Como o destino
1O jogo de Leiria, há uma semana atrás, não nos mostrou um Benfica especialmente inspirado, mas teve a enorme utilidade de mostrar a Roger Schmidt a dura realidade da ligazinha onde vai trabalhar nas próximas duas épocas: um jogo entre duas equipas de Lisboa que se joga em Leiria, e não por uma qualquer interdição de um qualquer estádio; um relvado impróprio, sem condições para um jogo de uma competição que se diz (e se quer) profissional; a famosa tática do autocarro, na qual os tão criativos e perspicazes treinadores portugueses são os maiores especialistas ao cimo do planeta; e, por fim, porque é fatal como o destino, uma arbitragem manhosa – e com esta, ao fim de duas jornadas, o Benfica, que cometeu apenas 16 faltas, foi já penalizado com 7 cartões amarelos e um vermelho. Ora isto dá a absurda média de um amarelo a cada duas faltas! (O FC Porto leva 5 amarelos em 26 faltas e Sporting 3 em 32!) Deixovos a pergunta, que, aliás, dispensa resposta: há intensidade, pressão alta ou reação rápida à perda da bola que resista a um amarelo a cada duas faltas? Curiosamente, ou talvez não, nos três jogos europeus que já disputou esta época o Benfica recebeu 1 amarelo… por cada 8 faltas! E ainda há quem se admire de Portugal não ter um único representante entre os 129 profissionais da arbitragem que vão estar presentes no Mundial do Catar. 2 Dificilmente se arranja melhor exemplo de um “ativo humano” tratado como “mercadoria” do que Ricardo Horta. Se não, vejamos: o jogador deseja o Benfica e o Benfica deseja o jogador; o Benfica, como lhe competia, entendeu-se com o Sporting de Braga, clube que detém os direitos desportivos do jogador. Negócio fechado, certo? Não, nem pouco mais ou menos: falta António Salvador e o administrador judicial do Málaga entenderem-se.
Salvador quer receber 15M€ (mais o empréstimo de Gil Dias por uma época) pela suposta terça parte que o Sporting de Braga detém no passe de Ricardo Horta – ou seja, valoriza o jogador em 45M€ quando a cláusula de rescisão é de 30M€ e pagou zero por ele; e o homem que tem por incumbência gerir os ativos da massa falida do Málaga não abdica dos supostos dois terços que o clube detém no passe do jogador quando o “ativo” lhe custou uns míseros duzentos mil euros. E daqui não se saiu até hoje – nem se vê como sair se nenhuma destas duas partes ceder alguma coisa que seja nas suas inconciliáveis exigências.
3Independentemente do resultado, que se quer favorável ao Benfica, estarei terça-feira na Luz para prestar a minha singela homenagem a uma equipa que é vítima de uma guerra sem sentido e que com tanta galhardia e dignidade se tem batido nesta fase da competição. E se António Salvador e o gestor do Málaga, que tudo querem, atentassem no exemplo destes jovens ucranianos, que nada têm?
E se Salvador atentasse no exemplo destes ucranianos?