O Jogo

A afirmação da dúvida

- Miguel Guedes

O clássico de Alvalade deu (uma vez mais) um empate para duas equipas que nunca cogitaram a divisão de pontos como um bom resultado. As equipas remoem o tempo que falta quando o tempo de espera é demasiado e depois, quando o jogo finalmente chega, só pensam em ganhar. A pausa para os jogos de selecções adensou a ideia de uma falsa preparação para o jogo. Com 18 jogadores ausentes (14 do FC porto e 4 do Sporting), preparar um clássico a mais de uma semana de distância só pode ser um pesadelo e, a dado momento, uma falsa questão. Sobretudo para o FC Porto, privado de tantos jogadores, a preparação para o clássico foi um simulacro. Restava tentar ganhá-lo, ainda que subvertend­o a lógica da preparação.

Talvez por isso, sabendo que nenhum plano fica completo com 14 ausências, Sérgio Conceição resolveu abrir o jogo com o factor surpresa: levou ao onze os habituais titulares e Corona, o talento mais decisivo da época passada. Há jogos que os treinadore­s preferem resolver do banco, outros há que pretendem definir logo no primeiro minuto. A surpresa de Luis Díaz, Uribe e Corona no 11 titular, apesar dos minutos e quilómetro­s acumulados, foi um “mind game” activo de Conceição, o elixir de perturbaçã­o para o adversário que o treinador do FC Porto apostava verter no jogo, directamen­te do túnel de acesso. Apesar disso, a primeira parte mostrou o mais competente e afirmativo Sporting em clássicos dos últimos anos. Cerebral, vertical e nada impression­ável com as inesperada­s alterações. O FC Porto só se superioriz­ou na segunda parte, quando deixou de pensar que seria o factor surpresa a ganhar o jogo.

Para os leões vencer era importante. Disputava-se o primeiro clássico em 19 anos com o Sporting campeão em título. Após o empate em Famalicão e mais do que os 3 pontos, o que o Sporting jogava era uma prova de maturidade e confirmaçã­o competitiv­a. Se dúvidas havia, e apesar do empate, elas ficaram esclarecid­as com os primeiros 45 minutos do jogo. Para o FC Porto, ganhar era tão fundamenta­l como não decisivo. Ganhar em Alvalade ao campeão em título, à 5.ª jornada, permitiria colocar o Sporting num patamar de dúvida que o poderia fazer perder mais pontos ao longo da época. Para o FC Porto, ganhar este jogo seria a prova de que, no mundo das equipas adultas, o “killer instinct” fareja-se e faz-se cumprir. A divisão de pontos, num mundo de ausências e condiciona­ntes físicas, indica que nem um nem outro são capazes de chutar para canto o equilíbrio que a Liga deste ano promete. Com os denominado­s “três grandes” envolvidos no desgaste e boa ilusão da Liga dos Campeões, é bem provável que isto vá mesmo ser ponto a ponto, rendilhado a emoção, até ao fim. Que ninguém duvide da dúvida.

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