, nunca senti desrespeit­o. Sempre me apoiaram muito. Dentro de campo, sempre me deram muita confiança, acreditava­m em mim e nas minhas capacidade­s. Às vezes, ouvíamos comentário­s menos agradáveis das bancadas, e eles sempre me defenderam.

E em que fase surgiu a mudança para o feminino?

— Com 13 anos, integrei os sub-19 do 1.º Dezembro. Fiz o meu primeiro ano de sénior com 15 anos. Não havia escalões de formação e acabávamos por chegar às equipas seniores com uma idade prematura. No entanto, acho que correu tudo muito bem, até melhor do que estava à espera. Lembro-me de ficar sempre muito nervosa inicialmen­te por estar a integrar a melhor equipa a nível nacional.

Depois dessa passagem surgiu a primeira experiênci­a no estrangeir­o...

— Sim. Terminei o 12.º ano e, nessa altura, a minha prioridade - como não podia ser profission­al em Portugal -, foi procurar outras soluções no estrangeir­o. E foi assim que surgiu a proposta para a Alemanha.

O que foi mais complicado nessa mudança?

— Inicialmen­te, foi a língua, mas depois foi o facto de ter chegado lá, estar tudo a correr bem e, de repente, lesionarme gravemente no cruzado anterior do joelho esquerdo. Foi o mais difícil na adaptação, mas senti-me sempre acarinhada pela equipa. Parei a época toda, mas senti a confiança do clube, que quis que ficasse lá, mesmo com este problema. Foi uma experiênci­a gratifican­te que me tornou naquilo que sou hoje, como pessoa e jogadora.

Internacio­nalmente, ainda teve a passagem pelo Atlético de Madrid...

— Sim, um ano. Podia ter sido ainda mais longa, porque ainda tinha mais um ano de contrato, mas acabei por querer voltar. Independen­temente disso, adorei a experiênci­a. Joguei numa equipa referência em Espanha. Tivemos o jogo com o Barcelona, onde estavam 61 000 pessoas. Fui muito feliz a nível desportivo durante esse ano, mas depois surgiu a oportunida­de de regressar a casa, ao Braga.

Não é do norte, mas o Braga faz com que se sinta em casa?

— Sim, nasci em Lisboa e fui criada em Queluz, mas já não

“Fiz o meu primeiro ano de sénior com 15 anos. Lembro-me de ficar nervosa por estar a integrar a melhor equipa nacional”

“Sinto o Braga como uma casa. As pessoas aqui são como uma família. Adoro a cidade, o norte, as pessoas do norte, a comida... tudo!

“Quem está aqui tem de se considerar uma privilegia­da, porque o Braga dá-nos todas as condições necessária­s”

“[Em Espanha], tivemos um jogo com o Barcelona onde estavam 61 000 pessoas. Fui muito feliz a nível desportivo, mas quis regressar”

me vejo a viver lá. Sinto-me acarinhada aqui. Sinto Braga como uma casa. As pessoas aqui são como uma família. Adoro a cidade, os arredores, o norte, as pessoas do norte, a comida... tudo!

Que balanço faz desta experiênci­a?

— O Braga é a equipa mais forte nas condições que dá as atletas. Quem está aqui tem de se considerar privilegia­da, porque o Braga dá-nos todas as condições.

Acredita que o Braga estará em todas as decisões?

— O Braga joga sempre para estar presente em todas as decisões. É um clube grande, que ambiciona títulos. É um clube que faz a sua aposta e que trabalha para que haja condições para que os seus atletas possam concretiza­r esses objetivos. O nosso pensamento é sempre jogo a jogo, e dar sempre o melhor para alcançar as vitórias.

O que lhe falta na carreira?

— Falta-me ser campeã pelo Braga. Quero muito esse título e depois, a nível de Seleção, é participar novamente numa fase final de uma grande competição, neste caso, o próximo é o Mundial.

Se a Dolores não fosse futebolist­a, o que seria?

— Jornalista [risos]. Sim, neste momento acho que estou mais virada para a parte da comunicaçã­o. O objetivo passa pela vertente desportiva e acompanhar o futebol feminino, fazer com que isto possa continuar a crescer.

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