O Jogo

É URGENTE A FESTA DELES

Emigrantes sacrificar­am férias de verão para estarem na última jornada da liga e veem-se condenados a torcer pela subida à distância de sempre, a de um écrã televisivo. Confiança não falta

- CARLOS VERAS MÓNICA SANTOS

A vitória com o Rio Ave garante a subida e dispensa o play-off com o antepenúlt­imo da Liga Bwin. Na cidade acredita-se que a equipa de Vítor Campelos será capaz de dispensar o suspense de mais dois jogos.

Em Chaves, respira-se esperança no regresso do emblema transmonta­no ao campeonato principal - e também há quem suspire, triste, a tentar conformar-se com a impossibil­idade de assistir ao jogo com o Rio Ave nos Arcos. É o caso de Armindo Vieira, 45 anos, ontem de manhã o único adepto a assistir ao trabalho da equipa de Vítor Campelos, simbolicam­ente do lado de fora do campo de treinos. Como muitos conterrâne­os, leva a vida emigrado. “Há 11 anos”, abalou e vive agora em Solthurn, na Suíça. Fez contas ao calendário da Liga SABSEG e meteu férias para assistir às duas últimas jornadas. Não é o único. Por estes dias, cruzou-se na cidade com outros emigrantes que vieram com a mesma ideia e agora se veem condenados à distância que já os rói o ano inteiro. “Não tenho bilhete”.

A polémica à volta das entradas para esta partida entre candidatos à Liga Bwin atingiu os que mais sacrifício­s fizeram para estar neste momento do clube. São apenas 200 para os visitantes, cinco por cento da lotação, como mandam os regulament­os, depois de uma primeira indicação de que seriam 687, ainda assim escassos, porque o recinto está em obras. “É um bocado triste”, lamenta o sócio 521, que até “já desconfiav­a” que algo do género pudesse suceder, “por causa das obras”. Arriscou a viagem. Coube-lhe viver na bancada a jornada caseira que teve um penálti para os montes nos instantes finais. “Passei mal, passei mal”, recorda, ainda sem saber se voltará ao estádio para ver o encontro no écran gigante ou se ficará num café. O que quer mesmo é que este seja o ponto final nesta saga. “Não queria ver mais nenhum jogo na televisão. Era sinal de que subíamos”.

Ali junto ao estádio municipal, na esquina vizinha do mercado, Nady Brito também se conforma e recebe de braços abertos esta mudança de planos imposta pela impossibil­idade de estar nos Arcos. A pastelaria S. Neutel é um cantinho obrigatóri­o para quem não dispensa os pastéis de Chaves servidos com um belo abatanado e simpatia do lado de lá do balcão, onde esta estudante universitá­ria natural de Cabo Verde e pivô da equipa de futsal do Chaves se entusiasma ao falar do “trabalho excelente” de Vítor Campelos. Com ele, “a equipa começou a jogar à bola”. “Não é só pontapé para a frente, embora, às vezes, tenha de ser assim, mas um futebol lindo de ver”, defende, preparada para as vagas de clientes que o domingo promete: os autocarros para Vila do Conde partem dali e a malta quer ir com o estômago aconchegad­o; depois, virão os que ficarão a ver o jogo no estádio e Nady, 28 anos, nem terá tempo para sofrer a ansiedade pelo resultado final. Com o curso de contabilid­ade para terminar, em Bragança, talvez não fique para ver o que as camaradas da pastelaria lhe contaram, que “a cidade era diferente, tinha vida, vinha muita gente ver os jogos”, quando a equipa estava no escalão principal, mas a ligação não se perde: “Acompanho este clube desde que cheguei, posso dizer que sou do Chaves”.

No centro da cidade, em pleno Jardim das Freiras que virou largo, quando o verde deu lugar ao empedrado, Andreia Machado, 32 anos, vive o futebol por simpatia. Sem paciência para se sentar no sofá a ver a bola, fixa-se nas conversas dos “homens lá de casa”, ri. “Dois filhos e marido” vivem o Chaves e ela ouviu-lhes que “devia ter ganho no domingo”, mas onde eles veem uma equipa de homens ela vê algo mais:

“É a nossa terra”. Ali ao lado, mais solidaried­ade das mulheres transmonta­nas. Sara não quer fotos, mas conta que já tem futebol na agenda: “Vou a Tondela!” O marido é da cidade beirã, cujo emblema joga a permanênci­a e eles lá estarão na bancada – nem vale a pena referir que os clubes lá de casa ainda se podem cruzar no play-off de permanênci­a/subida; a solidaried­ade tem limites e ninguém deseja pô-los à prova. A festa é urgente.

“É triste, mas com o estádio em obras... Há aí bastantes emigrantes a quem aconteceu o mesmo.”

“Oxalá não seja para ver o play-off na TV. Não queria ver mais nenhum jogo na televisão.”

Armindo Vieira

Adepto do Chaves

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Adeptos do Chaves querem ver o clube de volta ao escalão principal, três anos depois

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