DOIS SISTEMAS IMUNITÁRIOS SEM DEFESAS
JOGÃO Para o comum dos espectadores, a enxurrada de golos foi uma delícia, mas não é suposto que candidatos a qualquer coisa os sofram com tanta facilidade...
Conseguir estar três vezes em vantagem em Braga, como esteve o Sporting, é obra. Mas isso não chegou para acompanhar a pedalada dos mais diretos rivais pelo título na estreia do campeonato...
Quando já poucos acreditariam, aos 83 minutos, Rochinha encontrou o buraco da agulha e ajudou Edwards a descarregar um tratamento completo de acupuntura para relaxarosadeptosdoSporting. Parecia o último de uma epopeia de golos. Mas devíamos todos ter desconfiado logo ali, por aquilo que se vira do Braga antes, que havia uma resposta na ponta da língua: deram-na Álvaro Djaló e Abel Ruiz, que tinham saltado do banco já depois do golo de Edwards, a tempo ainda de resgatar um ponto e desligar, então sim, este jogo eletrizante da ficha. Eletrizante é uma coisa bonita de se dizer de um jogo, e seis golos são uma festa óbvia, mas. Ponto final. É precisamenteeste“mas”queimporta refletir: como assim, seis golos? Como é que candidatos à parte cimeira da tabela sofrem três golos com tanta facilidade? As equipas em arranque do campeonato são ainda corpos estranhos à procura de encontrar uma boa coordenação entre cabeça, tronco e membros.
Braga e Sporting cedo descobriram que os respetivos sistemas imunitários ainda estão com fracas defesas: quatro golos (na verdade cinco, um deles anulado...) em meio jogo são um regalo para os olhos de quem está de fora, e até podem ser também um sinónimo de ataques muito afinados, é verdade, mas, sem lhes tirar mérito, foram mais evidentes, na maior parte deles, os embaraços defensivos. Artur Jorge descobriu crateras a tapar com urgência e Rúben Amorim, apesar de ter disponível Adán, o mais recente milagre da medicina que o futebol adora contar, também percebeu que há muitas coisas a afinar atrás. E rapidamente. Primeiro, porque não é habitual na equipa que dirige; depois, porque o calendário reserva-lhe uma visita ao Dragão em breve. Em resumo, voltando ao jogo, a primeira parte foi mais ou menos isto: ora marcas tu, ora marco eu; tu outra vez e agora eu de novo, para irmos os dois levar um puxão de orelhas dos nossos treinadores ao intervalo. Havia notas soltas positivas, apesar de tudo. A promissora articulação Morita e Matheus Nunes (soberbo nos dois golos!) no miolo do Sporting ou o faro de golo que promete fazer de Banza um caso sério, por exemplo. E os quatro golos, claro, porque aselhices defensivas não explicam tudo – que o diga Trincão, épico a desperdiçar uma ocasião ainda antes do descanso... A segunda parte era uma incógnita. Os recados dos técnicos e respetivas alterações deviam ajudar as equipas a atinar.
Mas, as mexidas, sobretudo de Amorim, tornaram as coisas um pouco mais confusas. O Braga, ainda assim, trocou peças sem adulterar a filosofia central de jogo e essa coerência (com Ricardo Horta imune a especulações de mercado) permitiu-lhe crescer um pouco nesseperíodo.Superiorizar-se, até, em alguns momentos, embora, ironicamente, tenha sofrido o tal terceiro golo “fabricado” por Rochinha nessa fase em que tinha, aparentemente, as coisas sob controlo.
A divisão de pontos, num jogo deste nível, não é propriamente um drama, mas é nos arranques que ficam as primeiras impressões. E, louvados sejam os golos, mas elas não foram convincentes.