O combate ao combate à violência
Insultos aos jogadores que os clubes se recusam a dissuadir, relacionamentos entre Direções que só podem acabar mal e uma Imprensa que persiste em arrancar o pior dos cidadãos. Quem combate o quê?
A na Catarina Mendes, ministra que tutela o desporto, sacou do carimbo verbal para se estrear com o chavão mor da pasta na Assembleia da República: “O combate à violência no desporto é uma prioridade.” A violência em particular de que falava eram os insultos a Rochinha, no Estádio do Bessa, levados ao parlamento por um deputado do PSD, mas era dia de muitas violências diferentes. A Comissão de Instrutores propôs castigos para Baía, Conceição e Rui Cerqueira pelo incidente com Varandas no penúltimo FC Porto-Sporting, e uma maioria qualificada de microfones também quis muito atirar para o cesto da violência no desporto o homicídio de um adepto por outro nos festejos do Dragão. A preceder o combate à violência no desporto, será preciso um combate à estupidez fora do desporto. Os três acontecimentos são demasiado diferentes para caber no mesmo saco. Vejamos. Rochinha: o problema dos ataques verbais a jogadores, e demais atos do público, é que os clubes se têm safado, nos tribunais, com a tese de que não são responsáveis pelos adeptos (Vitória incluindo, pelos atos racista contra Marega). Ataques a Varandas: mero resultado do relacionamento incendiário entre clubes, sem intervenção possível, ou pelo menos significativa, das autoridades. Homicídio no Dragão: aqui há dois tipos de violência, uma tragédia entre duas famílias e o esforço despudorado de alguma Imprensa para a arrastar até ao desporto (incluindo sugerir ligações holísticas do diretor de comunicação do FC Porto ao caso). Nem cabe ao desporto evitar dramas familiares, nem parece ser possível impedir, por via governamental, que se publique ou diga na televisão enormidades que ajudam a conduzir os adeptos ao estado de indignação e irracionalidade que precede os desastres. O combate à violência é uma prioridade, pronto, mas de quem?