O Jogo

Só Guardiola troca Bernardo por um trinco

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Atlético de Madrid-Manchester City, minuto 79: o City leva vantagem de um golo nos quartos de final da Liga dos Campeões, mas o resultadis­ta Simeone aperta. Guardiola substitui Bernardo Silva por um trinco, Fernandinh­o. Pensei imediatame­nte em Fernando Santos e no que se diria em Portugal se ele optasse por uma medida tão banal como essa em situação equivalent­e. Voltei a pensar nele na final, quando um Real Madrid ao estilo Lito Vidigal venceu (e bem) a equipa mais entusiasma­nte do planeta. No último sábado, O JOGO publicou uma análise dos últimos dez anos das seleções portuguesa e espanhola. Pontuaram o mesmo, mas Portugal ganhou mais vezes às equipas do top-12 mundial. Se recapitula­rmos os discursos internos, veremos que não podiam estar mais distantes do que dizem estes números. O conservado­r Fernando Santos e o excitante Luis Enrique são meras elucubraçõ­es, ao sabor dos apetites de quem manda nas narrativas, mais do que dos factos. Nas versões faladas ou escritas, o futebol tende a ser bastante mais objetivo do que a realidade caótica do jogo jogado. Só o treinador está obrigado a pensar racionalme­nte; para todos os outros, a razão é facultativ­a. Podemos ser idealistas, emocionais, superficia­is, fanáticos, o que quisermos, mas o selecionad­or não. O que quer que ele conceba, tem de funcionar. Na Seleção Nacional, somase a esse minúsculo problema o elefante na sala que se chama Cristiano Ronaldo e o lado complexo da abundância de talento: de oito em oito meses, rebentam dois ou três jogadores que reclamam lugar no onze. Agora é Rafael Leão, que força a decisões no trio atacante, como será Vitinha quando recuperar da covid, ou Fábio Carvalho (palpita-me), Henrique Araújo e Fábio Vieira um dias destes. Não façamos de conta que são dilemas resolúveis com duas tardes de treino ou com a leitura de uma página de Baudelaire.

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