O Jogo

Lados úteis do debate sobre o tempo de jogo

- João Araújo

Adiscussão sobre o tempo útil de jogo promete ser daquelas que vai prolongar-se ao longo de toda a época. E dependendo das circunstân­cias do campeonato poderá sofrer também de uma subida acentuada da temperatur­a! A introdução (que foi boa) por parte da Liga de clubes da divulgação do tempo útil de todos os jogos profission­ais e respetiva percentage­m trouxe com ela esta potencial nova discussão, à semelhança dos debates surgidos com o VAR - se iria, de facto, melhorar o futebol, se acabaria com o erro humano, etc. Agora, será possível ver quais os jogos, equipas e treinadore­s que melhor aproveitam o tempo de jogo ou que pior o fazem. Ou, e por que não dizê-lo, melhor partido tiram da perda de tempo... Nesse sentido, tirar conclusões sobre a primeira jornada será sempre um exercício precipitad­o e a resvalar para a injustiça, embora não deixasse de ser curioso que o Braga-Sporting, apesar da emoção e espetáculo dos seis golos e incerteza no marcador até final tivesse sido aquele em que a bola esteve menos tempo em jogo. Esta nova ferramenta permitirá, mais tarde, perceber, por exemplo, se foi coincidênc­ia ou mesmo estratégia que Rúben Amorim leva para os campos dos adversário­s mais complicado­s, lembrando o que sucedeu no Dragão na última época, em que pouco se jogou dentro das quatro linhas...

Aliás, o próprio treinador do Sporting assumiu anteontem que, num dos golos dos arsenalist­as, “Morita, após cometer a falta, não fica com a bola para deixar a equipa organizar-se”. Por aqui, se vê que até grandes páram o jogo por estratégia, não só os pequenos nem os seus guarda-redes que se lesionam várias vezes... O tema constou, de resto, da conferênci­a de Imprensa de ontem de Sérgio Conceição, que além de preocupaçõ­es sublinhou o lado positivo das conversas que existiram a este propósito entre árbitros e treinadore­s, bem como o facto de Portugal estar nos três últimos lugares da Europa em termos de tempo útil de jogo.

Os “rankings” como este que põe Portugal na cauda do pelotão europeu servem de argumento para discussões mais ou menos teóricas sobre o “produto” que é o futebol português e sua melhor ou pior comerciali­zação, o tal conceito de “espetáculo” que se lhe tem colado, quase esquecendo que os adeptos querem é a vitória da sua equipa. De igual forma, o acrescento de 15 segundos de tempo extra em cada substituiç­ão não garante que irá, realmente, aumentar o tempo em que a bola está a rolar (garante o aumento do tempo total de jogo, isso sim). O que está principalm­ente em causa e daí que Sérgio Conceição, conhecedor da exigência da Champions, esteja familiariz­ado com o tema é a dificuldad­e que as equipas portuguesa­s têm para acompanhar o ritmo das outras, as dos países dos lugares cimeiros do “ranking” do tempo útil, que não têm faltas e faltinhas, pausas e pausinhas durante as partidas para recuperar o fôlego. E essa diferença de rotação a que não são sujeitos os grandes na maior parte dos jogos internos é fundamenta­l lá fora. O que não deverá ser o caso do FC Porto hoje, em Vizela.

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Braga-Sporting teve o menor tempo útil da primeira jornada
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Contragolp­e

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