O MUNDO NÃO ERAASSIM
11 DE SETEMBRO Há 20 anos o mundo assustou-se, “em direto”, com a capacidade feroz do terrorismo; a partir daí, ficámos mais vulneráveis e menos livres
Naquela manhã de uma terça-feira, dois aviões espalharam o pânico em Nova Iorque, no espaço de 17 minutos. Pouco depois, outros dois aviões deram dimensão trágica ao atentado
Às 8h46 do dia 11 de setembro de 2001 (13h46 em Portugal Continental), o mundo começou a mudar. O voo 11 da American Airlines entrou pela torre norte do World Trade Center (WTC); 17 minutos depois, o voo 175 arrasava a torre sul, já com o mundo incrédulo a assistir pelas televisões, parecia coisa de filme. Às 9h37, o voo 757 da American Airlines “atirou-se” contra o Pentágono, nos arredores de Washington, centro da defesa nacional dos EUA; às 10h03, o voo 93 despenhouse numa zona rural da Pensilvânia, em campo aberto.
Não era este o destino (fala-se que seria a Casa Branca ou o Capitólio, mas os passageiros revoltaram-se e os terroristas perderam o controlo). Esta é, sumariamente, a história dos quatro atentados que deixaram a América e o mundo num estado de choque do qual ainda hoje, pelo menos psicologicamente, muita gente não recuperou. Morreram no total 2996 pessoas, mas a tragédia poderia ter sido bem maior, já que no complexo do WTC trabalhavam entre 30 a 50 mil pessoas, mas como era muito cedo, ainda não estavam no trabalho. Ainda assim, cerca de 15 mil que estavam nos andares inferiores ao embate conseguiram escapar.
Tudo mudou no mundo a partir daí, até a nossa liberdade. Jesus Cristo disse um dia que “até os fios dos cabelos da nossa cabeça estão contados”. Pois a partir desta data todos os nossos passos estão monitorizados,
“Um ataque como o 11 de setembro é difícil de voltar a acontecer. implicaria uma logística hoje mais permeável à monitorização das autoridades”
Filipe Pathé Duarte Especialista em segurança internacional
perdemos a liberdade de circular sem sermos vistos..., porque as nações de todo o mundo uniram-se na luta contra o terrorismo e permitiram a partilha e o acesso a dados pessoais e um controlo apertadíssimo nas fronteiras e, em particular, nos aeroportos. A América ainda hoje não recuperou deste duro golpe que não passava pela cabeça de ninguém. Passou pelas mentes demoníacas da Al Qaeda, liderada então por Osama Bin Laden, morto em 2011, depois de uma longa caça ao homem. Imediatamente aos atentados, George W. Bush iniciou a Guerra do Terror, com a invasão do Afeganistão onde a Al Qaeda tinha o seu quartel general. Não muito mais tarde começou a intervenção no Iraque.
Muita coisa mudou desde aí, mas algo ficou em todos nós, pelo menos nos anos imediatos, o medo de nos metermos num avião, que diminuiu o prazer que é viajar. E as agências de viagens ressentiramse muito disso.
Mas será que o medo ainda faz sentido? Será que o mundo ficou mais seguro depois das muitas medidas tomadas?
“Um ataque como o de 11 de Setembro de 2001 é difícil. Um atentado semelhante implica uma organização e uma logística hoje mais permeáveis à monitorização das autoridades. Vinte anos depois o que há é uma descentralização das estruturas. São grupos (tipo ‘franchise’) ou indivíduos que operam sob o nome Daesh ou Al-Qaeda”, disse à Lusa Felipe Pathé Duarte, professordaUniversidadeAutónoma de Lisboa e especialista em segurança internacional.
“Os ataques do 11 de Setembro foram bem-sucedidos em grande parte porque os terro
ristas usaram uma peça de tecnologia vulgar - uma aeronave civil - como arma de destruição em massa. Com esse caminho agora aparentemente fechado, os terroristas precisariam encontrar outra arma com poder de ataque semelhante”, explica Mansoor, um especialista em segurança internacional, referindo-se às hipóteses de um ataque com gás nervoso (relativamente acessível) ou um ataque nuclear (muito mais difícil de concretizar).
Um receio de um ataque em massa está sempre presente, mas será muito difícil repetirse algo do género. Passados 20 anos, a reconstrução do WTC ainda não está completa, mas mais do que isso o espírito dos americanos continua em desassossego. E quem lá mora em Nova Iorque evita fazer visitas ao lugar onde um dia o mundo começou a mudar para tentar matar o medo.