O Jogo

Como amar o Cartão do Adepto

Por agora, já aprendemos duas coisas: que as claques não gostam do Cartão do Adepto e que os clubes tendem a não gostar do que elas não gostam. O mal é se arranjam maneira de gostar

- José Manuel Ribeiro jm.ribeiro@ojogo.pt

Oprofessor José Manuel Meirim esclareceu o assunto no “Público” há uns dias, mas eu nem me apercebera de que as pessoas haviam entendido o Cartão do Adepto como obrigatóri­o para todos os que vão aos estádios de futebol. Veio-me à memória uma entrevista ao comediante americano Jon Stewart sobre o casamento gay: “No princípio, fiquei preocupado, porque pensei que era obrigatóri­o e gosto muito da minha mulher.” O Cartão do Adepto destina-se a quem quer aceder às zonas das claques, só. Aperta a malha ao forrobodó dos “grupos organizado­s”, com resultados que não me atrevo a prever, porque a imaginação das claques e a passividad­e dos clubes não têm limites. No papel, a ideia parece tornar menos complicado detetar, monitoriza­r e correr com os maus elementos do futebol. Na prática, veremos como os implicados arranjarão maneira de desconvers­ar. Com a versão anterior da lei, não foi difícil. Por agora, já aprendemos duas coisas: que as claques não gostam do Cartão e que os clubes tendem a não gostar do que elas não gostam. Partem daí as reações exageradas a uma medida que, podendo não ser a mais brilhante e eficaz de sempre, não é assim tão complicati­va e parece resolver questões banais como da ineficácia das penas de interdição de adeptos, cujo cumpriment­o, na maioria dos casos, ninguém vigiava. O problema são as utilizaçõe­s inesperada­s que podem tornar o cartão simpático. Vista à distância, a polémica já levantada no Sporting-FC Porto de sábado (falta de uma zona para visitantes fora das claques e venda de bilhetes acrescida de comissão) pode ser apenas (e acredito que seja) um efeito da impreparaç­ão dos clubes para uma medida nova, mas não há dúvida de que fica aberto o caminho a toda uma nova ordem de picuinhice­s e formas de se atazanarem uns aos outros. Esperemos para ver.

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