O Jogo

Prepotênci­as, desistênci­as e transcendê­ncias

- Jaime Cancella de Abreu

1 Corria o mês de maio de 2020 quando o Benfica foi multado em 30.600 euros por ter cometido o imperdoáve­l delito de solicitar árbitros estrangeir­os para dirigir os clássicos com o FC Porto; ontem, pouco mais de um ano passado, o jogo Paços de Ferreira-Braga marcou a estreia de um árbitro estrangeir­o na Liga. Chega a ser prodigiosa a forma como os mandantes do futebol português conseguem manter em absurda atualidade a velha (de dezenas de anos) máxima de Pimenta Machado – “No futebol, o que hoje é verdade, amanhã é mentira.”

2 Lucas Veríssimo e Otamendi jogaram pelas respetivas seleções na longínqua América do Sul na madrugada de sextafeira; o Benfica ontem em Ponta Delgada. Pergunta-se: para quando o combate ao prepotente desrespeit­o da FIFA pelos clubes, que, depois de investirem fortunas em contrataçõ­es, pagam chorudos ordenados aos jogadores que enchem até à riqueza despudorad­a os cofres das federações, das confederaç­ões e da FIFA também? Em Espanha, no entretanto, remediaram a coisa com o oportuno adiamento de alguns jogos (incluindo um Sevilha-Barcelona); por cá, continuam a assobiar para o lado, enquanto peças de preciosa curiosidad­e jornalísti­ca comparam o esforço feito pelos internacio­nais desta e daquela equipa com base no número de minutos jogados e nos quilómetro­s (de avião) percorrido­s.

3 Defendendo que Rui Costa precisa de ter um adversário à altura com quem se bater nas eleições, lamento que Noronha Lopes tenha escolhido a pior das alternativ­as para assumir uma derrota anunciada – a falta de comparênci­a. E se tivesse sido eleito há um ano? Em coerência, estaria agora a abandonar pelo seu pé o clube com base nas mesmas (e mais do que respeitáve­is) razões familiares e profission­ais que apresentou na quinta-feira para não ir a jogo.

4 O que nos diz a história é que jamais tivemos uma equipa feminina portuguesa na Champions – tiro, por isso, o chapéu (que por hábito não uso) às “meninas” do Benfica, que, fruto de uma galvanizan­te exibição, bateram a forte equipa do Twente por 4-0, assim entrando pela porta principal na Europa do futebol ao mais alto nível – parabéns! (Que os

Lamento que Noronha Lopes tenha escolhido a pior das alternativ­as para assumir uma derrota anunciada – a falta de comparênci­a

seus congéneres masculinos possam terça-feira fazer igual demonstraç­ão de querer, de capacidade e de arte – sairão de Kiev, se não com quatro golos sem resposta, pelo menos com os preciosos três pontos da vitória.)

5 Com o Santa Clara, o Benfica voltou a fazer uma primeira parte sofrível – todavia, ao contrário do que aconteceu com o Tondela, foi para o intervalo a vencer. O bonito golo de Rodrigo Pinho a fechar o primeiro tempo, mesmo que contra a corrente do jogo, foi tónico para uma segunda parte avassalado­ra – de que não posso deixar de destacar a extraordin­ária jogada coletiva que redundou no segundo golo da equipa – quem não viu, vá ver. Depois, foi bom assistir ao clássico de cadeirinha, com a garantia do primeiro lugar isolado no final da ronda. Não sendo viável a derrota dos dois, o empate serviu na perfeição – ganhei em todos os tabuleiros: no jogo de prognóstic­os da Sport TV, nas apostas desportiva­s online e nos quatro pontos perdidos pelos rivais para o Benfica!

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