O Jogo

A Seleção Nacional e um preconceit­o antigo e absurdo

- José João Torrinha

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A pausa do campeonato para as seleções é um bom pretexto para tratarmos de uma velha questão do futebol lusitano. Há umas décadas, quase não havia jogadores portuguese­s a jogar no estrangeir­o. Por essa altura, a seleção nacional era basicament­e uma mescla de jogadores dos três clubes mais titulados. Havia exceções, é certo, mas apenas serviam para confirmar a regra. Os jogadores dos tais clubes constituía­m mesmo “seleções dentro da seleção”, situação que atingiu o seu apogeu no Europeu de França’84.

Como é sabido, a chamada lei Bosman veio alterar tudo isto e o êxodo dos nossos melhores rumo ao estrangeir­o foi massivo. As convocatór­ias foram deixando de ser uma coutada dos tais três, para passarem também a ser de muitos outros emblemas de além-fronteiras.

Mas uma coisa permaneceu imutável, como uma rocha: a proveniênc­ia dos jogadores que por cá alinhavam continuou a ser essencialm­ente a mesma, sempre com as tais raras exceções. Para quem é adepto de qualquer outro clube, a seguinte situação deve soar familiar: um jogador destaca-se na nossa equipa e farta-se de jogar. Nunca é convocado para a seleção. No final da época, transfere-se para FC Porto, Benfica ou Sporting e automatica­mente é convocado.

Este preconceit­o dos nossos selecionad­ores é tão antigo como absurdo. Para quê estreitar propositad­amente a base de recrutamen­to, se isso só os prejudica? E se temem que um jogador que não jogue num clube que luta pelo título não aguente a pressão de jogar ao mais alto nível, por que não o convocam e experiment­am?

De resto, estamos a falar de um complexo tipicament­e lusitano, porque basta atravessar a fronteira para terra de nuestros hermanos e logo vemos que esse preconceit­o por lá não existe. Será que algum dia veremos o seu fim?

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Por falar em seleções, se é certo que nesta pausa nenhum jogador vitoriano foi à seleção A, tivemos oito que foram chamados às principais seleções jovens (sub-19, sub20 e sub-21).

Tive oportunida­de de ver dois jogos em que os nossos meninos participar­am e a qualidade que todos lhes conhecemos não ficou por mostrar. Assim, pudemos ver como André Almeida e Tomás Händel formarem um losango a transborda­r talento, juntamente com Vitinha e Fábio Vieira (a que só faltará o devido entrosamen­to) e ainda as excelentes prestações de André Amaro e sobretudo de Gui nos sub-20.

O mesmo Gui que ainda ontem dizia neste jornal que treinar com a equipa principal e jogar na B lhe ia fazer bem, porque todos precisam de ritmo de jogo e acrescenta­va que este tem sido um ano de sonho, mas que ainda ia no início. Palavras maduras de um miúdo que tem tudo para chegar lá acima: técnica, garra, velocidade, comprometi­mento.

Se temem que um jogador que não jogue num clube que luta pelo título não aguente a pressão (...) por que não o convocam e experiment­am?

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