Ressentimento contra o alvo errado
O balneário do FC Porto embrulhou uma mão cheia de agressores benfiquistas e sportinguistas e chamou-lhes Benfica. É exatamente a mesma falácia de que o gangue perseguidor faz vida.
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Benfica pretende queixar-se ao Conselho de Disciplina de um vídeo postado nas redes sociais por Otávio em que alguns jogadores do FC Porto entoam um cântico com insultos ao Benfica. Há três erros graves no episódio: o cântico, a divulgação e o alvo. Otávio, Taremi e o capitão Pepe foram sujeitos, em vários momentos da época, a um achincalhamento mediático que é tudo menos normal e sem equivalência com o tratamento dado aos excessos de outros jogadores. A coisa escapa porque a cegueira seletiva e a falta de introspeção impedem o consenso sobre esta absoluta evidência. Os jogadores do FC Porto ganharam este campeonato visceralmente contra alguém, sem dúvida. Mas, nesse aspeto, não o ganharam contra o Benfica, nem contra o Sporting: ganharam contra alguns sportinguistas e benfiquistas, nos estúdios e nos gabinetes. Pôr o Benfica a simbolizar essa injustiça que sentem é cometer a mesma falácia que essas pessoas cometem com eles, embora em sentido inverso: esse grupo de líderes de opinião pega na desconsideração que sente dever ter pelo FC Porto e generaliza-a a todas as pessoas que, de alguma forma, se relacionam com o clube; o balneário portista pegou na desconsideração que sente pelos agressores e alargou-a a um clube que representa muito mais do que isso (como o FC Porto, de resto). Agora, talvez o balneário tenha de pagar pela falta de bom senso. Infelizmente, do outro lado, ninguém pagará, nem será compelido a refletir um bocadinho antes de voltar a diabolizar jogadores de futebol apenas por serem o que os jogadores de futebol sempre foram e serão, em todas as equipas, clubes, agremiações e peladas de fim de semana.