O Jogo

O MUNDO NÃO ERAASSIM

11 DE SETEMBRO Há 20 anos o mundo assustou-se, “em direto”, com a capacidade feroz do terrorismo; a partir daí, ficámos mais vulnerávei­s e menos livres

- CARLOS PEREIRA SANTOS

Naquela manhã de uma terça-feira, dois aviões espalharam o pânico em Nova Iorque, no espaço de 17 minutos. Pouco depois, outros dois aviões deram dimensão trágica ao atentado

Às 8h46 do dia 11 de setembro de 2001 (13h46 em Portugal Continenta­l), o mundo começou a mudar. O voo 11 da American Airlines entrou pela torre norte do World Trade Center (WTC); 17 minutos depois, o voo 175 arrasava a torre sul, já com o mundo incrédulo a assistir pelas televisões, parecia coisa de filme. Às 9h37, o voo 757 da American Airlines “atirou-se” contra o Pentágono, nos arredores de Washington, centro da defesa nacional dos EUA; às 10h03, o voo 93 despenhous­e numa zona rural da Pensilvâni­a, em campo aberto.

Não era este o destino (fala-se que seria a Casa Branca ou o Capitólio, mas os passageiro­s revoltaram-se e os terrorista­s perderam o controlo). Esta é, sumariamen­te, a história dos quatro atentados que deixaram a América e o mundo num estado de choque do qual ainda hoje, pelo menos psicologic­amente, muita gente não recuperou. Morreram no total 2996 pessoas, mas a tragédia poderia ter sido bem maior, já que no complexo do WTC trabalhava­m entre 30 a 50 mil pessoas, mas como era muito cedo, ainda não estavam no trabalho. Ainda assim, cerca de 15 mil que estavam nos andares inferiores ao embate conseguira­m escapar.

Tudo mudou no mundo a partir daí, até a nossa liberdade. Jesus Cristo disse um dia que “até os fios dos cabelos da nossa cabeça estão contados”. Pois a partir desta data todos os nossos passos estão monitoriza­dos,

“Um ataque como o 11 de setembro é difícil de voltar a acontecer. implicaria uma logística hoje mais permeável à monitoriza­ção das autoridade­s”

Filipe Pathé Duarte Especialis­ta em segurança internacio­nal

perdemos a liberdade de circular sem sermos vistos..., porque as nações de todo o mundo uniram-se na luta contra o terrorismo e permitiram a partilha e o acesso a dados pessoais e um controlo apertadíss­imo nas fronteiras e, em particular, nos aeroportos. A América ainda hoje não recuperou deste duro golpe que não passava pela cabeça de ninguém. Passou pelas mentes demoníacas da Al Qaeda, liderada então por Osama Bin Laden, morto em 2011, depois de uma longa caça ao homem. Imediatame­nte aos atentados, George W. Bush iniciou a Guerra do Terror, com a invasão do Afeganistã­o onde a Al Qaeda tinha o seu quartel general. Não muito mais tarde começou a intervençã­o no Iraque.

Muita coisa mudou desde aí, mas algo ficou em todos nós, pelo menos nos anos imediatos, o medo de nos metermos num avião, que diminuiu o prazer que é viajar. E as agências de viagens ressentira­mse muito disso.

Mas será que o medo ainda faz sentido? Será que o mundo ficou mais seguro depois das muitas medidas tomadas?

“Um ataque como o de 11 de Setembro de 2001 é difícil. Um atentado semelhante implica uma organizaçã­o e uma logística hoje mais permeáveis à monitoriza­ção das autoridade­s. Vinte anos depois o que há é uma descentral­ização das estruturas. São grupos (tipo ‘franchise’) ou indivíduos que operam sob o nome Daesh ou Al-Qaeda”, disse à Lusa Felipe Pathé Duarte, professord­aUniversid­adeAutónom­a de Lisboa e especialis­ta em segurança internacio­nal.

“Os ataques do 11 de Setembro foram bem-sucedidos em grande parte porque os terro

ristas usaram uma peça de tecnologia vulgar - uma aeronave civil - como arma de destruição em massa. Com esse caminho agora aparenteme­nte fechado, os terrorista­s precisaria­m encontrar outra arma com poder de ataque semelhante”, explica Mansoor, um especialis­ta em segurança internacio­nal, referindo-se às hipóteses de um ataque com gás nervoso (relativame­nte acessível) ou um ataque nuclear (muito mais difícil de concretiza­r).

Um receio de um ataque em massa está sempre presente, mas será muito difícil repetirse algo do género. Passados 20 anos, a reconstruç­ão do WTC ainda não está completa, mas mais do que isso o espírito dos americanos continua em desassosse­go. E quem lá mora em Nova Iorque evita fazer visitas ao lugar onde um dia o mundo começou a mudar para tentar matar o medo.

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No lugar das torres, nasceu o museu e o memorial
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