“Podermos ser profissionais já é um privilégio”
Com o passar dos anos, o futebol feminino tem evoluído. A médio acredita que atualmente quem pratica a modalidade tem de “aproveitar as oportunidades que estão a ser dadas”
●●● “Dou muito valor a tudo o que o clube e a Seleção me oferecem”, foi desta forma que Dolores Silva começou a explicar as diferenças, na comparação de realidades entre a atualidade e os tempos em que começou na modalidade.
O facto de ter de se adaptar a uma equipa sénior muito nova deu-lhe o sentido de responsabilidade que uma capitã deve ter?
—Sim, creio que sim. Os tempos eram diferentes, as nossas condições e realidades eram diferentes, e éramos obrigadas a crescer no contexto em que estávamos inseridas, conforme as pessoas que nos rodeavam. Acho que sempre tive a sorte de aprender com as melhores e tirar delas o melhor.
Há alguém que veja como referência?
—Uma das grandes referências que tenho como líder é a Carla Cristina, que também foi capitã da Seleção Nacional. Antigamente tínhamos outro tipo de dificuldades e isso obrigou-nos a crescer e a ver as coisas de forma diferente.
Hoje em dia há alguma mensagem que passe?
—A mensagem que tento passar é para as mais novas aproveitarem as oportunidades e as condições que lhes estão a ser dadas. Há uns tempos era impensável termos tanta coisa. Elas têm mesmo de dar valor. Eu dou mesmo muito valor ao clube me oferece, e até a Seleção.
Quais são as maiores diferenças entre quando começou e agora?
— Antes, tínhamos de levar os nossos equipamentos para casa para os lavar, por exemplo. Muitas vezes, treinávamos com calções de cores diferentes. Não havia patrocínios de chuteiras, era impensável, sequer. Tínhamos de comprar o nosso material. Isso, hoje em dia, já é uma coisa comum. Há uns anos, era impensável termos um nutricionista e um psicólogo, por exemplo. E isso são coisas fundamentais para um atleta profissional, sobretudo quando se chega a um patamar onde a exigência é maior. Esse tipo de coisas faznos afinar pormenores e fazer de nós melhores e mais profissionais; acho que é a grande diferença. E o facto de já podermos ser profissionais em Portugal a fazer aquilo que mais gostamos, não podíamos ser mais privilegiadas. Há um longo caminho ainda, mas tem havido uma evolução muito grande. Não só o Braga, mas os outros clubes também já começam a ver que é necessário haver essa aposta para fazer com que o futebol feminino evolua.
Uma das grandes referências no mundo do futebol feminino para Dolores Silva é antiga internacional portuguesa Carla Cristina
Nos dias de hoje, a médio salienta a importância de haver o acompanhamento de nutricionistas e psicólogos nos clubes