Será um novo Cavani?
1A novela “Ricardo Horta”, que marcou a silly season deste ano, promete continuar. Alimentada pela “intelligentsia” dominante no espaço mediático (redes sociais incluídas) e alimentada pela vontade de “milhões e milhões de portugueses” – que é como muitos benfiquistas gostam de se intitular -, a narrativa atingiu laivos de realismo mágico, que fariam inveja aos escritores Juan Rulfo ou ao próprio Jorge Luis Borges. Lembrome de ouvir um comentador indignado com a teimosa e incompreensível posição da SAD bracarense de exigir um preço justo pela transferência do jogador, argumentando com os superiores interesses do futebol português. Ouvi atentamente um ilustre e muito conhecido psiquiatra, que, no alto da sua experiência empírica, assegurou que a não transferência de Horta para Lisboa poderia provocar no jogador sérios danos psicológicos. Escutei juristas (diziam-se especialistas) a invocar acórdãos e leis e regulamentos para garantir que o Málaga poderia exigir uma indemnização ao SC Braga se a transferência não se consumasse. O certo é que o jogador jogou na primeira jornada pelo SC Braga. Mas a forma como aplaudiu os adeptos no final foi interpretado como uma despedida. Os telejornais do dia seguinte logo noticiaram a consumação da transferência, detalhando os pormenores do negócio. Nesse mesmo dia, os combustíveis baixaram para níveis anteriores à pandemia e o INE dava a boa notícia que as exportações tinha subido 30%. “Milhões e milhões de portugueses “viram na transferência uma profecia messiânica: “este ano é que vai ser, vamos ganhar tudo e a própria crise económica vai passar
Milhões e milhões de portugueses viram na tranferência uma profecia messiânica. “Este ano vamos ganhar tudo” despercebida”, foi o que sentiram. Mas a meio da semana, Salvador assegurava que nada estava fechado e o jogador continuava em Braga. “Milhões e milhões de portugueses” ficaram atónitos e descarregaram a sua fúria no presidente bracarense. “Anda a brincar com os portugueses”, “depois queixam-se que o futebol português não anda para a frente”, eram os comentários mais lisonjeiros que se podiam ler nas redes sociais. E veio a segunda jornada e o Ricardo Horta alinhou de novo pelo Braga. Incompreensível. Na cabeça dos “milhões e milhões de portugueses” começa a formar-se, de forma ansiosa, uma pergunta: “Será o Ricardo Horta um novo Cavani?”
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Entretanto, no jogo jogado, a equipa tem mostrado uma qualidade indiscutível, com os jogadores perfeitamente adaptados a um 4x4x2 que garante um meio campo absolutamente dominador, face às caraterísticas dos intérpretes. Artur Jorge comunica muito bem, de forma serena e nada pretensiosa, passando para os adeptos a mensagem que “este ano, vão ter que contar connosco”.
Milhões e milhões de portugueses ficaram atónitos e descarregaram a sua fúria no presidente bracarense. “Anda a brincar com os portugueses”